O comercial da televisão pode até dizer que tudo logo vai passar e voltar ao normal. Mas como será esse “normal” é a questão. Certamente será diferente em muitos aspectos do que vivenciamos até aqui. Muitas empresas e profissionais já estão pensando em como transformar hábitos antigos de consumo e serviços para melhor receber consumidores e clientes quanto tudo “passar”. E o setor de beleza, perfumaria e skincare é um deles.
Lembra como você escolhia um batom? Pegava-se um batom-teste, experimentava-se no dorso da mão. E um hidratante? Abria-se o pote do hidratante-teste, passava-se a ponta do dedo com um pouco do creme e espalhava nas mãos. E o perfume? A vendedora borrifava num pedaço de papel para você cheirar, mas muitas vezes você testava no próprio punho. Na maioria das marcas e lojas do Brasil, esta era a maneira de avaliar o cheiro, a cor e a textura de um produto de beleza. Já pensou em como você vai comprar daqui para frente?
Com a necessidade de serem ainda mais rigorosos com a higiene em função do coronavírus, grandes lojas e marcas estão começando a rever alguns procedimentos até então “normais”. Para entender melhor as mudanças que deveremos viver, conversei, sem conflito de interesses, com a Sissi Freeman, diretora de marketing e vendas da Granado. Ela acredita que os consumidores terão receio inicialmente de passar muito tempo dentro das lojas. Por isso, estão planejando como simplificar a exibição de produtos e reduzir o manuseio para facilitar o processo de compra.
Uma das soluções que já existem no setor de beleza e skincare, mas agora provavelmente será ainda praticada, é a distribuição de amostras grátis de dose única para serem usadas na loja, evitando que diferentes consumidores toquem num mesmo produto-teste. “As amostras grátis são ferramentas excelentes para gerar experimentação, principalmente na categoria de perfumaria e acredito que serão cada vez mais importantes e decisivas”, avalia Sissi.
Não se tem ainda ideia de quando as lojas físicas do setor de beleza, perfumaria e skincare vão reabrir no Brasil. No caso da Granado, contará a experiência e as lições da reabertura de sua loja em Paris, na França, esta semana. “Percebemos lá que os clientes estão interagindo mais e fazendo mais perguntas sobre os produtos aos colaboradores para evitar ficar tocando nos produtos”, conta Sissi, que registrou que a Granado no Brasil está vendendo 10 vezes mais em seu site em termos de volume e valor durante a pandemia.
As lojas da marca terão limite de pessoas e marcação no chão para indicar espaçamento nas filas. Ações semelhantes vão ocorrer nas clínicas de dermatologia, por exemplo, com horários mais espaçados entre os pacientes e cuidados ainda mais rigorosos de higienização, como fornecer máscara descartável, touca e álcool gel aos pacientes.
Escrevo ainda mais rigorosos, porque muitos consultórios e clínicas, como a minha, já praticam procedimentos como limpeza de equipamentos e mesa de atendimento com álcool 70, uso de pro-pé (proteção de sapatos), lavagem das mãos de modo adequado entre um paciente e outro e uso de luvas, máscara e óculos pelo médico. Confiança e Segurança são conceitos ainda mais essenciais a partir de agora. Por isso, em função da pandemia, mesmo com todos os cuidados que já tomávamos, estamos reforçando ainda mais a higiene na minha clínica. Se o paciente precisa de nós, médicos, devemos e podemos oferecer a ele o máximo de proteção.
Quando chegam, os pacientes recebem o pro-pé, são encaminhamos imediatamente ao toalete para lavagem das mãos e colocação de touca e troca de sua máscara por uma descartável. Posteriormente, são encaminhamos diretamente para sala de atendimento ou procedimento. Antes de saírem, nós o orientamos novamente a usar o álcool gel nas mãos e creme hidratante logo após. E se ele veio de carro e deixou estacionado no rotativo com o manobrista, oferecemos luvas para evitarem o contato com o volante.
Estas são algumas das ideias e ações que mudarão a nossa maneira de consumir itens e experimentar procedimentos de beleza. Quando uso as aspas para dizer que “vai passar” e voltaremos ao “normal” é porque dificilmente teremos uma solução de larga escala no combate à Covid-19 no curto prazo. Provavelmente ainda vai demorar um pouco para termos uma vacina e para que ela chegue a todos. Portanto, temos que repensar nosso modo de trabalhar e de consumir, em prol da saúde de todos.