A harmonização facial tem sido uma das expressões mais usadas recentemente no marketing de procedimentos estéticos. Trata-se de um conjunto de tratamentos para transformar características físicas do rosto com o intuito de torná-lo mais proporcional e, teoricamente, harmônico. Como nunca gostei muito desta expressão, porque dá a entender que a paciente não é harmônica, minha provocação, então, é: desarmonize-se! Busque sua melhor versão, mas não mude. É quase sempre no imperfeito que está a graça.
Nos últimos anos, este conceito de harmonização facial, na prática, tem se mostrado muito mais uma espécie de “hegemonização facial”. Nas ruas, nas revistas e na TV, temos visto pessoas, que muitas vezes eram lindas e tão únicas, ficarem com dentes iguais, sobrancelhas iguais, bocas iguais, maxilares iguais, mandíbulas iguais.
Exatamente porque somos tão diferentes uns dos outros é que devemos exaltar nossas características, e não escondê-las para ficar com o rosto da moda. Isso não quer dizer que não se deva fazer procedimentos – ao contrário. São muitos os tratamentos atualmente que melhoram a pele, suavizam linhas e rugas e previnem a ação do tempo. Mas respeitar a individualidade e a genética é fundamental.
Envelhecer é um processo natural. Mas é na medicina antiaging que se encontra a chave do processo de envelhecer “bem”. Praticada apenas por médicos, ela prevê uma análise completa do paciente, um acompanhamento constante que é fundamental num tratamento personalizado e global para cada fase. Além disso, por considerar a prevenção essencial, propõe que devemos começar aos 30 anos os cuidados com a pele, incluindo suplementação oral, pequenas correções quando necessárias e uma rotina de cuidados que deve seguir por toda a vida.
O melhor exemplo público disso é a atriz Renée Zellweger. Em 2014, ela apareceu numa premiação com o rosto completamente modificado. Seus olhos, que são mais fechadinhos, estavam mais abertos. A boca, que é normal, estava mais grossa. De tão diferente, ela chamou a atenção e foi cruelmente criticada – embora ninguém tenha nada a ver com isso.
Mas, agora, no Oscar 2020, seis anos depois, Renée ressurgiu mais jovem, bonita e natural do que nunca. Aos 50 anos, ela subiu ao palco para receber a estatueta de Melhor Atriz por “Judy” com uma maquiagem suave e com algumas rugas e linhas de expressão. Seus olhos estavam novamente fechadinhos, um charme só dela, a boca mais fina, as bochechas menos proeminentes e uma sobrancelha lindamente delineada. Um rosto e uma pele bem cuidados, com procedimentos estéticos, sim, mas que respeitam seus pontos fortes e únicos.
Essa volta à beleza natural, depois de um boom de exageros estéticos, parece ser uma nova tendência. E esse Oscar mostrou bem isso. Homens e mulheres “naturalmente” lindos – inclusive nas roupas. Estavam todas as atrizes, de modo geral, com menos joias e vestidos mais discretos.
A maquiagem na medida certa, o cuidado com cabelo, sobrancelha e pele de maneira a manter suas características próprias e, por que não?, da idade, fizeram com que Renée fosse uma das mais bonitas, elegantes e até harmônicas do Oscar – e olha que beleza não falta no tapete vermelho.
Daniela Alvarenga é dermatologista.