Rio de Janeiro e suor são dois elementos que andam juntos principalmente no verão. Quem vive aqui sabe bem que não dá para fugir. Transpirar é uma condição normal e serve para manutenção da temperatura corporal. É natural suar quando praticamos exercícios, quando estamos sob o sol ou em situações que nos deixam nervosos, envergonhados ou até com medo. A apresentadora Mariana Goldfarb puxou o assunto nas redes sociais, mostrando as famosas “pizzas” nas axilas numa camisa de cor clara após terminar uma live. “Eu fico suada de nervoso”, contou ela, dividindo algo muito comum que as pessoas costumam esconder.
Suar é absolutamente normal, mas para algumas pessoas a transpiração pode ser excessiva a tal ponto que até em repouso chegam a suar bastante. E aí que precisamos avaliar se o quadro é clínico. Já ouviu falar em hiperidrose? Ela ocorre quando há sudorese mesmo sem a presença dos fatores normais que nos levam a suar porque as glândulas sudoríparas dos pacientes são hiperfuncionantes.
Há diferentes causas para a hiperidrose, desde fatores emocionais, à influência genética ou de doenças associadas e até menopausa. Ela pode ser observada em diferentes regiões do corpo, como cabeça, planta dos pés e virilha – e não somente os locais mais comuns, como axilas, rosto e palmas das mãos.
Embora possa parecer um tabu mostrar e falar sobre suor, ele está associado muitas vezes a momentos de prazer, como durante a pós atividade física e sexo. No entanto, no caso de um quadro de sudorese, a transpiração excessiva pode ser tornar uma questão embaraçosa, desconfortável e que provoca ansiedade e pode até afetar autoimagem e se tornar incapacitante, afetando diversos aspectos da vida pessoal e profissional. Muitos executivos que sofrem da doença evitam até tirar o paletó em reuniões, por ficarem constrangidos com a camisa suada e com “pizzas”.
Existem dois tipos de hiperidrose: a primária focal, que surge na infância ou adolescência e não provoca suor em repouso; e a secundária generalizada, causada por uma condição médica ou pelo efeito colateral de uma medicação. As pessoas que sofrem com a secundária, que costuma surgir na fase adulta, suam em todas as áreas do corpo ou em regiões incomuns e podem transpirar excessivamente também durante a noite, enquanto dormem.
O tratamento deve ser feito a partir do resultado de testes para detectar áreas específicas da hiperidrose. Existem dois tipos de testes. Um é o de amidoiodo, que consiste em aplicar uma solução de iodo na área suada e, após a secagem, o amido é aspergido sobre a zona. O outro é feito com um papel de teste especial colocado sobre a área afetada para absorver o suor e que depois é pesado para observação do suor que se acumulou.
Depois de determinar o tipo, a causa e a intensidade da hiperidrose, é hora de traçar qual estratégia seguir. Um dos tratamentos mais eficientes é feito com a aplicação de toxina botulínica tipo A, que pode ser injetada na axila, nas mãos ou nos pés para bloquear temporariamente a sudorese. Ela atua na inibição da ação da acetilcolina, um neurotransmissor que regula as glândulas produtoras do suor. É uma maneira simples e muito eficiente de reduzir e até zerar o suor nas axilas. O efeito dura de seis a nove meses. E para os que tem “medo” das agulhas, que não são poucos, aqui vai uma boa notícia: já conseguimos aplicar o produto através de uma tecnologia de jato de alta pressão.
O tratamento com toxina botulínica hoje tem adesão de pessoas que não necessariamente sofrem de hiperidrose e que se incomodam com as tais “pizzas” sob as axilas. Alguns atores, como Malvino Salvador, Juliana Paes, Fernanda Souza e Agatha Moreira, aderiram ao tratamento por ficarem horas a fio sob os holofotes durante as gravações. Em agosto, a atriz Isabella Scherer, adepta do tratamento há 4 anos, comentou com seus seguidores do Instagram sobre o tratamentos: “Foi uma decisão que eu tomei para o resto da minha vida. Unidos do botox na axila é a minha religião. Meu suor sempre foi muito concentrado na axila. Isso sempre me incomodou muito. Era algo que me incomodava horrores. Quando eu descobri o botox, foi a melhor coisa para mim”.
Há medicamentos com anticolinérgicas que também ajudam a impedir a estimulação das glândulas sudoríparas, mas que têm ainda alguns efeitos colaterais inconvenientes como boca seca, tonturas e problemas com a micção. Quando o suor excessivo está relacionado ao estresse, pode-se associar com o uso de betabloqueadores ou benzodiazepínicos.
Outro procedimento clínico utilizado é a Iontoforese, que usa eletricidade para “desligar” temporariamente a glândula do suor. Eficaz para a transpiração das mãos e dos pés, ele requer muita sessões para atingir resultado satisfatório. Nos casos realmente graves, pode-se recomendar uma cirurgia de simpatectomia torácica endoscópica (STE), que desliga o sinal que avisa ao corpo para suar excessivamente.
Eu sempre digo que não existe milagre, mas nesse caso, o tratamento é praticamente um.