Bruno Rezende honra a regência no sangue. Maestro da seleção há uma década, campeão olímpico em 2016, o levantador de 36 anos orquestra delícias domésticas e estrangeiras. Na província italiana de Modena, berço do vinagre balsâmico e de um divino tortellini, o craque concilia a maratona de treinos e jogos com maravilhas que encantam o paladar e inspiram o pé no mercado gastronômico. Em Paris, talvez sua última Olimpíada, projeta o desejo de (mais) um pódio consagrador. Já no Rio, sua alma solar espreguiça. A praia, o Baixo Gávea, os sabores compartilhados com família e amigos renovam a alegria de ser quem é.
Bruninho conta, num papo por vídeo, como equilibra prazeres e aspirações em torno dessas três cidades. E revela perspectivas sobre o vôlei brasileiro; a provável volta ao Brasil, em 2024; o investimento num restaurante carioca, decolagem para novos rumos profissionais:
– Depois de tantas temporadas no vôlei italiano, quatro delas no Modena, você ainda preserva uma relação forte com o Rio?
– Claro, sou muito carioca. O Rio é minha casa, onde estou perto da família do meu pai (Bernardinho), dos meus amigos, da praia. Quando jogava no RJX (2012/13), saía do treino, na Lagoa, por volta das 18h, e mergulhava no mar. Na Itália, jogando no Modena ou, antes, no Civitanova, carrego comigo essa coisa solar do Rio.
– Onde brilha mais forte essa alma solar por aqui? O que mais você curte no Rio?
– A energia e o jeito despojado. A liberdade de andar pela praia, de encontrar informalmente os amigos, de tomar café de chinelo na padaria, coisas assim. Além disso, o Rio reúne programas para a curtição e para momentos de tranquilidade, como caminhar por Ipanema. Também me identifico muito com traços da Itália.
– Quais?
– Moda e culinária. Adoro o jeito despojado de nós cariocas, mas também gosto de me vestir bem, sem excesso. É um padrão italiano.
– E na culinária, que influências o conquistaram?
– No Brasil, sou fã de churrasco. Na Itália, curto uma boa massa com um vinho na região. Aqui na Itália, cada região tem suas delícias. Em Modena, eu adoro, sobretudo, duas especialidades locais: o queijo parmigiano reggiano e o tortellini. Prefiro o tortellini de zucca (abóbora), sensacional.
– Haja treino para queimar essas maravilhosas calorias…
– Ah, verdade… É preciso equilíbrio. Procuro conciliar a vida de atleta com a oportunidade de experimentar esses sabores. A rotina de treinos e jogos é intensa, com raras folgas. Disputamos o campeonato italiano e a liga europeia.
– Mesmo com a maratona de treinos e jogos inevitável a um jogador do seu nível, a carreira de empresário já desponta. O gosto pela boa mesa, aguçado na Itália, se desdobra no investimento em um restaurante carioca. Como anda esta empreitada?
– Sempre frequentei bons restaurantes com o meu pai. Há cinco anos decidi unir o útil ao agradável e investir no Posi Mozza e Mare, em Ipanema. Depois da pandemia, voltou a correr tudo bem. Vamos lançar, em abril, novidades no cardápio.
– O mercado gastronômico é o seu destino depois das quadras?
– Creio que é uma das alternativas profissionais depois que me aposentar no vôlei. Mas tenho contrato com o Modena até 2024. E penso em voltar a jogar pelo menos mais uma temporada no Brasil, num projeto bacana, me beneficiando da posição (levantador), digamos, mais longeva.
– Antes disso, você encara sua quinta Olimpíada. Depois das pratas em Pequim 2008 e Londres 2012 e do ouro na Rio 2016, qual a expectativa para os Jogos de Paris, no próximo ano?
– Paris é um grande sonho. Estamos com foco total nesta Olimpíada, talvez a minha última. O vôlei brasileiro atrai muita expectativa. Temos um grupo que mescla juventude e experiência, uma combinação animadora. Ficamos engasgados com a derrota na semifinal dos Jogos de Tóquio (2021). Vamos atrás do pódio em Paris 2024. Antes precisamos nos concentrar no pré-olímpico, em outubro.
– A concorrência ao pódio olímpico está mais acirrada, não?
– Sim, temos hoje um grande equilíbrio no vôlei mundial, com várias seleções jogando em alto nível. Não há mais uma hegemonia, como a do Brasil e da Itália.
– Falando ainda em seleção, você tem exercido, por uma década, uma liderança técnica e emocional decisiva. Aos 36 anos, construir a sucessão se torna estratégico. Como anda este processo?
– Ele caminha de uma forma natural. O Cachopa é o iminente sucessor. Tanto pelas condições técnicas, esportivas, quanto pela inteligência emocional que a função exige.
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Alexandre Carauta é professor da PUC-Rio, doutor em Comunicação, mestre em Gestão Empresarial, pós-graduado em Administração Esportiva, formado também em Educação Física. Organizador do livro “Comunicação estratégica no esporte”.