Todo boleiro sabe: quem reclama muito joga pouco. Fiel à máxima das peladas, o Brasil nunca reclamou tanto e jogou tão pouco.
Criticar é da natureza humana, só os monges tibetanos se abstêm. Assim refletimos, corrigimos, amadurecemos, assim denunciamos injustiças, desigualdades, desumanidades, assim confrontamos os horrores fabricados pela falta de empatia, transigência, coração.
Já a crítica compulsiva, desmedida e superficial transita na contramão. Dissolve-se na espuma da banalidade, vira meme. Não sem antes desvirtuar ou desperdiçar o debate construtivo.
A cada rodada, nosso futebol reclama mais e mais. Reclama de quase tudo, quase o tempo todo, em todo lugar: no campo, à beira dele, nos gabinetes. Transforma-se numa rinha de brados cegos.
Reclama-se obstinadamente do regulamento, da grama, do adversário, do resultado, do lugar no estádio, do cartola rival, da bola. Reclama-se, claro, do juiz e do seu novo escudeiro eletrônico. Nem o hino nacional e o pipoqueiro escapam.
A epidemia alastra-se igual nuvem radioativa. Contamina inclusive os comportados de alma beata e os estrangeiros polidos. Os craques Payet, do Vasco, e Arias, do Flu, por exemplo, entraram na dança.
Alheios às suas funções e representações, atletas, técnicos e dirigentes perdem a linha. Surtam mais do que os torcedores, culturalmente inclinados ao ataque de nervos.
Amplificadas pelas redes, as broncas concentram-se, óbvio, no árbitro. O VAR não o livra da costumeira berlinda, tampouco o imuniza das trapalhadas e dos erros sistemáticos, alguns deles crassos.
A solução para a arbitragem debilitada passa ao largo do destempero. O antídoto é comum a qualquer área profissional: qualificar e remunerar bem a mão de obra, uma coisa ligada à outra.
Reclamações compulsórias e excessivas, desprovidas de fundamento, de equilíbrio, dificultam a saída e pioram a emenda. Assaltam a civilidade e a construção de consensos. Desbotam as partidas.
A naturalização dos exageros faz mal ao esporte, aos negócios, à saúde. Revela-se triplamente nociva. Atrapalha o jogo, mutila sua dinâmica, sua beleza. Produz a ilusão da vitória no grito, tão efêmera quanto errática. E confunde competitividade com renúncia à gentileza.
O mundo da bola incorpora-se, assim, aos retrocessos civilizatórios. Está na hora de as autoridades do setor frearem as botinas da chiadeira sobre os canteiros esportivos, econômicos, éticos.
Está na hora de um pacto pela educação. Talvez exija punições severas às reclamações desaforadas e repetitivas, como esboça o especulado cartão azul: suspenderia por dez minutos atletas que cometessem deslizes antidesportivos.
A urgência em estancar esse vício verborrágico não ameaça o direito universal à liberdade de expressão. Também não busca aproximar os gramados de um convento, e sim libertá-los da truculência.
Convém seguir a sabedoria dos peladeiros: reclamar menos e jogar mais. Deixar o enxame de cornetadas para a arquibancada.
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Iniciação esportiva e ecológica
O Container do Esporte chega a Petrópolis. Crianças entre 6 e 12 anos terão aulas gratuitas de vôlei, handebol, tênis, badminton e atletismo ao longo dos três próximos meses, no Parque Municipal Prefeito Rattes, em Itaipava. As atividades vão começar na próxima segunda (26), conduzidas por profissionais e estudantes de educação física da região capacitados pelo próprio programa. (Inscrições na Secretaria de Esportes, Promoção da Saúde, Juventude, Idoso e Lazer: Rua 18 de Março 183, no centro Petrópolis)
Idealizada e empreendida pelo Instituto para o Desenvolvimento do Esporte e da Cultura (IDEC), com patrocínio da Enel, via lei estadual de incentivo ao esporte, e parceria da prefeitura de Petrópolis, a iniciativa itinerante conjuga formação esportiva, saúde e sustentabilidade. “Prevalece um viés transformador: aposta-se no esporte como fonte de saúde e de práticas sustentáveis”, ressalta a coordenadora do IDEC, Leny Figueiredo.
Às atividades esportivas, somam-se aulas sobre energia limpa e sobre plantio, nas quais os alunos montam uma parede verde legada a cada município por onde passa o programa. O Conteiner do Esporte funciona com captação de energia eólica e solar.
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Alexandre Carauta é jornalista e professor da PUC-Rio, integrante do corpo docente da pós em Direito Desportivo da PUC-Rio. Doutor em Comunicação, mestre em Gestão Empresarial, pós-graduado em Administração Esportiva, formado também em Educação Física. Organizador do livro “Comunicação estratégica no esporte”.