Os 40 mil inscritos na Maratona do Rio, maior festival de corridas de rua latino-americano, retratam o salto da atividade. Mas o pulo do gato transcende a multiplicação de praticantes e de competições movida pela adesão crescente de mulheres e pela valorização dos exercícios ao ar livre depois da asfixiante pandemia. “A corrida se populariza à medida que se torna um estilo de vida, ligado a bem-estar, inclusão, descontração. Esse estilo de vida alinha-se ao espírito carioca e une corredores, acompanhantes, famílias”, destaca Jued Andari, diretor do cluster de esporte da Dream Factory, organizadora da maratona.
Programada para o feriado de Corpus Christi, entre 8 e 11 de junho, a 21ª edição reúne provas de 5km, 10km, 21km, 42km, fora o Desafio: os mais empolgados, e preparados, podem correr 21 quilômetros no sábado (10) e 42 no dia seguinte. Ao cardápio de transpiração, somam-se o repertório de shows, recreações, bares concentrados na Marina da Glória e a exposição Maratona com Arte: esculturas em formato de tênis. “Um casamento entre adrenalina e festividade”, resume Andari.
Com seis meias maratonas na bagagem e um apetite constante para devorar transmissões esportivas, ele conta, num papo por vídeo, que a conjugação de provas e programas musicais, recreativos, artísticos busca contemplar um público progressivamente diverso, e ajuda a consolidar a corrida de rua como cultura. “Forma-se um ecossistema lúdico favorável ao esporte, à diversidade, ao mercado. Isso é potencializado pelas belezas naturais e socioculturais do Rio”, destaca.
Essa combinação, projeta o executivo, vai intensificar a programação de grandes encontros esportivos na cidade. (A agenda é incrementada com o torneio mundial de skate na praia Red Bull Rio Conquest, dias 27 e 28 de maio, na enseada de Botafogo; e com o Red Bull BC One, maior campeonato de breaking do mundo, cuja seletiva carioca está marcada para 8 de julho. Leia a nota depois da entrevista com Jued Andari.)
A conjugação de provas e atividades culturais na 21ª Maratona do Rio expressa a valorização das atividades ao ar livre pós-pandemia?
Jued Andari: Isso mesmo. Havia uma crença forte de que, passado o sufoco da pandemia, as pessoas voltariam para rua. A expansão da Maratona do Rio, como festival corridas, cultura, confraternização, vai ao encontro desta demanda crescente. Nada melhor do que o Rio, com seus cenários, sua atmosfera, para celebrar a retomada da vida. Um grande casamento entre adrenalina, cultura, festividade.
Por isso o tema é “Maravilhosa a cada Km”?
Exatamente. O Rio é uma cidade tremendamente inspiradora. Os percursos foram pensados para os participantes vivenciarem belezas como a orla, o Centro Histórico, o Aterro (chegada de todas as provas). Os shows e espaços de confraternização do Village, na Marina da Glória, também potencializam os encontros com delícias do Rio. Eles reúnem não só corredores, mas acompanhantes, famílias, pessoas atraídas por esse estilo de vida tipicamente carioca, ligado a saúde, leveza, inclusão, sustentabilidade.
A corrida de rua consolida-se como uma cultura e um estilo de vida aos quais marcas de vários segmentos buscam se associar?
Cada vez mais marcas como Adidas e Michelob, parceiras da Maratona, aproximam-se do público por meio de experiências pelas quais ele possa ativar essa cultura, esse estilo de vida. Tudo isso forma um ecossistema potente para falar com o público. A Michelob, por exemplo, oferece espaços de massagem, descanso, música, cerveja. Assim a vivência esportiva se expande e se consolida como cultura.
O repertório esportivo, recreativo, cultural reflete a diversidade crescente do público?
Uma coisa reflete a outra. Embora o ponto central continue sendo a maratona, a diversidade crescente do público é acompanhada de um cardápio plural e inclusivo de provas, entre cinco e 42 quilômetros, de maneira a abrigar os diferentes interesses, estilos, condicionamentos.
A adesão progressiva de mulheres à corrida de rua seria o grande combustível para a expansão esportiva e cultural de iniciativas como a Maratona do Rio?
É um dos grandes combustíveis materiais e simbólicos. As marcas buscam se aproximar do público feminino, de seus valores, seu empoderamento. Hoje a maratona a mesma proporção de homens e mulheres. Além disso, a premiação é 100% igualitária.
Voltando à correspondência entre a pluralidade de corredores e o cardápio de provas, o Desafio – possibilidade de correr a meia maratona no sábado (10/6) e a maratona no dia seguinte – aguça o apetite dos corredores de ponta?
A combinação se volta aos que buscam justamente experiências mais desafiadoras. O importante é reunir opções diversas, que acolham do iniciante ao atleta de alto rendimento atrás de novas superações. Opções que acolham também famílias, acompanhantes, simpatizantes.
Qual a estimativa de público?
A Maratona do Rio costuma congregar 40 mil inscritos. A gente imagina o dobro de pessoas circulando pelos espaços do evento, como a casa oficial e o Village instalados na Marina, com lojas, bares, shows. Tanto corredores quanto acompanhantes são impactados por vivências que envolvem desde a distribuição de brindes até atividades recreativas e culturais, como a Maratona com Arte, da qual faz parte a Maratona Parade. Inspirada no Cow Parade, ela reúne seis instalações, de artistas brasileiros e internacionais, com esculturas, pintadas em grafite, no formato de tênis de corrida gigante.
Abstraída a importância socioeconômica dessas atividades, sem as quais a corrida de rua não se tornaria um fenômeno cultural e uma indústria bilionária, como a Maratona do Rio abraça as aspirações propriamente esportivas?
Além da maior premiação, equivalente para homens e mulheres, buscamos propiciar uma jornada esportiva e social caprichada. Isso envolve da feira de expositores, com produtos e tendências de mercado, aos percursos variados. Temos ainda, neste ano, a novidade do Jantar de Massa, que vai reunir, no Rio Scenarium, na Lapa, 1.500 participantes nos dois dias antes da maratona.
A maratona carioca ruma ao grupo das mais prestigiadas, como de Berlim e de Boston?
Acredito, sem exagero, que a Maratona do Rio caminha neste sentido, aproximando-se, por vários aspectos, do grupo formado pelas seis provas icônicas, fontes de inspiração, em Berlim, Boston, Chicago, Londres, Nova York e Tóquio.
Como essas competições consagradas inspiram a Maratona do Rio?
Elas dão um banho de organização, logística, engenharia, competências técnicas. Tudo é minuciosamente planejado e executado, até em função dos aprendizados acumulados por décadas. Outro aspecto invejável é o envolvimento articulado entre o poder público, a iniciativa privada e a sociedade civil. Todos jogam junto. Por outro lado, essas provas conservam uma visão prussiana, centrada na corrida, enquanto no Brasil o público quer experiências além do esporte, quer interagir. Nisso, a gente está à frente.
Essas virtudes socioculturais e geográficas tendem a firmar o Rio como polo de grandes encontros esportivos?
Sim, é um caminho sem volta. O Rio se expande como cluster de esportes. Não só pelas belezas naturais. Não só pela mão de obra qualificada para grandes eventos. Mas também pelo estilo de vida convidativo, pela atmosfera cultural, pelo acolhimento às atividades esportivas e sociais. O carioca povoa a rua com muita naturalidade. Quando isso se junta ao apoio público e privado, temos um tripé perfeito, um ambiente propício aos negócios.
Diante dos ventos favoráveis, que novidade por aí?
Os treinões entram definitivamente na agenda da Maratona e de seus apoiadores. E teremos, também neste ano, a Maratoninha do Rio, com 7 mil participantes, no dia 12 de outubro.
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Na cadência do breaking
Impulsionado também pela rima entre esporte e cultura, o breaking incrementa a agenda de grandes encontros esportivos no Rio. A seletiva carioca do Red Bull BC One, principal campeonato da modalidade, será disputada em 8 de julho (inscrições abertas desde a quarta-feira passada).
A programação inclui uma oficina com o B-Boy Lil Zoo. O marroquino integra o time de jurados, ao lado dos breakers Thaisinha e Mixa.
Os vencedores das etapas do Rio, Belém, Brasília e de São Paulo encaram a finalíssima nacional, dia 22 de julho, na capital paulista. Suculento aperitivo para a estreia olímpica do breaking, daqui a aproximadamente um ano, nos Jogos de Paris.
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Alexandre Carauta é professor da PUC-Rio, doutor em Comunicação, mestre em Gestão Empresarial, pós-graduado em Administração Esportiva, formado também em Educação Física. Organizador do livro “Comunicação estratégica no esporte”.