O choro de Luighi soluça a urgência de um efetivo mutirão antirracista
Recorrência de ataques como o sofrido pelo jovem atacante exige punições mais rigorosas e uma cruzada humanitária multilateral

A indústria esportiva ladra mas não morde o racismo recorrente. Pouco faz além do repúdio protocolar e de paliativos rasos.
A complacência estende-se à recente humilhação infligida a dois atletas palmeirenses na Libertadores Sub-20. O pano sobre as agressões cuspidas por torcedores do Cerro Porteño indica que dirigentes as confundem com a picardia da arquibancada.
O equívoco seria evitado se prestassem atenção à lucidez indignada do atacante Luighi, de 18 anos. Seu choro soluçou: “Até quando? Ninguém vai fazer nada? Isso aqui é formação”, inconformava-se a vítima, referindo-se à natureza pedagógica do torneio.
O apelo ganhou reforço institucional. Palmeiras e CBF cobraram da Confederação Sul-Americana um castigo severo. Tiveram de se contentar com a multa de 50 mil dólares aplicada no clube paraguaio. Saiu muito barato.
O caso expõe uma latente tolerância a ofensas deste tipo. Competições continentais registraram 20 delas no ano passado, contabiliza o Observatório da Discriminação Racial no Futebol. Dificilmente recuarão sem o endurecimento das punições.
A virada exige sanções esportivas – e consequentemente econômicas – proporcionais às violências perpetradas. Resistem ancoradas em preconceitos estruturais.
A cartilha da Fifa para combatê-las cumpre tabela. Prevê, no máximo, a derrota imposta ao time dos infratores.
A dona do futebol promete empenhar-se para a criminalização dos insultos nos 211 países filiados. É pouco.
Advertências, multas de praxe e perdas modestas de pontos revelam-se insuficientes para conter discriminações encorajadas pela permanência da mentalidade escravocrata e pela marcha extremista mundo afora. O desafio impõe remédios drásticos.
Não seria exagero punir com rebaixamento e suspensão clubes cujos torcedores reincidem em ataques racistas. A genética carnavalesca do estádio não lhes concede anistia, tampouco configura uma licença para admiti-los.
A responsabilidade envolve também patrocinadores. Deles espera-se algo como condicionar a grana ao comportamento civilizado de torcida, gestores, jogadores, técnicos.
O rigor punitivo não diminui a importância de campanhas educativas e humanitárias. Pesa sobre o planeta a urgência de uma cruzada multilateral em defesa da igualdade, da empatia, do respeito sagrado às diferenças. Um crucial mutirão que revigore a cordialidade, a transigência, a sensatez.
O choro de Luighi clama essa urgência. Aquele choro é de todos.
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Majestade feminina
Copacabana coroa, domingo agora, 16 de março, duas mil participantes do Rainha do Mar 2025. A partir das seis da matina, atletas amadoras e profissionais disputam, nessa quarta edição, provas de corrida e natação.
As corredoras encaram duas opções na areia: 2,5 km e 5 km. Já no Beach Biathlon as competidoras nadam um quilômetro e, em seguida, correm dois quilômetros.
O mar traz quatro alternativas: Open (500 metros, a partir de 11 anos), Sprint (1 km, a partir de 14 anos), Classic (2 km, a partir de 14 anos) e Challenge (4 km, a partir de 14 anos). A campeã e a vice da Sprint integram-se ao Elite, disputa da qual participam as campeãs olímpicas de maratona aquática Sharon van Rouwendaal, da Holanda, e Ana Marcela Cunha, vencedora do Rainha do Mar no ano passado.
Heptacampeã mundial, Ana Marcela reforça a equipe de natação do Sesc RJ, ao lado de Maria Paula Heitmann e Guilherme Costa, o Cachorrão. À busca por pódios, eles somam compromissos de embaixadores: incentivam crianças e adolescentes à prática esportiva.
Valorizada por marcas de diversos setores, a rima entre esporte, inclusão e integração social também embala o encontro de nadadoras e corredoras,, no próximo domingo. em Copa (altura do Posto 5). A iniciativa consolida-se no cardápio de competições do Rei e Rainha do Mar, criadas e produzidas, há 15 anos, pela agência Effect Sport.
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Alexandre Carauta é jornalista e professor da PUC-Rio, integrante do corpo docente da pós em Direito Desportivo da PUC-Rio. Doutor em Comunicação, mestre em Gestão Empresarial, pós-graduado em Administração Esportiva, formado também em Educação Física. Organizador do livro “Comunicação estratégica no esporte”.