Nenhuma estação deixa o Rio tão lindo quanto o outono. Sua luz realça a rima entre o morro, a floresta, o mar. A dionisíaca praia de verão resplandece suave no outono. Resplandece esperança.
Corridinha, surfe, kitesurfe, stand up, frescobol, vôlei, altinha, beach tênis, beach boxing, futevôlei, futmesa. Sem contar o jacaré e o golzinho pequeno, glória do par de chinelos. Velhos e novos esportes praianos lubrificam as artérias cariocas ressecadas pela crise.
O sol de outono conduz o reencontro com a atividade física, determinante ao bem-estar. A praia anda sortida de movimento. Respiro às asfixias pandêmicas. Grito de resistência.
Respeitados os cuidados sanitários, a praia em movimento insinua-se uma desintoxicação às sequelas físicas e mentais da pandemia. Um remédio contra o sedentarismo, a obesidade, a ansiedade e tantos outros estragos na saúde produzidos pela guerra ao vírus.
Essencial à prevenção de doenças, a prática esportiva – adequadamente orientada – pode ajudar também na recuperação da Covid, cujos impactos pulmonares, cardíacos e neurológicos ainda são mapeados pela comunidade científica. A tarefa conjuga empenhos crescentes da medicina, fisioterapia, educação física, nutrição.
Fica mais difícil retomar a vida saudável longe de uma rotina esportiva. O hábito precisa ser estimulado e provido com ênfase pelo poder público, principalmente à população pobre e desassistida. Principalmente nessa reconstrução do amanhã.
Seriam mais que desejáveis iniciativas e políticas públicas para potencializar o esporte como aliado na oxigenação do cotidiano. Universidades, empresas e associações comunitárias integrariam os esforços comprometidos em melhorar a vida abalada pela pandemia e reduzir a desigualdade social na saúde.
A praia afina-se com essa partitura. Pela natureza democrática. Pelo banquete de modalidades esportivas, sejam originais ou adaptadas, a maioria de custo relativamente baixo. Pelo entrelace com a cultura carioca. Pelo sol, sinônimo também de vitamina D. Pela brisa. Pela beleza que se renova sob o banho de outono.
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Craque da resenha
O minuto de silêncio merecia um Fla-Flu com mais futebol e menos grosseria. Ângela do Rego Monteiro, a homenageada, batia um bolão nas resenhas. Falava de moda, política, música, cultura e, claro, do amado Fluminense. Irreverência e elegância jogavam junto.
Alegria das redações, dos cafés, das salas de aulas, a jornalista e professora cultivava uma prosa irresistível. Logo virava amiga de infância. “Um papo sempre ótimo. Não dava vontade de sair de perto”, resume o rubro-negro Célio Campos, professor da PUC.
Ângela morreu na última quinta, aos 78 anos, por complicações pulmonares decorrentes de um tombo. Irradiava afeto, empatia, cordialidade. Exemplo oportuno a esses tempos ásperos. Talvez o Fla-Flu do próximo sábado honre melhor a homenageada.
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Alexandre Carauta é doutor em Comunicação, mestre em Gestão Empresarial, especialista em Administração Esportiva, formado também em Educação Física.