Fabiane Pereira

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Amanda Menezes entre Rio e Lisboa

Empresária e produtora cultural se divide entre produções locais e além-mar

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Atualizado em 23 abr 2023, 11h38 - Publicado em 23 abr 2023, 10h52
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  • No final de 2021, estive em Lisboa, cidade que vou todos os anos desde que morei por lá entre 2016 e 2018. Na volta, falei neste espaço sobre o Samambaia, projeto gastro-músico-cultural localizado na capital portuguesa comandado pelas brasileiras Amanda Menezes e Andrea Zamorano.

    Amanda está no Rio. Veio acompanhar a 13ª edição – a quarta na cidade – do Sai da Rede, festival idealizado por ela em 2011, numa época que fazia sentido o conceito de tirar os artistas da rede. “Hoje estão todos já na rede e o grande o desafio é escolher entre tantas e tão boas alternativas, as que mais representam “novidade” e o que é pertinente também em termos de representatividade”, conta Amanda.

    O Sai da Rede estreou na última sexta (21) e vai até o dia 30 de abril. São oito shows gratuitos que estão sendo realizados nas arenas da Penha e de Madureira. Além de Amanda, Pedro Seiler, do Queremos, assina a curadoria do festival que nesta edição apresenta Ana Frango Elétrico, Yoùn, Luciane Dom, Caio Prado, Jefferson Placido, Ilessi e Marcelo Galter, IZRRA e Jonathan Ferr.

    A produtora e empresária trocou o Rio por Lisboa em 2019. Nós nos desencontramos, enquanto eu me despedia da cidade, ela chegava com toda família. Casada com um francês, Amanda sempre soube que, mais cedo ou mais tarde, trocaria o Rio por alguma cidade europeia. “Foi uma decisão acalentada por muito tempo, meu marido queria voltar para a Europa, mas eu postergava. Até que em março de 2018, no dia do assassinato de Marielle Franco, cheguei ao meu limite, e achei que era hora de tentarmos essa experiência. Temos dois filhos e queríamos mostrar para eles uma maneira diferente de viver”, relembra.

    Amanda tem vocação para os encontros. Sua casa, no Jardim Botânico, costumava reunir amigos nos finais de semana. Gente de todo tipo. Foi assim que me aproximei da empresária que apesar de morar além-mar continua produzindo e realizando projetos interessantes por aqui. “Logo que cheguei, em 2019, estava produzindo a turnê do musical “Samba Futebol Clube”. Nessa época vi que era possível organizar quase tudo de maneira remota. Só preciso estar presente na hora da montagem e da estreia”, explica.

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    Em junho, Amanda estará de volta ao Rio para a estreia do espetáculo “Kafka e a Boneca Viajante”, baseada no conto infato-juvenil de mesmo nome de Jordi Sierra Y Fabra. “Fui convidada a produzir em parceria com Felipe Lima, idealizador do projeto. A ideia é fazermos um espetáculo adulto, mas livre para todos os públicos e com um elenco que canta espetacularmente bem. Tem direção de João Fonseca com quem já fiz peças deliciosas, como o musical premiado “Bilac Vê Estrelas”. Mas desta vez não será exatamente um musical, mas uma peça com música. Fico feliz de podermos voltar a fazer teatro, de ver a cultura explodindo por todos os lugares no Brasil novamente. E essa peça vai rodar muito, Rio, SP, Brasília, BH, Porto Alegre, São Luis…”, adianta.

    O entusiasmo de Amanda ao falar da volta dos projetos culturais brasileiros é compartilhado por muita gente. Todas as pessoas que eu converso e que atuam, direta ou indiretamente, na área estão otimistas. A volta do Ministério da Cultura e o comando de Margareth Menezes dão esperanças para os fazedores de cultura do país inteiro. A empresária relembra que sua decisão de ir pra Lisboa também teve a ver com o desmonte cultural que o país sofreu no último governo. “A decisão de se mudar foi muito acertada por vários motivos entre eles pelo “timing” porque a cultura brasileira sofreu um hiato gigantesco nesses quatro anos e teria sido bem difícil viver somente com os projetos culturais durante esse período (não preciso nem mencionar a pandemia, que acabou de vez com as atividades). Aos artistas e produtores que sobreviveram no Brasil nos últimos anos, envio todo meu respeito e admiração”, explica.

    O vai e vem transatlântico se explica porque além de ter dois filhos em idade escolar, é ela quem programa as atrações artísticas do Samambaia e, junto da sócia, prepara o espaço para receber centenas de clientes no verão europeu. “Programar uma casa de shows fora de seu país de origem é uma experiência interessante. Se por um lado Lisboa está lotada de brasileiros – e grande parte do público do Samambaia é de expatriados – por outro, não queremos ficar restritos a esse público, então temos que promover uma programação que seja do gosto do público português e também do estrangeiro. Nossa programação é uma miscelânea muito louca e deliciosa, que vai de Danilo Caymmi a Bala Desejo, passando por todos os gêneros de música brasileira e mesclando com um pouco de música lusófona e africana”, conta.

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    Quem for passar o verão europeu em Lisboa pode conferir as novidades do Samambaia. “Estamos abrindo o espaço pela primeira vez para apresentações teatrais. Vamos começar a investir também em Stand Up Comedy e começaremos logo com o consagradíssimo Eduardo Bueno. Teremos cursos, começando com o de “Comunicação Não Violenta” ministrado pela influenciadora Zoe Dorey, nos domingos de junho. Em julho vamos fazer um carnaval fora de época e começaremos feijoadas com samba aos domingos”, adianta.

    “O Samambaia foi uma loucura boa, que aconteceu da maneira mais inesperada”, diz. No início da pandemia, o escritor João Paulo Cuenca, amigo e compadre de Amanda, apresentou a ela uma antiga amiga dele, também escritora. Foi assim que Amanda e Andrea Zamorano se tornaram sócias. “É muito gratificante ver que uma ideia que começou tão despretensiosa se tornou uma referência de música brasileira em Lisboa e faz imensa diferença na vida de tantos artistas e do público que frequenta”, finaliza empolgada.

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