Escrevo a primeira coluna deste esperado regresso no computador do meu namorado, em Recife, cidade em que me encontro para participar do Porto Musical – um encontro para profissionais da música que acontece em Pernambuco ano sim, ano não. Acho importante dizer isso porque toda (re)estreia gera ansiedade e poucas coisas me estressam mais do que escrever um texto “importante” fora do meu habitat natural. Aqui vale dizer que escrevo num MAC e sou adepta do PC.
A gente (re)estreia na vida algumas vezes. Com trinta e poucos anos eu já fiz um bocado de coisas pela primeira vez. Mas é a primeira vez que eu faço uma coisa pela segunda vez parecendo a primeira. Pra quem não se lembra, antes do recesso da Vejinha, eu já ocupava esse espaço. Então essa (re)estreia tem memória afetiva.
Acho que todo artista quando lança um disco experimenta essa sensação – que é tão boa quanto ouvir sua música preferida na vitrola que você mesma comprou para figurar em cima da mesinha laqueada que você escolheu, na Feira do Lavradio, que decora a sala do apartamento que você parcelou em 60 meses graças ao financiamento da Caixa.
Sendo bem sincera, talvez eu esteja só ansiosa demais pelos contratempos citados no primeiro parágrafo porque toda vez que eu entrevisto um artista que eu já entrevistei, experimento esta excitante sensação que mistura “curiosidade”, “que que eu tô fazendo aqui” e “como vou decodificar isso pros meus leitores/espectadores?”. Resumindo: aquela dose extra de serotonina.
Ontem estava em São Paulo – hoje em Pernambuco e, amanhã, espero um up grade no meu plano de milhagem – entrevistando Arnaldo Antunes e esta foi a quinta vez que nos encontramos nesta situação. Já era pra eu estar acostumada mas não me acostumo.
Ouvir Arnaldo Antunes, no privilegio da exclusividade, cinco vezes é ter sorte na vida. Semana passada ele lançou seu 18o disco – parece que falar álbum é mais cool mas eu falo disco e vou continuar falando -, “O Real Resiste”. É meio óbvio que um artista como o Arnaldo seria atravessado pelo absurdo que é a normalização das barbaridades. E de tanto levar socos no estômago, ele resolveu dividir conosco este desconforto – eufemismo para “que merda é essa?”.
Depois de se apresentar ao lado de Marisa Monte e Carlinhos Brown nos mais importantes palcos do Brasil e do mundo, cantando um repertório pop e cheio de hits com o trio Os Tribalistas, Arnaldo volta a um formato íntimo que harmoniza piano e instrumentos de cordas, dispensando bateria e percussão.
Na próxima terça, às 21h, entrara no meu canal no Youtube, o Papo de Música, nossa conversa íntima e musical. O Papo de Música é meu grito de socorro, minha forma de resistir. Porque em tempos trevosos, com tanto sentimento deve ter algum que sirva.
Ele é carioca…
Radicado em Lisboa há três anos, Léo Middea, cantor e compositor nascido e criado em Jacarepaguá, acaba de lançar o disco VICENTINA. Com doze faixas (ouça “Bairro da Graça” e “Sorrindo pra Saudade”), o nome do álbum é uma homenagem a uma amiga de sua avó, que chegou em seu ouvido quando ele tinha quatro anos e disse: “Quando você crescer vai ser cantor”. Cumprindo a profecia, Léo Middea é um nome que você ainda vai ouvir muito por aí.
Pelo Brasil…
Josyara lançou seu mais recente trabalho em 2018. Mas toda vez que ouço parece que é a primeira vez que aquela voz me atravessa. Baiana, de Juazeiro (terra de João Gilberto e Ivete Sangalo), ela tem dois discos lançados e tem rodado o Brasil apenas com seu violão mas quem já viu ao vivo garante que nele está embutido uma banda inteira. Mansa Fúria é o nome do disco lançado ha dois anos que soa mais vanguarda que boa parte do que a imprensa especializada costuma chamar de vanguarda.