O Back2Black é um dos festivais mais interessantes do país. Pioneiro na motivação de juntar o segmento cultural, o público em geral e expoentes vozes pretas, o evento, que acontece desde 2009, vai mais uma vez reunir as sonoridades africanas e da diáspora entre os dias 25 e 28 de maio, no Rio de Janeiro – uma das cidades mais pretas do Brasil.
Hoje a música africana é protagonista dos maiores eventos do mundo mas nem sempre foi assim. Atento a esta vocação, o Back2Black vai mostrar ao público as duas mais importantes sonoridades festivas que estão influenciando a música pop contemporânea: os afrobeats (ou afropop), uma gama de ritmos eletrônicos diversos criados nas décadas de 2000 e 2010 que têm, em sua essência, batidas de matrizes africanas; e amapiano, ritmo eletrônico que é considerado o “novo deep house”. Além disso, o Back2Black também vai trazer alguns expoentes de estilos musicais africanos já consagrados, como o jùjú e o afrobeat original, criado pelo gênio nigeriano Fela Kuti na década de 1960.
A edição deste ano, 11ª da história do evento, vai misturar música, palestras, arte contemporânea, fotografia, teatro, moda, dança, literatura, rodas de conversa e gastronomia no Armazém da Utopia. A programação começa na Zona Portuária na próxima quinta (25), data que se comemora os 60 anos do Dia da África. O Back2Black promoverá nesse dia três talks e rodas de conversas com quilombolas e refugiados mediados pelo jornalista e escritor Tom Farias. Também participam do evento a Ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, e a linguista e escritora Conceição Evaristo. Elas . Elas prometem trazer para o evento um olhar sobre o futuro do mundo sob a perspectiva das mulheres negras. O Dia da África também terá o poetry slam do coletivo Slam das Minas, a peça teatral Chegança do Almirante Negro na Pequena África, onde a Grande Companhia Brasileira de Mystérios contará a odisseia de João Cândido, o líder da Revolta de Chibata, e terá encerramento com o show do eterno Tincoã, Mateus Aleluia. Todas as atrações para este dia serão gratuitas mediante retirada de senha.
Já na sexta, dia 26, o Palco Orun do Back2Black ficará pequeno ao receber grandes “feats”. O encontro ancestral do rapper Emicida com o extraordinário músico, compositor e ativista Dino d’Santiago (Cabo Verde).
Aqui faço um parênteses porque sou completamente apaixonada pela obra de Dino. Conheci as sonoridades de Dino quando morei em Lisboa e fiquei perplexa logo de cara. Eu e Madonna – diga-se de passagem. Com uma musicalidade ímpar de R&B e uma mistura original dos ritmos populares cabo-verdianos — como a morna, o funaná e o batuku – Dino é hoje uma das vozes mais importantes da música lusófona.
Além desse super encontro, o Palco Orun também vai promover encontros oriundos de legados familiares. O multi-instrumentista, cantor e compositor Chico Brown – filho de Carlinhos Brown e neto de Chico Buarque – vai receber o também multi-instrumentista e compositor Mádé Kuti (Nigéria), filho do músico Femi Kuti e neto de Fela Kuti.
Já o segundo palco batizado de Aiye vai receber as picapes da DJ e produtora DBN Gogo (África do Sul). Ela vai mostrar ao público carioca o que fez o ritmo eletrônico amapiano se tornar, hoje, o nova queridinho dos clubs; e, em versão Sound System, o movimento cultural carioca Okupiluka, que divulga arte e música africanas em suas festas nas zonas Norte e Central carioca.
No sábado, 27, os destaques serão o músico e cantor Salif Keïta (Mali) – também conhecido como a “voz de ouro da África” -, o ex-integrante do lendário grupo africano Les Ambassadeurs vai realizar uma apresentação que promete ser memorável por misturar a musicalidade tradicional do povo mandinga com R&B, funk e jazz fusion. Pela primeira vez no Brasil, a cantora e compositora Tiwa Savage (Nigéria), a “diva dos afrobeats” mostrará toda sua musicalidade. O furacão do pop nacional, Iza, apresentará um show exclusivamente feito para o Back2Black. A suavidade da jovem baiana Agnes Nunes, a força da cantora e compositora Sued Nunes, o cantor, compositor e instrumentista brasiliense Hodari e as carrapetas cariocas da DJ Tamy são garantia de grooves na pista.
Encerrando o evento, no Parque de Madureira, dia 28, uma palestra com o escritor e Nobel em Literatura Wole Soyinka (Nigéria), a apresentação da peça teatral A Chegança do Almirante Negro e o show de Salif Keïta e banda com participação de Margareth Menezes.