Precursores em ouvir novos talentos e revelá-los ao grande público, os jornalistas musicais e radialistas são pilares fundamentais na carreira de um artista.
Nesta pandemia, a tecnologia provou que é aliada da arte proporcionando, ao longo de quase vinte meses, momentos que nos ampararam. De modo geral, todos os segmentos artísticos vêm sendo impactados pelas mudanças proporcionadas pela era digital, mas especialmente na música a relação artista e público tornou-se muito estreita. Tal aproximação, sem mediadores, faz muitos artistas pensarem que não precisam do “filtro” radialista e jornalista musical. Isso é um grande equívoco.
No jornalismo musical que pode ser radiofônico, televisivo, impresso e digital, defendemos com “unhas e dentes” (pra usar uma expressão próxima do real) os artistas que acreditamos. Acreditar e defender um trabalho artístico tem a ver com sinergia. Não passa por números expressivos nem por imposições mercadológicas. O verdadeiro jornalismo musical não faz distinção entre o mainstream e o independente porque sabemos que há música boa e bons músicos em todos os setores do ecossistema da música.
Nesta defesa que ora se parece com uma luta de capoeira, ora com uma dança de balé, os jornalistas que trabalham com música precisam convencer chefes, colegas de editoria, diretores e programadores artísticos que é importante fortalecer a cena, democratizar a mídia. Quantas vezes precisei relembrar meus superiores que Chico, Caetano, Gil e Roberto Carlos são os gigantes que são porque “lá atrás” alguém deu a eles o espaço que eles mereciam.
O fato é que o estreitamento da relação artista-público, possibilitado pelo avanço tecnológico e potencializado por uma pandemia, tem causado um fenômeno curioso. Muitos cantores preferem dar entrevistas para as editorias de moda em detrimento dos cadernos de música. Alguns cantores têm excluído o rádio de sua estratégia de divulgação. E obviamente não falo da prática abominável de ‘pagamento de jabás’ que ainda prevalece na maioria das rádios comerciais do Brasil. Falo dos poucos mas conhecidos programas radiofônicos que sempre abriram espaço para artistas em início de carreira ou para nomes que há muito estão fora do mainstream.
Fazemos parte – artistas, jornalistas e radialistas – de um mesmo ecossistema. Quando fortaleço um artista, ele também me fortalece e assim, juntos, fortalecemos uma cena. Uma cena que gera uma receita imensa, que impacta positivamente no PIB do país e que foi refúgio de todos nós durante o período mais duro de nossas vidas (coletivamente falando).
A recente entrevista da gigante Marisa Monte em meu canal (independente) no Youtube não foi uma aula apenas para mim, mas para todos aqueles que acreditam que números expressivos e audiência algorítmica são tendência. Não são. Tendência sempre será a boa e velha conversa bonita, elegante e sincera entre um jornalista especializado e um cantor/cantora/cantore transformada numa baita entrevista – seja pra qual veículo for.