Preciso Lembrar de Tudo. Este é o nome do novo livro de Luiza S. Vilela, Luli pros íntimos. Não me lembro mais quando nem onde conheci Luli – talvez tenha sido pela Paula Gicovate, escritora e roteirista de mão cheia.
Mas se Luiza precisa lembrar de tudo, eu já me dei por vencida. Mal lembro o que jantei ontem à noite e, também não me lembro quando um livro de poesia me pegou com tanta força a ponto de devorá-lo em poucas horas.
Luiza S. Vilela é uma poeta que cresceu em Vitória, Espírito Santo, veio pro Rio fazer faculdade e, foi ficando. Nossa identificação começa aí. Também vim pro Rio fazer faculdade e, fui ficando. A escrita de Luiza é a melhor definição de ‘contemporâneo’ que li nos últimos tempos. Tanto é que ela consegue ressignificar seu conceito com versos íntimos e conectados a realidade – vale pontuar que a realidade a qual me refiro é de classe média carioca empática.
“Preciso lembrar de tudo” diz muito sobre uma sociedade em que o excesso de informação rouba nossa atenção, quase nos robotizando. Os versos, os textos breves e leves de Luiza são brechas, arestas, respiros, suspensão da realidade, poesia, riso frouxo e abraço. No fundo, Luiza nos lembra de não esquecer. O livro de estreia da escritora nos faz refletir sobre questões sérias dos tempos atuais sem pesar o ambiente. Pra isso, já temos pela frente o 2º turno presidencial.
Abaixo, um breve papo com a autora.
FP: Onde você cresceu, e como essa sua primeira infância afetou quem você se tornou profissionalmente?
LV: Fui criada em Vitória, vulgo Vitorinha, que, apesar de ser uma capital, tem uma vibe bem interiorana, ainda mais nos anos 90/00. É curioso, porque sinto que a falta gerou um desejo. Quase não tínhamos cinemas, as peças de teatro não chegavam, as livrarias eram poucas (e ainda são), mas a minha vontade de consumir cultura era tanta que eu me virava, baixava os filmes, pedia pras minhas primas me mandarem livros de São Paulo. Quando cheguei no Rio pra cursar Letras na PUC, senti que eu já conhecia mais coisa que muita gente que cresceu na “cidade grande”. Estava mais preparada justamente porque tinha medo de estar menos.
FP: Por que você escreve e por que você escreve poemas? Como a poesia atravessa você?
LV: Eu sempre amei literatura contemporânea, todos os gêneros, poesia inclusa. Na PUC, atravessei a graduação e o mestrado cercada de poetas da minha idade, estudando meus pares. Mas sempre me entendi mais como uma acadêmica, como crítica, não achava que eu tinha talento pra escrever. Isso foi mudando com o tempo, na base de muito autoconhecimento e análise mesmo. Eu queria, mas tinha medo. Quando finalmente saiu, saiu em verso, não sei explicar muito bem por que. A poesia me ajuda a resolver as questões da vida que me atravessam. Escrevo pra me ouvir e pra proporcionar um momento de reflexão ao outro. Não existe sentimento melhor do que escrever, gostar e depois ficar sabendo que aquilo “bateu” pra outra pessoa.
FP: Se o dinheiro não fosse um fator inerente a vida, o que você faria com o seu tempo?
LV: Moraria num sítio em Visconde de Mauá e teria um canil, uma horta agroecológica e vários outros animais. Esse sítio seria também uma residência artística, onde eu receberia pessoas que precisassem de paz e contato com a natureza para terminar seus projetos. É meu sonho pra daqui uns anos.
FP: Como a poesia pode ser mais popular num país que lê tão pouco?
LV: Eu sinto que esse cenário está melhorando um pouco por causa do Instagram. Tem muita gente jovem despontando e publicando por lá – o formato breve ajuda. Acho que uma aproximação mais bem feita da poesia com a música também pode ajudar. O “Poesia Acústica” é prova disso. Os jovens precisam entender que música = poesia + melodia. Se isso fosse bem trabalhado nas escolas, poxa, seria lindo.
FP: No seu perfil no Instagram, você publica eventualmente ensinamentos sobre o amor (o amor ensina a suportar / escolher / lutar… para citar alguns). O que a escrita lhe ensina?
LV: Não sei se me ensina, mas me lembra todos os dias de que eu preciso fazer o que me faz feliz. E nada me faz mais feliz que escrever. Então não importa ´tanto se as pessoas vão ler, se vai ser bem recebido…importa escrever. Entender isso torna a vida muito mais tranquila, porque somos plenos quando fazemos o que amamos.