Eu não nasci no Rio, mas moro na cidade desde os 17 anos, então hoje já vivo aqui há mais tempo do que vivi em qualquer outro lugar no mundo e me sinto carioquíssima. “Me orgulho de ser carioca, me orgulho de ser brasileiro”, esses versos não são meus, embora – se eu soubesse versar – poderiam ser. São de Marcelo D2 na música “1967”, de seu primeiro disco solo, Eu Tiro É Onda (1998).
Vinte e três anos depois do lançamento da faixa, as mazelas do Rio de Janeiro não mudaram muito. Politicamente a cidade é um desastre. Pensar que boa parte do totalitarismo que tomou de assalto o governo federal é cria nossa, dá muita tristeza. Mas vale lembrar que o Rio também é a cidade mais cantada em verso e prosa por artistas (talvez perca, somente, para Nova York) e apesar do caos social continua maravilhosa.
Difícil conhecer um carioca que troque o Rio por qualquer outro lugar do mundo, de livre e espontânea vontade. Eu até conheço alguns que trocaram, mas todos voltariam correndo pra cá se conseguissem bons empregos por aqui. Eu mesma já ensaiei três saídas definitivas e nunca consegui sair de vez. E acho que nunca vou conseguir. Toda vez que estou a um passo da mudança, lembro dos shows no Circo Voador, das rodas de samba do Samba do Trabalhador, da mureta da Urca, dos botecos do Largo de São Francisco, do Museu de Arte Moderna no Aterro, do Parque Lage, das cachoeiras do Horto, do pôr do sol no Arpoador, das quadras das escolas de samba, do Carnaval de rua, dos mergulhos na praia da Urca, da feijoada em Santa Teresa, dos jogos do Flamengo no Maracanã, do Morro Dois Irmãos, do chope gelado do BG e aí eu dou outra chance. Sim, o Rio é aquele boy lixo que a gente sabe que, mais cedo ou mais tarde, vai vacilar outra vez, mas por ser gostoso, a gente releva.
E é essa dicotomia intrínseca do Rio que é retratada na campanha da Bem Bolado Brasil que chega hoje as redes e as ruas sob o olhar da produtora Pupila Dilatada, de Marcelo D2 e Luiza Machado. O casal preparou um grande filme composto por diversos mini clipes que funcionam sozinhos também. “Existem vários Rios de Janeiro, da Zona Sul a Zona Norte, cada cantinho dessa cidade conta uma história. A que eu vou contar para vocês é o Rio Bem Bolado. Esse Rio da sagacidade carioca, da boemia da Lapa, das rodas de samba e muito Carnaval de rua. Do povo que anda sorrindo debaixo de suas máscaras, que não perde a esperança por um futuro melhor até quando o presente pesa”, explica Marcelo D2. “Cada vez que eu ando por suas ruas me apaixono ainda mais por essa cidade. Já reparou que todo mundo no Rio de Janeiro se conhece?”, brinca o rapper e diretor.
Taí uma verdade. Carioca se conhece. Ou melhor, se reconhece. E acho esse reconhecimento bonito. Ninguém pode falar mal do Rio, só nós.
No filme dirigido por Marcelo e Luiza, imagens de um Rio apaixonante. Mercadão de Madureira, trilho do trem, Morro da Conceição, bondinho de Santa Teresa, Morro dos Prazeres, Museu do Amanhã e muita arte de rua.
A campanha rola durante boa parte do mês de abril e visa resgatar o orgulho genuíno de ser carioca. Mas também promove o lançamento da seda de Marcelo D2, espalha lambe-lambes ilustrados pelas ruas da cidade e prepara uma projeção artística com VJ show numa empena localizada na frente do Cristor Redentor, transmitida do bairro do Humaitá.
A Bem Bolado é uma empresa acostumada a transformar ideias inovadoras em realidade. Num momento como este, é importante falar de empresas que se unem a artistas que têm o que dizer. “Diante de tantas notícias desanimadoras e da situação do nosso país, pensamos que é o momento para tentar resgatar o orgulho de ser brasileiro. Orgulho que a gente já não sente faz tempo. Vivemos em um dos países mais lindos do mundo, o Rio de Janeiro é nosso cartão postal e diante de tanta coisa ruim, a gente nem se lembra disso. Eu vejo essa campanha como um presente para o brasileiro, principalmente para o carioca”, acredita Fabrício Penafiel, diretor de marketing da Bem Bolado.
Num país que criminaliza tanto a cultura, a responsabilidade social de empresas é ainda maior e a Bem Bolado mostra que é possível continuar vendendo seus produtos sem deixar de promover relações sustentáveis entre arte e economia. Belo exemplo.