Suponhamos que a gente viva numa cidade sem milicianos e sem os problemas estruturais que governo nenhum é capaz de resolver. Certamente, o Rio de Janeiro seria unanimidade. Mas há um ponto em que gabaritamos há décadas e quem se opõe a isso ou não entende nada do riscado ou…não entende nada do riscado.
A música brasileira é celebrada mundo afora por sua qualidade, riqueza artística, sofisticação e popularidade ímpares. Muita gente tenta desqualificar alguns gêneros musicais por serem oriundos das favelas, sem entender que a beleza da nossa música está justamente nesta diversidade.
O Rio de Janeiro, desde sempre, conseguiu exportar para outros Estados – e pro mundo – um espírito aspiracional que já inspirou canções, poemas, movimentos e retóricas. Quando falamos em Brasil, em qualquer lugar do mundo, é o Rio de Janeiro que encabeça qualquer pensamento.
Muito antes da portuguesa Carmen Miranda encantar o mundo, ela fez história no Rio de Janeiro. Grandes ídolos da nossa música ou nasceram aqui, ou vieram pra cá dar o ponta pé inicial em suas carreiras. Tim Maia, Roberto, Erasmo, Luiz Melodia, Beth Carvalho, Zeca Pagodinho, Chico Buarque, Claudinho & Buchecha, Anita…todos cariocas da gema.
Ainda hoje, antes de ganharem os palcos do país, artistas nascidos no errejota formam suas bases na cidade. O power trio Gilsons formado por três cariocas, João, José e Francisco; a banda Bala Desejo formada pelo quarteto Julia, Lucas, Dora e Zé, todos nascidos e criados no Rio; a tijucana Letrux e até mesmo a pernambucana Duda Beat começou suas apresentações pelo Rio.
Seguindo esse caminho, vale uma audição atenta nos trabalhos do duo Yoùn, formado por Shuna e Gian Pedro. A dupla ganhou fama nas ruas e trilhos do trem carioca. Com a sofisticação do jazz e blues em sincronia com os ritmos urbanos cariocas, os jovens de Nova Iguaçu, aos poucos, têm formado seu público através de shows e da divulgação de vídeos nas redes sociais.
Outro carioca imenso é o pianista Jonathan Ferr. Nascido no subúrbio do Rio, Ferr reconfigurou o estilo com elementos de música eletrônica, hip hop e funk, criando uma estética particular com tonalidade afrofuturista. Ilessi, mais uma representante do sotaque chiado, é cantora, compositora e acolhe diversos modos de manifestação da música brasileira: o tribal, o sofisticado, o experimental, o sentimental, o velho e – preferencialmente – o novo, já que em seu repertório figuram sobretudo autores ainda desconhecidos e, dos consagrados, canções inéditas ou escondidas.
Para encerrar essa pequena lista, a maravilhosa Ana Frango Elétrico merece aplausos e audições atentas. Compositora, poeta, artista visual e produtora musical, Ana pesquisa elementos ordinários do cotidiano, saturando a realidade em formas gráficas, poéticas e sonoras.
No fundo e apesar de tudo, o Rio de Janeiro continua sendo…