Sou movida, diariamente, em direção à saída da minha zona de conforto. Meu pai sempre dizia que “pato gordo não voa” e isso talvez explique a vontade latente que sinto de sair dos meus inúmeros lugares comuns.
No Papo de Música, desde sua estreia, sempre entrevistei sambistas. Nomes como Leci Brandão, Xande de Pilares, Diogo Nogueira, Maria Rita já passaram pelo canal. Mas nunca tinha entrevistado compositores de sambas enredos. Ou melhor, nunca tinha pesquisado este universo e como pesquisadora musical isso é, a meu ver, uma grande falha. Grande falha porque o Carnaval é a maior festa popular do Brasil e o samba enredo é o gênero musical que embala essa festa.
Mas nesta pandemia sem fim, resolvi mergulhar neste universo com códigos próprios. E ao me permitir chegar de mansinho e com muito respeito nas quadras do samba, fiz maravilhosas descobertas que tenho dividido com os seguidores do canal.
No quinto episódio da websérie que tem ido ao ar no meu canal no Youtube, conversei com Pretinho da Serrinha, cria da Império Serrano, uma das mais tradicionais e importantes escolas de samba do Rio de Janeiro. Pretinho ficou conhecido do grande público pelas parcerias bem sucedidas com Seu Jorge e Maria Rita mas ele já foi diretor musical do Dudu Nobre (que também é personagem da webserie), já tocou com Alicia Keys no palco Mundo do Rock in Rio, é comentarista carnavalesco da TV Globo, amigo pessoal de Lulu Santos, Maria Ribeiro (colunista da Veja Rio) e Marisa Monte. “O tipo de pop que eu faço é muito próximo do samba e eu sou uma pessoa só, então eu me levo para todo lugar, de Lulu Santos a Maria Rita. O Pretinho é o mesmo, só muda o terreno”, me contou o sambista carioca sobre sua notável versatilidade, eternizada em seu primeiro e único disco, Samba de Madureira.
Idealizador do projeto Cesta Solidária, iniciativa para auxiliar colegas de profissão que ficaram sem trabalho por causa da pandemia do novo coronavírus, Pretinho comentou com otimismo sobre os rumos da cultura no Rio de Janeiro. “A troca de prefeito já é uma melhora. [O Eduardo Paes] é um cara ligado à cultura, então, já temos uma esperança”, reflete.
A websérie vai se desdobrar num podcast e num e-book a partir de abril e isso só é possível garças ao fomento cultural da Lei Aldir Blanc e sobre isso eu falei bastante na coluna da semana passada.