Samambaia, em Lisboa, é o espaço mais interessante da cidade
Projeto gastro-músico-cultural localizado na capital portuguesa é comandado por duas brasileiras
Não é novidade pra ninguém que lê essa coluna que Lisboa é minha segunda cidade preferida no mundo. Sempre que posso, corro pra lá e passo curtas (como foi o caso da última) ou longas temporadas na cidade. Após 18 meses sem sair do Brasil por conta da pandemia (e da impossibilidade de comprar moeda estrangeira nesse governo desastroso), aproveitei que meu marido iria, a trabalho, pro Porto e zarpei junto com ele rumo a Portugal – não sem antes raspar minhas parcas economias e usar todas as milhas disponíveis.
Desde que voltei ao Brasil, em 2018, depois de passar dois anos morando na capital portuguesa, muitos amigos, que fizeram da cidade moradia, investiram em lojas, marcas de roupas e casas de shows. É o caso da Carol Fanju e sua linda loja de roupas Barro, da Mona Camargo com sua marca de roupas para miúdos, Monami e da Amanda Menezes que abriu a casa de shows mais charmosa da cidade.
O Samambaia é uma espécie de bar, casa de shows e restaurante localizado na Voz do Operário, bairro da Graça. É um projeto gastro-músico-cultural, aberto de segunda a sábado. Com um ambiente tropical chic, o espaço é puro charme e muito convidativo para encontros e múltiplas sonoridades. Público e artista ficam próximos, uma vez que o palco é baixo e o espaço pequeno. Com pé direito alto e janelas generosas, o espaço é arejado e bem decorado e tem capacidade para cerca de 60 pessoas.
A casa abriu em setembro de 2020, entre o primeiro e o segundo confinamento português. Até bem pouco tempo os microfones, a mesa de som e as colunas do palco eram emprestados pelo casal Mallu Magalhães e Marcelo Camelo, que mora em Lisboa há mais de uma década. À frente do empreendimento (falando assim fica pomposo, né?), estão a escritora e empresária Andrea Zamorano e a produtora musical carioca Amanda Menezes. Andrea mora em Lisboa há três décadas, já Amanda se mudou com marido e filhos há pouco mais de dois anos. As duas se conheceram através do amigo, e também escritor, João Paulo Cuenca, e o resto é história.
A motivação do trio (Rui Domingos, marido de Andrea, também é sócio do local) foi criar um espaço voltado para promover a música brasileira em Lisboa, aproveitando que muitos músicos moram na cidade (refugiados do governo Bolsonaro) e/ou passam por Lisboa sempre que fazem turnês pela Europa. Assim como no menu gastronômico do Samambaia, a intenção é fomentar misturas e uma programação focada na colaboração e no entrosamento (quase imediato) que só a música é capaz de proporcionar.
Amanda tem um background invejável quando o assunto é curadoria e programação artística. Durante anos trabalhou criando e realizando projetos culturais no Rio e em outros locais. Trabalhamos juntas num projeto, idealizado por ela, em Bogotá, na Colômbia e depois disso sempre nos acompanhamos. Foi uma grata surpresa saber que ela é a mentora de um espaço que pretende, após esse período pandêmico, também promover projetos multidisciplinares como palestras, debates, exibição de filmes, performances, instalações e intervenções.
Hoje o Samambaia é o único espaço em Lisboa cuja programação semanal vai do samba à MPB, passando pelo instrumental e pelo jazz, sem deixar de lado o pop, a música experimental e até o fado. Se você está em Lisboa, não deixe de conhecer o espaço. Vale dizer que os brunch são maravilhosos e servidos aos finais de semana. Quanto à programação, confia e vá de olhos fechados.