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Fabiano Serfaty

Por Fabiano M. Serfaty, clínico-geral e endocrinologista, MD, MSc e PhD. Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Saúde, Prevenção, Tratamento, Qualidade de vida, Bem-estar, Tecnologia, Inovação médica e inteligência artificial com base em evidências científicas.
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Açúcar é o novo cigarro 

Ao comê-lo, você estimula a liberação de dopamina, um neurotransmissor que controla o nosso sistema de recompensa. Daí aquela sensação prazerosa e viciante

Por Fabiano Serfaty
Atualizado em 29 mar 2017, 19h09 - Publicado em 29 mar 2017, 19h05
Açúcar: faz tão mal quanto o cigarro (Sheila Oliveira/Divulgação)
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A QUÍMICA DO AÇÚCAR E DO CÉREBRO:

O açúcar é um dos alimentos estimulantes denominados hiperpalatáveis ​​- aqueles que estimulam os centros de prazer no cérebro. Por isso, ao comer açúcar, você estimula a liberação de dopamina, um neurotransmissor que controla a recompensa do cérebro e os centros de prazer. Daí que logo se experimenta uma sensação prazerosa e, por vezes, viciante.

A ciência mostra que o açúcar atua no sistema de recompensa de seu cérebro da mesma forma que a cocaína. Como acontece com qualquer substância que produz a dopamina, seu cérebro fica dessensibilizado com o consumo excessivo crônico, e você desenvolve uma tolerância, por isso você acaba tendo que consumir mais açúcar. Na prática, isso significa que para criar o sentimento prazeroso, você tem que usar mais e mais o ingrediente!

Logicamente, isso leva a um ciclo vicioso de aumento do consumo, gerando cada vez mais dessensibilização, e  o resultado é um apetite insaciável pelo carboidrato (aqui consumido na forma de açúcar).

Tornando as coisas mais difíceis, a ciência mostrou que, à medida que os receptores da dopamina diminuem, há uma marcada diminuição na atividade do córtex pré-frontal – a parte do seu cérebro responsável por funções como planejar, organizar e tomar decisões racionais.

Quanto de açúcar é seguro para nossa saúde ? Quanto açúcar precisamos? 

Para fins de saúde, o consumo ideal de açúcar é ZERO. O açúcar adicionado à nossa alimentação  não tem nenhuma função biológica específica  e, portanto, não é por definição um “nutriente”.

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É o componente da frutose que cumpre quatro critérios que justificam sua regulação: toxicidade, inevitabilidade, potencial de abuso e seu impacto negativo na sociedade.

Cabe ressaltar, que a sacarose (do açúcar refinado que compramos no mercado ) é composta de 50% de glicose e 50% de frutose. Isso significa que o consumo de pequenas quantidades de açúcares, que inclui todos os presentes em sucos,  xaropes e mel, já têm um impacto nocivo sobre as doença crônicas como câncer, hipertensão e diabetes. Ou seja, nem mesmo um copo de suco concentrado de fruta é capaz de te livrar desses riscos.

A indústria alimentícia muitas vezes argumenta que o público deve ter uma “responsabilidade pessoal” ao escolher os alimentos que come, eximindo-se de sua própria culpabilidade na epidemia de obesidade para o consumidor.

 A verdade é que a maioria do público se confunde com as informações confusas nos rótulos e não tem conhecimento técnico para discernir o que é saudável daquilo que não é. Na verdade, o consumidor leigo acaba não tendo escolha, porque o açúcar é adicionado a aproximadamente 80% dos alimentos processados.

As semelhanças entre a indústria do tabaco e açúcar :

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Foram 50 anos antes dos primeiros elos entre o ato de fumar e o câncer de pulmão publicados no British Medical Journal e antes de uma regulamentação eficaz contra o tabaco. A chave para defender a indústria do tabaco era negar, plantar dúvidas, confundir o público, comprar a lealdade dos cientistas e dar munição aos aliados políticos.

As semelhanças entre a indústria do cigarro e a indústria do açúcar são assustadoras!

Como uma publicação recente na JAMA Internal Medicine mostrou, a indústria do açúcar pagou três influentes cientistas de Harvard para minimizar o papel do açúcar na doença cardíaca e transferir a culpa para a gordura.

No ano passado, o New York Times revelou que a Coca-Cola Company desembolsou milhões de dólares para financiar pesquisas que minimizaram o papel das bebidas açucaradas no desenvolvimento da obesidade, culpando a falta de exercício como fator principal para tal epidemia.

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Os recentes apelos da OMS para taxar bebidas açucaradas são notícias muito boas para os ativistas da saúde como a gente !

A mensagem para a saúde pública, entretanto, precisa ser mais clara.

O Brasil já desponta como um dos países mais obesos do mundo. Por isso devemos encarar o açúcar como inimigo um de todos nós. Não há nada de errado com o consumo ocasional do nosso docinho, massa, pão ou brigadeiro, mas o açúcar não deve ser encarado como parte de uma dieta saudável e equilibrada no nosso dia a dia.

A exemplo do tabagismo, quaisquer medidas regulatórias adicionais para reduzir o consumo de açúcar, como a proibição da propagação de bebidas açucaradas e a dissociação de bebidas açucaradas dos eventos esportivos, terão um impacto adicional na melhoria da saúde da população em um curto espaço de tempo.

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Os dados científicos são mais que suficientes. As evidências negativas contra o açúcar são irrefutáveis. O açúcar é o novo cigarro, então vamos começar a tratá-lo dessa maneira.

 

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