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Fabiano Serfaty

Por Fabiano M. Serfaty, clínico-geral e endocrinologista, MD, MSc e PhD. Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Saúde, Prevenção, Tratamento, Qualidade de vida, Bem-estar, Tecnologia, Inovação médica e inteligência artificial com base em evidências científicas.
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Derrubando de vez o mito da obesidade saudável

A receita para mudar é simples: dieta balanceada, menos carboidratos, exercícios físicos regulares e tempo suficiente de sono

Por Sergio Kaiser
14 set 2017, 16h39
 (Pedro Piccinini/Acervo Abril)
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Eis aí um conceito difícil de engolir: Pessoas obesas, sem aumento da pressão arterial, glicose no sangue elevada ou distúrbios do metabolismo de colesterol e triglicerídeos teriam menos risco de morrer do que indivíduos igualmente obesos, porém portadores de algumas destas anormalidades ¹ ².

Esta noção de “obesidade saudável” já havia sido desafiada por outras publicações demonstrando resultado exatamente oposto³, mas esta semana, um portentoso estudo britânico, apoiado numa extensa base de dados armazenada em prontuários eletrônicos, forneceu combustível suficiente para, quem sabe, encerrar de vez esta polêmica. Seus autores analisaram os desfechos cardiovasculares de quase três milhões e meio de pessoas inicialmente livres de cardiopatia, acompanhadas durante pouco mais de cinco anos, estratificadas segundo o índice de massa corporal (IMC) em quatro categorias: abaixo do normal, normal, sobrepeso e obesidade. Para cada uma destas categorias, catalogaram-se a presença ou ausência de distúrbios metabólicos como pressão alta, glicose alta e gorduras no sangue alteradas. Todos os desfechos foram ajustados para fatores potencialmente capazes de confundir as análises, inclusive idade, sexo, tabagismo e até desigualdades socioeconômicas (4).

Comparados a pessoas com IMC normal, livres de distúrbios metabólicos, os assim chamados “obesos metabolicamente saudáveis” tinham, ao longo de cinco anos, 50% mais chances de desenvolver doença das artérias coronárias, 7% mais chances de sofrer um acidente vascular cerebral e duas vezes mais risco de padecer de insuficiência cardíaca. Por outro lado, mesmo num indivíduo com IMC normal, a possibilidade de vir a sofrer alguns destes desfechos aumentava proporcionalmente à presença cumulativa destas anormalidades metabólicas. Assim, uma pessoa com peso normal, porém hipertensa, intolerante à glicose e com colesterol elevado, tinha 220% mais chances de morrer em cinco anos quando comparada a outra na mesma categoria de peso, não portadora destas anormalidades.

À medida em que novas e robustas evidências vêm ao conhecimento da comunidade científica, maior é a responsabilidade da nossa categoria profissional em revelar ao público leigo a real face deste inimigo, cuja prevalência cada vez maior, especialmente entre os jovens, prepara o terreno para uma explosão futura na incidência de doenças cardíacas, caso prevaleçam a inércia e o conformismo com esta situação. A receita é tão simples quanto difícil de ser seguida por muita gente, mas não desistimos de repetir: dieta balanceada, menos carboidratos, exercícios físicos regulares, e tempo suficiente de sono.

Referências

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  1. Pillips CM. Metabolically healthy obesity: Definitions, determinants and clinical implications. Rev Endocr Metab Disord 2013;14:219-27
  2. van der A DL, Nooyens AC, van Duijnhoven FJ, Verschuren MM, Boer JM. All-cause mortality risk of metabolically healthy abdominal obese individuals: the EPIC-MORGEN study. Obesity 2014;22:557-64
  3. Hinnouho GM, Czernichow S, Dugravot A, Nabi H, Brunner EJ4, Kivimaki M, Singh-Manoux A. Metabolically healthy obesity and the risk of cardiovascular disease and type 2 diabetes: the Whitehall II cohort study. Eur Heart J 2015;36:551-9
  4. Caleyachetty R, Thomas N, Toulis KA, Mohammed N, et al. Metabolically Healthy Obese and Incident Cardiovascular Disease Events Among 3.5 Million Men and WomenJ Am Coll Cardiol 2017;70:1429–37

 

Sergio Kaiser
Sergio Kaiser (Reprodução/Arquivo pessoal)
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Mestre em Cardiologia, Doutor em Fisiopatologia Clínica e Experimental
Professor adjunto de medicina interna da UERJ
Coordenador da Disciplina de Fisiopatolgia Clínica e Experimental da UERJ

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