Emagrecer melhora a fertilidade em homens e mulheres?
Para a mulher e para o homem, a obesidade e o sobrepeso pode ter influências prejudiciais para a saúde reprodutiva.
A obesidade e o sobrepeso são a maior pandemia global vigente, ambas em franca expansão. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de pessoas obesas no mundo dobrou entre 1980 e 2008(1). Atualmente, estima-se que de 62% a 76% da população mundial apresentem níveis de gordura corporal potencialmente prejudiciais à saúde.(2)
Tanto para a mulher quanto para o homem, a obesidade e o sobrepeso podem causar influências prejudiciais em diversas funções fisiológicas do corpo humano. Isso inclui a saúde reprodutiva.
O tecido adiposo libera uma série de adipocinas, que interagem de diferentes formas com múltiplas vias moleculares de resistência à insulina, inflamação, hipertensão, risco cardiovascular, coagulação e diferenciação e maturação de oócitos. Além disso, a obesidade e o sobrepeso podem afetar a implantação endometrial e outras funções reprodutivas, levando ao aumento da taxa de abortos espontâneos e comprometendo os resultados das técnicas de reprodução assistida(3).
A perda de peso, por outro lado, evidenciada por alguns estudos clínicos, demonstra que a perda de peso em mulheres obesas pode restaurar a ciclicidade menstrual e a ovulação, e assim aumentar a probabilidade da concepção(3).
Qual a definição de infertilidade e quais causas mais comuns ?
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define como infertilidade uma doença do sistema reprodutor masculino ou feminino definida pela incapacidade de conseguir uma gravidez após 12 meses ou mais de relações sexuais desprotegidas e regulares(4). De acordo com a OMS, cerca 48 milhões de casais e 186 milhões de indivíduos vivem com infertilidade em todo o mundo(4).
No sistema reprodutor masculino, a infertilidade é mais comumente causada por problemas de ejeção de sêmen, ausência, redução dos níveis, morfologia anormal ou disfunção de motilidade do espermatozóides(4).
No sistema reprodutor feminino, a infertilidade pode ser causada por uma série de anormalidades nos ovários, útero, tubas uterinas endometriose ou alterações no sistema endócrino(4).
A infertilidade pode ser primária ou secundária. A infertilidade primária é quando uma gravidez nunca aconteceu, e a infertilidade secundária é quando pelo menos uma gravidez anterior foi bem sucedida.
O tratamento da infertilidade consiste na prevenção, diagnóstico precoce e tratamento realizado por médicos especialistas em fertilidade.
Recentemente, os efeitos do peso corporal e do estilo de vida na saúde reprodutiva têm recebido grande atenção devido ao impacto negativo que podem ter nas fertilidades feminina e masculina(5).
O peso corporal de fato está associado à capacidade reprodutiva. Mulheres com obesidade, mesmo com ciclo menstrual e fertilidade aparentemente normais, apresentam menores níveis de gonadotrofinas, estradiol e inibina circulantes na fase folicular, sugerindo um efeito inibitório da obesidade sobre estes hormônios. Alguns estudos observacionais associam um alto índice de massa corporal (IMC) em mulheres ao maior risco de redução da fertilidade – embora o IMC feminino e masculino, conforme demonstrado em estudos prévios, tenham efeitos independentes sobre a fertilidade(3,5). Nesses estudos, a perda ponderal demonstrou melhorar os resultados reprodutivos melhorando a fertilidade, regularizando os ciclos menstruais e aumentando a chance de ovulação espontânea e concepção em mulheres com sobrepeso e obesidade. Os dados disponíveis sugerem que a perda de 5% a 10% do peso corporal inicial pode definitivamente melhorar a taxa de fertilidade(3,5).
Um importante estudo publicado recentemente(6) avaliou a associação entre a redução da fertilidade e o IMC em homens e mulheres(6). A pesquisa incluiu 28 341 mulheres e 26 252 homens de um estudo de coorte norueguês com mães, pais e filhos. O estudo disponibilizou dados do genótipo dos participantes, que compartilharam informações sobre o tempo até a concepção e os respectivos IMC.
Os resultados demonstraram fertilidade reduzida em 10% dos casais (tempo até a concepção ≥ 12 meses), que apresentaram maior IMC, idade mais avançada e maior probabilidade de fumar ou serem ex-fumantes. Ao final do estudo, os pesquisadores descobriram uma associação em forma de J do IMC com a redução da fertilidade em mulheres e homens, ou seja, tanto em pacientes homens quanto em mulheres os baixos e altos IMCs (< 20,0 kg/m2 e ≥ 30,0 kg/m2 ) apresentaram maior risco de infertilidade.
Os resultados deste estudo apoiam um efeito causal da obesidade na redução das fertilidades feminina e masculina. E sugerem que mulheres com de IMC > 23kg/m2 e homens com de IMC > 25 kg/m2 apresentem maior risco de apresentar a infertilidade(6).
Portanto, na prática clínica, os resultados deste estudo sugerem que um IMC entre 20 e 25 kg/m2 , tanto em mulheres quanto em homens deva ser a faixa ideal para reduzir o risco de infertilidade (6).
Referencias:
- Obesidade: até quando vamos assistir à essa epidemia? Dr.Fabiano M. Serfaty. Medscape. https://portugues.medscape.com/verartigo/6501488
- Maffetone PB, Rivera-Dominguez I, Laursen PB. Overfat and underfat: new terms and definitions long overdue. Front Public Health (2016) 4:279. doi:10.3389/fpubh.2016.00279
- Silvestris E, de Pergola G, Rosania R, Loverro G. Obesity as disruptor of the female fertility. Reprod Biol Endocrinol. 2018 Mar 9;16(1):22. doi: 10.1186/s12958-018-0336-z. PMID: 29523133; PMCID: PMC5845358.
- WHO. Infertility https://redlara.com/images/arquivo/Infertility.pdf
- Qual é a associação entre o ganho de peso e a infertilidade?
Dr. Fabiano M. Serfaty. Medscape, 2022. https://portugues.medscape.com/verartigo/6507413 - Álvaro Hernáez, Tormod Rogne, Karoline H Skåra, Siri E Håberg, Christian M Page, Abigail Fraser, Stephen Burgess, Deborah A Lawlor, Maria Christine Magnus, Body mass index and subfertility: multivariable regression and Mendelian randomization analyses in the Norwegian Mother, Father and Child Cohort Study, Human Reproduction, Volume 36, Issue 12, December 2021, Pages 3141–3151, https://doi.org/10.1093/humrep/deab224