O documentário Missão Manaus será lançado no próximo sábado (2), no Congresso Internacional dos Médicos pela Vida. Ele foi realizado através de financiamento coletivo para custear a produção e exibição, e traz a visão de quem trabalhou na linha de frente durante o período da pandemia de Covid-19 em Manaus, quando ocorreu a falta de oxigênio e de condições básicas para tratar os doentes. O que poderia ser apenas um retrato de perda e pesar acabou se transformando em uma visão complexa da realidade do nosso país que, mesmo em adversidades extremas, improvisa esperança e altruísmo para além do imaginável.
Para contar melhor mais uma história brasileira de superação e renúncia, da qual participaram muitos heróis brasileiros anônimos, convidei a Dra. Mayra Pinheiro, médica pediatra, que foi secretária de Gestão do Trabalho e Educação em Saúde do Ministério da Saúde, no período de janeiro de 2019 até fevereiro de 2022. Ela foi responsável pelas ações em Manaus, sobretudo da formação dos profissionais de saúde, que socorreram a população durante a pandemia.
Dr. Fabiano M. Serfaty: Como e por qual motivo foi criado o Missão Manaus ?
Dra. Mayra Pinheiro: Uma produtora de cinema, a Blackjack Films, nos procurou com interesse em contar a história da pandemia e o que aconteceu em Manaus. Eles têm produções próprias no Netflix e Globoplay, e queriam gravar um documentário que pudesse esclarecer a verdade através das pessoas que estiveram no “olho do furacão”. Essa é uma demanda que grande parte da sociedade também tem. O motivo do documentário, mais do que desarmar a farsa, é fazer justiça às centenas de heróis que arriscaram a vida para salvar milhares de outras vidas. Todos os brasileiros definitivamente merecem saber a verdade sobre a crise de saúde que assolou Manaus.
Dr. Fabiano M. Serfaty: Por que a falta de oxigênio aconteceu só em Manaus? Quem foram os verdadeiros culpados?
Dra. Mayra Pinheiro: A falta de oxigênio não aconteceu somente em Manaus, mas aconteceu principalmente em Manaus devido ao surgimento da variante P1 do Sars-Cov-2, que se revelou muito mais agressiva que as variantes anteriores. Manaus também foi o cenário perfeito para a tragédia: uma cidade com condições de saneamento precárias e com uma gestão de saúde ineficiente, que já era marcada por problemas graves e crônicos, e que, de súbito, é submetida a uma pressão aguda produzida por um vírus letal e de alta transmissibilidade. Houve falha das empresas de abastecimento de oxigênio, houve falha de quem deveria monitorar o sistema de saúde local.
Dra. Mayra Pinheiro: Boa parte da imprensa deixou de divulgar as ações do Ministério da Saúde e de outros ministérios para o enfrentamento da crise de Manaus. Não fosse a intervenção e ajuda do governo federal teríamos uma tragédia de maior proporção.
Dr. Fabiano M. Serfaty: O que você pode nos contar com exclusividade, depois de ter vivido esta missão em Manaus ?
Dra. Mayra Pinheiro: Muita coisa que vivemos em Manaus será inesquecível e não foi divulgada. Foram várias as estratégias utilizadas para socorro da população. Em tempo recorde, foi montada uma operação de guerra. Para mim, o mais simbólico foi o transporte de oxigênio líquido em aviões, inédito na aviação mundial. É algo tão arriscado, perigoso, que nunca havia sido feito. Só conseguimos realizar este transporte porque utilizamos aeronaves das forças armadas. Imagine a logística montada em 24/48 horas, para executar esta tarefa? Agora, some a isso o envio de medicamentos para intubação, ampliação da oferta de médicos através do programa Mais Médicos, treinamento dos agentes de saúde para monitoramento domiciliar de casos suspeitos, abertura de novos leitos, envio de mais de 300 profissionais de saúde treinados e custeados pelo Governo Federal para possibilitar a abertura de novos leitos, remoção aérea de pacientes e você pode ter alguma noção do que foi a crise em Manaus.
Dr. Fabiano M. Serfaty: Por que só agora essa parte da história veio à tona ?
Dra. Mayra Pinheiro: A verdade sempre esteve disponível para aqueles que estavam dispostos a escutá-la. O que temos agora é a oportunidade oferecida por uma produtora de cinema, a Blackjack Films, para contar esta história. As pessoas sabem que a narrativa imposta pela CPI é mentira, mas não sabem precisamente o que ocorreu. O Brasil só conheceu as narrativas da imprensa militante e dos políticos que tentaram se utilizar de forma inescrupulosa de uma tragédia.
Dr. Fabiano M. Serfaty: Que lições para o futuro da saúde pública do Brasil podemos tirar de tudo isso ?
Dra. Mayra Pinheiro:Precisamos aprender com os erros para não repeti-los, o “fique em casa” foi talvez um dos que trouxe consequências mais desastrosas. Precisamos registrar os acertos. É preciso que seja feito um repositório dos ações exitosas para que se eventualmente passarmos por outras situações semelhantes, possamos saber como agir rapidamente e sobretudo evitar medidas ineficazes.
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