Fabiano Serfaty

Por Fabiano M. Serfaty, clínico-geral e endocrinologista, MD, MSc e PhD. Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Saúde, Prevenção, Tratamento, Qualidade de vida, Bem-estar, Tecnologia, Inovação médica e inteligência artificial com base em evidências científicas.
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Mitos e verdades sobre o câncer de mama

Sabe-se que uma dieta saudável, associada a exercícios físicos e controle do peso, pode reduzir o risco de câncer de mama em 30%

Por Dr. Fabiano M. Serfaty e Dr. Eduardo Millen
Atualizado em 6 nov 2023, 19h50 - Publicado em 6 nov 2023, 18h13
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  • Diariamente surgem informações sobre fatores associados ao aumento do risco e à prevenção do câncer de mama. É importante que reconheçamos o que são mitos e verdades sobre esta doença.  Recente documento publicado pela American Cancer Society (ACS) aborda os principais fatores de risco e proteção relacionados à ela. Por isso, convido Dr. Eduardo Millen, Médico Mastologista Cofundador do Portal Câncer de Mama Brasil, Mestre e Doutor em Medicina pela Unifesp. Para esclarecer questões tão importantes sobre o assunto.

    Dr. Fabiano M. Serfaty:  Quais são os principais fatores de risco para o câncer de mama?

    Dr.Eduardo Millen: Entre os principais fatores, destacam-se o sexo feminino (proporção de 100 a 200 mulheres/1 homem), a idade, (mais comum após 50 anos), fatores reprodutivos (não ter filhos, ou tê-los após os 30 anos) e história familiar de câncer de mama, ovário. Estes não são fatores modificáveis, mas existem fatores relacionados ao estilo de vida, que têm se associado ao risco de câncer de mama, como obesidade, sedentarismo, consumo regular de álcool e uso prolongado de terapia hormonal da menopausa. A modificação desses hábitos pode reduzir o risco de câncer de mama em até 30%. Isto é o que chamamos de prevenção primária – medidas que diminuem o risco do surgimento do câncer.

    Dr. Fabiano M. Serfaty: Como fazer o autoexame das mamas e por que ele não é suficiente para detectar o câncer de mama?

    Eduardo Millen: Idealmente o diagnóstico do câncer de mama deve ser feito em fase não sintomática. É o que chamamos de prevenção secundária.  A Mamografia é o exame idealmente indicado para rastreamento de câncer de mama na população em geral, com capacidade de detectar microcalcificações de 1-2 mm de dimensão, em fases muito precoces. No autoexame da mama, as mulheres detectam nódulos em torno de 3-0 cm. Na indisponibilidade de acesso à mamografia, ainda muito comum em nosso meio, sobretudo nas mulheres com menos de 50 anos, usuárias do sistema único de saúde, este acaba sendo o método de detecção principal do câncer de mama. Além de detectar mais tardiamente, o autoexame leva a muitas interpretações errôneas por parte das mulheres, muitas vezes levando a preocupações desnecessárias. Apesar de não ser o método idealmente recomendável, quando é a única opção disponível, recomenda-se que seja feito na primeira semana após a menstruação. A mulher deve olhar-se no espelho à procura de alguma diferença entre as mamas, e palpar as mamas com as mãos contrárias, tentando cobrir toda a extensão da mama, apalpando-se cuidadosamente com a ponta dos dedos.

    Dr. Fabiano M. Serfaty:  Qual o exame ideal para as mulheres que tem próteses de mamas?

    Dr.Eduardo Millen: Esta talvez seja a dúvida mais frequente de muitas mulheres e de alguns profissionais de saúde. O exame que deve ser feito anualmente em todas as mulheres maiores de 40 anos é a mamografia, independentemente de ter ou não próteses de mama. A Ultrassonografia das mamas pode e comumente é utilizada como complemento à mamografia, sobretudo nas mulheres mais jovens e com mamas mais densas. A Ressonância magnética não deve ser usada de rotina no rastreio de câncer de mama em mulheres com próteses. Ela é reservada a situações especiais, nos grupos de maior risco de desenvolvimento de câncer de mama ou na solução de dúvidas diagnósticas.

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    Dr. Fabiano M. Serfaty: O que é a reposição hormonal e como ela pode influenciar no desenvolvimento do câncer de mama?

    Dr.Eduardo Millen: A menopausa pode ter vários impactos na saúde física e no bem-estar psíquico e social das mulheres. Com a redução gradativa e parada de produção dos hormônios femininos pelo ovário (estrogênio e progesterona), muitas mulheres sentem muitos sintomas desconfortáveis, com redução importante da qualidade de vida. A terapia hormonal (TH) consiste na administração destes hormônios, com intuito de reduzir estes sintomas. Cerca de 70% dos tumores que ocorrem na mama apresentam receptores desses hormônios e podem ser ativados por eles. Em estudos previamente realizados no início dos anos 2000, o uso combinado do estrogênio e progesterona, por mais de 5 anos, associou-se a um pequeno aumento do número de casos de câncer, quando comparados ao uso de placebo. Nas pacientes que não tinham mais o útero, isto não ocorreu quando apenas o estrogênio foi utilizado. Esquemas atuais de reposição hormonal, usam compostos diferentes dos utilizados nos estudos iniciais, tendo minimizado a dose da progesterona. Hoje recomenda-se que o uso de TH seja individualizado caso a caso, definindo a necessidade e melhor estratégia.

    Dr. Fabiano M. Serfaty: Mulher depois de ter tido um câncer de mama pode repor hormônios?

    Dr.Eduardo Millen: Não existem estudos confiáveis que atestem a segurança da reposição hormonal da menopausa, mesmo nas mulheres que tiveram tumores sem receptores hormonais.

    Dr. Fabiano M. Serfaty:  O uso de anticoncepcional oral pode aumentar as chances de ter câncer de mama? E o DIU de levonogestrel?

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    Dr.Eduardo Millen: Três grandes estudos de corte internacionais pesquisaram sobre os métodos contraceptivos hormonais e associação com câncer de mama. De forma geral, podemos dizer que a contracepção hormonal é segura, seja com pílulas ou DIU, e não aumenta o risco de câncer de mama.

    Dr. Fabiano M. Serfaty: O câncer de mama só afeta mulheres com histórico familiar da doença?

    Dr.Eduardo Millen: Estima-se que apenas 10% dos tumores de mama ocorram em mulheres com história familiar de câncer. Em grande estudo realizado com mais de 60.000 mulheres, apenas 5.6% dos casos de câncer de mama apresentavam de fato um gene alterado e responsável pelo seu surgimento.Isto significa que o estilo de vida tem um impacto muito maior no risco de câncer de mama do que a genética.

    Dr. Fabiano M. Serfaty: O câncer de mama tem cura?

    Dr.Eduardo Millen: Cada dia que passa temos melhorado o arsenal terapêutico e aumentado consideravelmente as chances de cura do câncer de mama. Quanto mais precocemente detectado, maiores são as chances de cura e menor o impacto do tratamento. Por isso, insistimos nas campanhas de detecção precoce com mamografia anual a partir dos 40 anos.

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     Dr. Fabiano M. Serfaty: Qual relação da obesidade com câncer de mama?

    Dr.Eduardo Millen: Após a menopausa, a principal fonte de estrogênio advém do tecido adiposo periférico. Quanto maior o índice de massa corporal (IMC), maior a produção de estrogênio circulante, que pode ser um dos mecanismos associados ao maior risco de câncer de mama nas mulheres na pós menopausa. Além da produção do estrogênio, a obesidade está ligada a síndrome metabólica, normalmente associada a maior resistência a insulina e outras alterações metabólicas que podem promover o crescimento celular desordenado. A insulina quando em excesso, promove aumento do número de camadas celulares, além de liberar fatores que sabidamente ativam a chamada cascata de ativação das células tumorais (carcinogênese). Nas mulheres na pré menopausa, a obesidade não interfere no risco de câncer de mama. Mas recomenda-se, de modo geral, controle do peso, dieta saudável e exercícios físicos em todas as fases da vida.

    Dr. Fabiano M. Serfaty: Como o exercício e a alimentação podem auxiliar na prevenção e no tratamento do câncer de mama?

    Dr.Eduardo Millen: Estes são os verdadeiros pilares da prevenção primária (redução do risco de ter um tumor). Sabe-se que uma dieta saudável, associada a exercícios físicos e controle do peso podem reduzir o risco de câncer de mama em 30%. A atividade física, além de outros fatores, aumenta o metabolismo celular, reduz as taxas de colesterol, da glicose na circulação sanguínea e melhora a resistência insulínica. Uma vez controlados, reduz-se a liberação dos fatores de crescimento insulina símile, fatores de necrose tumoral e outros fatores associados ao desenvolvimento tumoral. Diversos outros mecanismos benéficos têm se comprovado com a atividade física na redução do risco de vários tumores. Além do controle de peso e exercício, muito tem ser estudado sobre o aumento do risco de câncer de mama com o consumo regular de álcool. De acordo com a American Cancer Society, uma dose de álcool por dia aumenta o risco de câncer de mama em 7% a 10%.

      Dr. Fabiano M. Serfaty: Como Prevenir o câncer de mama?

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     Dr.Eduardo Millen:  Esta é a base da Medicina Moderna: prevenção! Sabemos que medidas simples como redução do consumo de álcool, controle de peso, exercícios físicos regulares, com consequente melhora dos controles glicêmicos e do colesterol, são capazes de reduzir em cerca de 30% o surgimento de diversos tumores. A estas medidas chamamos de prevenção primária. Apesar das mesmas, muitas mulheres ainda poderão desenvolver o câncer de mama. Por isso recomendamos que estejam atentas à realização da mamografia anual a partir dos 40 anos e realização de consultas médicas regulares. Uma vez que não foi possível impedir o surgimento, detectar na fase mais precoce é essencial para aumentarmos as chances de cura e reduzirmos o impacto do tratamento na vida destas mulheres.

    Profissional convidado:

    Dr. Eduardo Millen

    Médico Mastologista;

    Co-Fundador do Portal Câncer de Mama Brasil;

    Mestre e Doutor em Medicina pela Unifesp;

    Fellowship do Instituto Europeu de Oncologia;

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    Membro da American Society of Breast Surgeons.

     

    Fontes:

    1 –Breast Cancer Risk and Prevention. American Cancer Society 2023. https://www.cancer.org/cancer/types/breast-cancer/risk-and-prevention.html\

    2. Bagnard et al. (2014). Alcohol consumption and site-specific cancer risk: a comprehensive dose–response meta-analysis. British Journal of Cancer, 112(3), 580–593. doi:10.1038/bjc.2014.579. 

    3- Harriet Rumgay et al. Global burden of cancer in 2020 attributable to alcohol consumption: a population-based study. Lancet Oncology. Vol 22, (8), P1071-1080, 2021.

    4. Urban LABD, Chala LF, Paula IB, et al. Recomendações do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem, da Sociedade Brasileira de Mastologia e da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia para o rastreamento do câncer de mama no Brasil. Radiol Bras. 2023;56:207–214.

    5. Rozenberg et al. Menopausal hormone Therapy and breast cancer risk. Best Pract Res Clin Endocrinol Metab. 2021. Dec;35(6):101577. 

    6. Satish et al. Re-evaluating the association between hormonal contraception and Breast Cancer Risk. Breast Cancer: Targets and Therapy 2023:15 227–235.

    7. National Comprehensive Cancer Network Guildelines. Detection, Prevention and Risk Reduction Guideline 2023.. https://www.nccn.org/guidelines/category_2.

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