Imagem Blog

Fábio Barbirato

Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Psiquiatra infantil

Altas Habilidades ou Superdotação: Os desafios de ser Super

Superdotados demandam um olhar cuidadoso da comunidade escolar, dos profissionais de saúde e de suas famílias

Por Fábio_Barbirato Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
10 fev 2025, 13h43
Menina diante de um quadro escolar com uma lâmpada desenhada.
O superdotado intelectual é aquele que apresenta uma capacidade cognitiva muito superior à média da população. (Freepik/Reprodução)
Continua após publicidade

No Brasil, os termos Altas Habilidades ou Superdotação são sinônimos, definidos pelo Ministério da Educação (MEC) como a presença de elevado potencial intelectual, acadêmico, de liderança, psicomotor ou artístico, de forma isolada ou combinada. Essas características incluem também grande criatividade e envolvimento em áreas de interesse.

Embora não sejam classificadas como doença ou transtorno, as particularidades desses indivíduos têm ganhado destaque em congressos como os da Associação Brasileira de Psiquiatria e da Associação Internacional de Psiquiatria da Infância e Adolescência (IACAPAP). Superdotados demandam um olhar cuidadoso da comunidade escolar, dos profissionais de saúde e de suas famílias, para que mitos sejam quebrados, expectativas ajustadas e suas necessidades adequadamente atendidas.

A coluna desta semana conversou sobre o tema com Liz Helena Pessoa, psiquiatra com título pela ABP e AMB, Pediatra pelo HMSA, Médica assistente do Ambulatório de Psiquiatria da Infância e Adolescência da Santa Casa do Rio de Janeiro e Preceptora dos Alunos do Curso em Psiquiatria da Infância e Adolescência da Santa Casa da Misericórdia.

As polêmicas sobre essa condição já começam com a nomenclatura, não é verdade?

Certamente. Nos Estados Unidos, usa-se gifted, que significa “presenteado” ou “dotado”. Já em artigos ingleses e franceses aparecem termos como High Ability e Haute Potentiel (alto potencial). Em Portugal, fala-se em Sobredotação. No Brasil, adotamos Altas Habilidades ou Superdotação, termos que também geram debate: o primeiro é uma tradução literal, enquanto o segundo pode carregar o estigma de “super-herói intelectual”, reforçando mitos como alta performance universal ou ausência de dificuldades, o que não corresponde à realidade.

Aproveitando essa resposta, seria importante esclarecer a diferença de superdotado para gênio.

Continua após a publicidade

Este é um outro mito. O superdotado intelectual é aquele que apresenta uma capacidade cognitiva muito superior à média da população, entretanto, gênio é aquele superdotado que fez da sua produção intelectual um legado, uma modificação, algo de impactante para a sociedade.

Quais desafios essas crianças costumam enfrentar?

Grande parte dos desafios está relacionada a assincronia do desenvolvimento, podendo inclusive levar a suspeita equivocada de transtornos psiquiátricos. Por exemplo, uma criança costuma até os 7 anos aceitar os conceitos morais ensinados por um adulto, a partir de 8 anos, já tem uma moral autônoma, critica, analisa, questiona. Quando tenho uma criança de 4 anos, operando cognitivamente como uma de 8 anos, facilmente essa criança será rotulada como desafiadora. O mesmo conceito podemos usar para os interesses e brincadeiras, que podem ser muito díspares das crianças de sua idade, dificultando as relações de amizade.

É muito comum recebermos pacientes com diagnóstico de autismo, quando na realidade trata-se de altas habilidades.

Continua após a publicidade

A confusão entre superdotação e autismo acontece porque algumas características das crianças superdotadas podem ser facilmente interpretadas como sinais de autismo, especialmente quando não olhamos com cuidado. Kazimierz Dąbrowski, um psiquiatra e psicólogo polonês, descreveu algo chamado sobreexcitabilidades, que são intensidades características de crianças com altas habilidades.

Por exemplo, essas crianças podem ter uma sensibilidade maior a estímulos como sons, cheiros e texturas, o que pode lembrar os desafios sensoriais comuns no autismo. Elas também têm um desejo muito intenso de aprender, que muitas vezes é confundido com hiperfoco, além de apresentarem uma energia acima da média e uma intensidade emocional que, para quem observa de fora, pode parecer dificuldade em regular as emoções.

Na questão social, a diferença é ainda mais sutil. A criança superdotada geralmente quer se comunicar e trocar ideias, mas, muitas vezes, não encontra colegas que compartilhem os mesmos interesses, o que pode fazê-la parecer distante ou isolada. Já no caso do autismo, a dificuldade social está mais relacionada à maneira de compreender ou participar dessas interações, e não tanto aos interesses em si. Por isso, é essencial que essas características sejam avaliadas com muita atenção e por profissionais capacitados, para que se evitem interpretações erradas e diagnósticos equivocados.

 

Continua após a publicidade

A mesma lógica pode ser usada para o TDAH?

Sim! A criança superdotada às vezes parece uma criança hiperativa, seja por sua sobreexcitabilidade motora, seja por não se sentir desafiada em sala de aula, ficar entediada ao terminar seu dever e ir conversar com os colegas. Além disso, o fato de muitas vezes ter uma capacidade imaginativa apurada leva a confundir com desatenção, parecendo estar no “mundo da Lua”. Importante diferenciar essas questões, inclusive porque quando ocorrem juntas, o diagnóstico de TDAH tende a ser tardio.

Exatamente, importante deixar claro que pessoas com altas habilidades não estão livres de Transtornos psiquiátricos somente por terem uma capacidade cognitiva muito superior, certo?

Inclusive, nestes casos em que ocorrem com autismo e TDAH, costuma-se dar o nome de dupla excepcionalidade. Sendo interessante também esclarecer que os Transtornos Específicos de Aprendizagem, como dislexia e discalculia, podem acompanhar a identificação de altas habilidades. E os artigos científico são claros em afirmar que o sofrimento dessas crianças é muito significativo, pois elas, suas famílias e professores não compreendem que é possível estar aquém de seus amigos em habilidades específicas como leitura, por exemplo, mesmo tendo uma inteligência muito superior.

Continua após a publicidade

Não é um transtorno, não é uma doença, confere uma capacidade cognitiva muito superior à média, então é bom ser superdotado?

Resposta: É um desafio para todos! Especialmente porque o principal mito a ser quebrado é que essa criança é superdotada e não um “super-herói”. Ela enfrentará dificuldades como qualquer criança. No filme “Homem-Aranha”, há uma frase que diz: “Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”. Assim, embora a identificação de superdotação seja extremamente importante, é essencial que a família entenda que ser superdotado não significa estar isento de obstáculos, não garante um desempenho escolar excelente e tampouco assegura um futuro profissional brilhante. Todo comportamento que foge a um padrão tem suas particularidades e pode trazer facilidades, mas também dificuldades. Ao perceber as diferenças e assincronias no desenvolvimento, é essencial lembrar que as crianças geralmente buscam a aceitação do seu grupo. Quando elas percebem que seus interesses podem divergir dos amigos, isso pode gerar uma grande expectativa em relação ao meio social. Além disso, essas crianças comumente se impõem exigências rigorosas, apresentam perfeccionismo exacerbado, forte senso de justiça e empatia, e ainda podem enfrentar um elevado grau de expectativa por parte da família e da escola. Portanto, é fundamental oferecer um olhar individualizado para apoiar essas crianças em suas jornadas.

Publicidade

Essa é uma matéria fechada para assinantes.
Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

Domine o fato. Confie na fonte.
10 grandes marcas em uma única assinatura digital
Impressa + Digital no App
Impressa + Digital
Impressa + Digital no App

Informação de qualidade e confiável, a apenas um clique.

Assinando Veja você recebe mensalmente Veja Rio* e tem acesso ilimitado ao site e às edições digitais nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.
*Assinantes da cidade do RJ

a partir de R$ 29,90/mês

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.