Bullying virtual: o que é e como proteger seu filho?
Danoso e covarde, comportamento acontece nas redes sociais e nos grupos de mensagens
Semana após semana, ouvimos nos consultórios o aumento de casos de cyberbullying (ou bullying virtual) entre adolescentes. Não que o bullying presencial tenha deixado de existir, ao contrário. Mas o bullying virtual é ainda mais covarde porque é praticado sob a certeza do anonimato, escondido por trás de telas de computador ou celular.
Mas afinal, o que é o bullying virtual? São aqueles comportamentos que caracterizam crueldade com outros, seja enviando ou postando material prejudicial a terceiros usando meios tecnológicos; um indivíduo ou grupo de pessoas que se valem de uma informação ou comunicação envolvendo tecnologia para assediar ou ameaçar, deliberada e repetidamente uma pessoa ou um grupo (seja por razões étnicas, raciais, de gênero, religiosas etc). Ou seja: vai desde o envio de um vírus por e-mail à criação de um perfil falso na rede social.
O cyberbullying pode ser muito mais cruel porque, muitas vezes, as vítimas desconhecem a identidade do agressor que as está difamando ou até mesmo a razão dos ataques. Além disso, a capacidade de viralizar é incontrolável e crescente. Outro fator crítico é que muitos adultos não têm conhecimento técnico para monitorar o que é postado pelos filhos – ou até mesmo reagir ao conteúdo compartilhado. Isso faz com que muitos pais sejam surpreendidos quando informados que seu filho está praticando bullying virtual contra alguém.
Na geração nativa digital, o cyberbullying pode ser a exclusão compulsória de uma pessoa do grupo de WhatsApp até o compartilhamento de vídeos de jovens fazendo sexo – filmagem captada sem a autorização de uma das partes envolvidas.
De acordo com pesquisa conduzida pela organização sem fins lucrativos Crime Luta, em 2006, 30% dos adolescentes com idades entre 12 e 17 anos e 16% das crianças entre 6 e 11 anos tinham sofrido tom ameaçador ou coisas embaraçosas ditas online sobre eles. Quando questionados sobre o conhecimento de casos de cyberbullying ocorridos na escola, esse número sobe para 45% entre as crianças e 30% dos adolescentes.
No Brasil, a Intel Security desenvolveu uma pesquisa com a finalidade de mostrar como crianças e adolescentes lidam com esse problema. O estudo foi realizado com 507 crianças e adolescentes de idades entre 8 e 16 anos, e concluiu que a maioria (66%) já presenciou casos de agressões nas mídias sociais. Cerca de 21% afirmaram que já sofreram cyberbullying e grande parte das vítimas tem entre 13 e 16 anos.
Entre as atividades realizadas em redes sociais por 24% dos entrevistados da pesquisa, que são consideradas cyberbullying, 14% das crianças admitiram falar mal de uma pessoa para outra, 13% afirmaram tirar sarro da aparência de alguém, 7% marcaram pessoas em fotos vexatórias, 3% ameaçaram alguém, 3% assumiram zombar da sexualidade de outro, 2% disseram já terem postado intencionalmente sobre eventos em que um colega foi excluído, entre outros casos.
As crianças entrevistadas justificaram o comportamento com três principais motivos: defesa, porque a pessoa afetada as tratou mal (36%); por simplesmente não gostar da pessoa (24%); e para acompanhar outras pessoas que já estavam praticando o cyberbullying.
A crueldade do ato torna-se ainda mais chocante ao vermos que as principais vítimas do cyberbullying são grupos sociais fragilizados, como deprimidos, fóbicos sociais, pessoas diagnosticadas com Transtorno do Espectro Austista (TEA) e déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). A diferença, portanto, ao invés de ser acolhida é castigada.
É preciso agir contra o cyberbullying. Pais e responsáveis têm que estar alertas para servirem de apoio aos jovens. Ao contrário do que ocorria há alguns anos, a internet não é mais um território sem lei. Uma delegacia se dedica exclusivamente a investigar e punir crimes virtuais. É fundamental que jovens e seus pais saibam que certos comportamentos, como racismo, preconceito religioso e homofobia podem ser facilmente responsabilizados e punidos.
Fabio Barbirato é psiquiatra pela ABP/CFM e responsável pelo Setor de Psiquiatria Infantil do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na pós-graduação em Medicina e Psicologia da PUC-Rio. É autor dos livros “A mente do seu filho” e “O menino que nunca sorriu & outras histórias”. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).