As aulas das faculdades estão prestes a começar. Quem já frequentou uma universidade sabe bem: é um dos momentos mais fascinantes da vida. É no ensino superior que um novo mundo se abre, quando ganhamos responsabilidades, fazemos descobertas, criamos novas amizades – que, se bem cultivadas, nos acompanham nas décadas seguintes, mesmo depois de formados. O convívio em sala de aula, a riqueza da diversidade dos demais alunos e dos professores, cada um com suas histórias e referências. Sem falar nas festas…
Mas 2021, assim como 2020, reserva um ano letivo diferente. Muitas instituições manterão as aulas online, num formato que tivemos todos que nos adaptar às pressas. Nada de amizades construídas sob pilotis, a cumplicidade em torno das confraternizações, o prazer de olhar nos olhos e aprender algo novo e sobre o qual há interesse genuíno.
Se para quem já passou da idade da graduação como eu, o isolamento social é uma restrição necessária, porém frustrante e incômoda, o que dizer para quem está no auge da juventude, cheio de energia e hormônios, querendo aproveitar aqueles que são alguns dos melhores anos da vida?
“O desespero dos jovens aumenta quanto mais a crise da Covid-19 se arrasta”, sentenciou o The New York Times esta semana. Segundo o jornal americano, estamos vivendo uma “pandemia de saúde mental que deveria ser tratada com a mesma seriedade com que se trata o coronavírus”.
Foram muitos impactos na vida de todos nós: a interrupção de sonhos e projetos, a perda de primeiros empregos, a suspensão de aulas, a volta para a casa dos pais, a vida social reduzida ao sofá da sala e ao Zoom. No entanto, os jovens tem menos vivência e arcabouço emocional para lidarem com tantas adversidades em tão pouco tempo. O atraso na fila das vacinas aumenta ainda mais a angústia pelo dia que não parece chegar tão cedo. A sensação de “tempo perdido” é uma constante nos consultórios. A multidão nas ruas e as festas clandestinas interditadas durante o Carnaval explicam – mas não justificam, claro – esse sentimento. Pesquisa de 2020 da Organização Internacional do Trabalho contemplando 112 países concluiu que dois terços dos jovens entre 18 e 29 anos estavam sob quadros de depressão e ansiedade.
“A pandemia interrompeu as nossas vidas de forma tão drástica que eu me pergunto pra quê estar aqui. Nunca tive tantos pensamentos suicidas”, afirma uma das entrevistadas, de 22 anos. Pela minha experiência e de muitos colegas, a situação, infelizmente, não foi diferente no Brasil. O senso de imediatismo inerente à idade e a falta de perspectiva de futuro estão deixando sequelas significativas na saúde mental dos jovens.
O momento difícil vai passar. Mas enquanto esse dia não chega, a figura dos pais, avós, professores e chefes é fundamental. Eles precisam exercer a empatia e dar esperança e suporte emocional aos mais jovens: basta lembrar do apetite que tinham pela vida aos 18 anos.
Fabio Barbirato é psiquiatra pela ABP/CFM e responsável pelo Setor de Psiquiatria Infantil do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na Pós Graduação em Medicina e Psicologia da PUC-Rio. É autor dos livros “A mente do seu filho” e “O menino que nunca sorriu & outras histórias”. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).