Causou barulho nas redes sociais uma foto postada no Instagram pelo ator Cauã Raymond. A singela imagem era uma foto de família: ao lado do ator estão sua ex-mulher, a atriz Grazi Massafera, a filha deles, Sofia, e a atual mulher de Cauã, Mariana Goldfarb. O que causou o furor na mídia foi a tranquilidade e a elegância que a imagem transmite: um ex-casal que consegue conviver amistosamente com a nova parceira ou parceiro do antigo cônjuge.
O que deveria ser regra é exceção. Infelizmente, é mais comum do que se imagina o litígio que cerca os casais com o fim da união. Invariavelmente, a corda estica e arrebenta para o lado mais fraco: os filhos.
Em meu livro “O menino que nunca sorriu & outras histórias”, relato o caso do menino que atendemos na Santa Casa e que, durante as consultas, insistia que queria ser presidente do Brasil. Um dia ele revelou a razão do desejo insistente. “Presidente não é quem manda? Então, eu quero ser presidente do Brasil para mandar meus pais pararem de brigar”, explicou ele, exausto de estar exposto ao divórcio nada amigável dos pais.
O que os casais precisam entender é os casamentos acabam, mas os filhos são um laço que os une para sempre. Crianças são como esponjas: elas aprendem essencialmente pelo exemplo do que ouvem e veem. A saúde mental desse elo em comum deve ser poupada de situações vexaminosas ou violentas. Pais separados devem dialogar sobre o tipo de educação que estão transmitindo aos filhos. As regras da casa de um devem valer na casa do outro: se dorme às 21h na casa da mãe, não deve ir para cama de madrugada na casa do pai. Tudo que transmita à criança uma sensação de continuidade e estabilidade é altamente recomendável.
E se o divórcio em si já é um desafio a ser transposto, a chegada de um novo namorada ou namorado levanta uma série de questões e preocupações. Nada de apresentar uma nova namorada por semana: as crianças só devem ser apresentadas aos novos parceiros dos pais, por exemplo, quando o relacionamento for estável. Ao novo integrante da família, cabe se adequar ao estilo de criação dos pais, sendo uma nova fonte de confiança, carinho e segurança.
Novas configurações familiares são cada vez mais frequentes, em diferentes formações. A foto de Cauã, Grazi, Mariana e Sofia transmite o que todo profissional de saúde infantil busca para seus pacientes: uma criança amparada, acolhida, cuidada e protegida. Parabéns a eles pelo exemplo!
Fabio Barbirato é psiquiatra pela ABP/CFM e responsável pelo Setor de Psiquiatria Infantil do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na Pós Graduação em Medicina e Psicologia da PUC-Rio. É autor dos livros “A mente do seu filho” e “O menino que nunca sorriu & outras histórias”. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).