Fábio Barbirato

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Psiquiatra infantil
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Como a tecnologia impacta a qualidade de vida de crianças e adolescentes?

Tempo e frequência diante das telas pode ser bom ou ruim, depende do uso que se faz

Por Fabio Barbirato
10 out 2023, 10h11
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  • É uma unanimidade: nossa capacidade de concentração anda dispersa. A leitura de um livro, nos dias de hoje, leva o dobro do tempo. São poucas as pessoas que conseguem assistir um filme na televisão resistindo a pegar no celular, mesmo que seja só para conferir se chegou alguma mensagem. Se está difícil para nós, adultos, imagine para as crianças e adolescentes, nativos digitais.

    O Brasil é o segundo país com maior tempo de tela do mundo, com 56,6% das horas acordadas diante de telas, perdendo apenas para a África do Sul (58,2%). O japão, por exemplo, fica apenas 21,7% do tempo acordado diante das telas.

    A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) tem suas recomendações sobre o tempo e a idade que as crianças devem ser expostas a telas: até uma hora por dia para crianças com idade entre 2 e 5 anos, e duas horas, como o limite máximo, para crianças com idade entre 6 e 10 anos. Já para os adolescentes, com idades entre 11 e 18 anos, a indicação é de, no máximo, 3 horas por dia, incluindo o uso de videogames.

    A pandemia de Covid-19, em 2020, agravou ainda mais este comportamento. Pesquisas apontam um aumento de 52% no tempo diante de telas de jovens entre 12 e 18 anos, desde então.

    Aos poucos, os prejuízos à saúde e a qualidade de vida dos menores vão se apresentando, com déficit no desenvolvimento da linguagem, impactos na cognição (hiperatividade, comportamentos impulsivos e dificuldade de autorregulação), na função motora (da escrita manual ao simples ato de amarrar os cadarços), além de danos ao sono reparador. Além disso, pesquisas apontam uma relação direta entre a quantidade excessiva de exposição às telas e a piora do desempenho acadêmico.

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    O tempo de tela tem forte associação com adiposidade e prevalência de sobrepeso na infância e adolescência. Crianças que reduziram o uso de telas tiveram reduções significativas no comportamento sedentário, bem como aumentos mais lentos no Índice de Massa Corporal (IMC).

    Uma análise que incluiu 58 estudos de 23 países investigou o desempenho acadêmico de 106 mil jovens de 4 a 18 anos, avaliados por notas escolares, testes padronizados e reprovação acadêmica, além de tempo e frequência de uso de computador, internet, telefone celular, televisão, videogame e uso geral de mídia de tela. Ficou comprovado que entre crianças de 4 a 12 anos, o tempo diante da TV afetou negativamente o desempenho em linguagem e matemática.

    Outro estudo, realizado na Austrália com 1.704 crianças entre 11 e 17 anos, mostrou que o uso da internet, superior a 4 horas durante a semana, tende a ser negativamente associado ao desempenho acadêmico, especialmente em leitura e matemática. Já o uso da internet superior a 2 h durante os finais de semana está positivamente associado ao desempenho acadêmico, particularmente tendo uma melhor pontuação em leitura e escrita. Ou seja, o uso não acadêmico da internet durante a semana, particularmente, por mais de 4 horas é prejudicial para o desempenho acadêmico, enquanto o uso da internet nos finais de semana provavelmente terá um efeito positivo no desempenho acadêmico.

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    Mas não se pode dizer que o uso de telas seja apenas ruim. Os resultados do estudo australiano indicaram que o uso da internet, por si só, não é prejudicial ao desempenho acadêmico, desde que usado de forma moderada, principalmente, se for assegurado uso muito limitado nos dias de semana. Além disso, ficou comprovado que ainda que o tempo (dias úteis ou fins de semana) de uso da internet é um fator que precisa ser considerado.

    A diferença entre o remédio e o veneno é a dose, diz a sabedoria popular. O mesmo se aplica também ao tempo exposto às telas, bem como o conteúdo consumido. Cabe aos pais esta supervisão cuidadosa, em nome da saúde e do bem-estar dos filhos.

    Fabio Barbirato é psiquiatra pela ABP/CFM e responsável pelo Setor de Psiquiatria Infantil do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na pós-graduação em Medicina e Psicologia da PUC-Rio. É autor dos livros “A mente do seu filho” e “O menino que nunca sorriu & outras histórias”. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).

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