Deu no “New York Times”: onda de suicídio de estudantes leva escolas a reabrirem as portas em Los Angeles. De acordo com os pais, o isolamento imposto pela pandemia fez os filhos se sentirem “desconectados” ou “deixados para trás”. E não é só nos Estados Unidos. Pesquisa anual feita com ingleses entre 15 e 21 anos publicada pelo jornal “The Guardian” concluiu que os jovens correm risco de desistir do futuro: 25% se dizem incapazes de lidar com a própria vida.
Desde março de 2020, um sistema que monitora a saúde mental dos jovens na cidade americana registrou 3.100 alertas, de auto mutilação, pedidos de ajuda ou pensamentos suicidas. Ao final do ano, 18 adolescentes tinham cometido suicídio. Os números chamaram a atenção das autoridades locais, que decidiram pela reabertura das escolas.
Em entrevistas à mídia, secretários de Educação tem sido incisivos na defesa da volta às aulas para minorar eventuais danos à saúde mental dos alunos. As estatísticas mostram que, com a escola fechada, desaparece a rede de apoio às famílias e aumenta a violência contra as crianças. Segundo o Ministério Público Estadual, houve um crescimento de 50% de ocorrências apenas no Rio de Janeiro.
Crianças são significativamente menos suscetíveis ao vírus, representam apenas 2,4% dos casos globais, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Estudos internacionais tem mostrado que o risco de contaminação em escolas é muito baixo. Há que se atentar aos protocolos para preservar a saúde dos professores: turmas reduzidas, aulas em dias alternados, distanciamento entre as mesas e verificação dos sintomas.
Somos seres sociais, não nascemos para ficar isolados por tanto tempo. Se o prejuizo é significativo para os adultos, é ainda maior às crianças. É nesta fase da vida que o sistema cognitivo deles está em pleno desenvolvimento. Daí podermos imaginar o impacto depois de cruzarem um ano tendo aulas online, sem recreio, sem coleguinhas, sem professors presenciais: aumento significativo dos casos de depressão e ansiedade.
A decisão sobre os filhos voltarem ou não a frequentar uma sala de aula compete aos pais, considerando uma série de implicações acerca da realidade de cada família. O inegável é a importância trazida pelo convivio social na escola. É a ela que temos que estar atentos, pelo bem das próprias crianças.
Fabio Barbirato é psiquiatra pela ABP/CFM e responsável pelo Setor de Psiquiatria Infantil do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na Pós Graduação em Medicina e Psicologia da PUC-Rio. É autor dos livros “A mente do seu filho” e “O menino que nunca sorriu & outras histórias”. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).