A partir desta semana, as férias do meio do ano acabam oficialmente para muitas instituições de ensino. Depois de um longo período de um ano e meio alternando-se no sistema híbrido de aulas online e presencial, finalmente prenuncia-se a retomada das aulas de forma presencial em tempo integral, com a imunização completa dos profissionais de educação até setembro.
Já não era sem tempo. Com altos índices de contaminação e demora na vacinação, o Brasil foi um dos países que deixou as escolas fechadas por mais tempo no mundo: em 2020, foram 279 dias de suspensão das aulas presenciais durante o ano letivo. Agora, começamos a ter dimensão do preço que isso irá custar às nossas crianças.
Pesquisa Datafolha, encomendada pelo Instituto Lemann e Instituto Natura, divulgada esta semana apresentou dados sobre o impacto da falta da escola na vida de crianças e adolescentes. O tempo dedicado ao ensino durante a pandemia foi de apenas 2 horas e 53 minutos, bem inferior às cinco horas mínimas de uma jornada média de ensino. Foram ouvidos 1.315 pais, mães e responsáveis, representando 2.151 crianças e adolescentes entre 4 e 18 anos.
A pesquisa trouxe outros dados interessantes. Durante a pandemia, ganharam terrenos atividades que se não são exatamente saudáveis, pouco acrescentam à educação formal: quase metade das famílias (43%) afirmam que os filhos aumentaram o tempo de uso de TV. Mais de um terço (37%) jogou videogame por mais tempo do que estava habituado.
Ainda de acordo com o estudo, o fechamento das escolas também afetou diretamente a saúde mental e comportamental das crianças. Mais de 50% delas teve ganho de peso, 38% relataram sentir mais medo, 44% se disseram mais tristes e 34% perderam o interesse pela escola.
A tragédia fica ainda maior se considerarmos que a maioria das crianças em instituição pública depende da escola para se alimentar. A estimativa é que quase três milhões de alunos perderam as refeições que faziam na escola.
É preciso saber que o risco de contaminação entre as crianças é baixíssimo, segundo a própria OMS. É hora de tentar recuperar os prejuízos dos últimos 18 meses afastados dos bancos escolares. Os riscos de estarem fora do colégio, com o aprendizado prejudicado e o convívio social comprometido, são muito maiores do que os implícitos na volta das aulas presenciais. Que as crianças voltem às aulas e possam ter, de novo, um pouco do senso de normalidade que lhes foi sonegado desde março de 2020.
Fabio Barbirato é psiquiatra pela ABP/CFM e responsável pelo Setor de Psiquiatria Infantil do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na Pós Graduação em Medicina e Psicologia da PUC-Rio. É autor dos livros “A mente do seu filho” e “O menino que nunca sorriu & outras histórias”. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).