Denúncias contra o Facebook: o que isso tem a ver com seu filho?
Uso excessivo de telas e manipulação das redes são alguns dos perigos
Quem trabalha no atendimento às crianças conhece bem essa realidade: elas têm a tendência a passar horas demais diante de telas como celular, tablete e computador. Para além do tempo, ainda é preciso estar atento ao tipo de conteúdo eles estão consumindo, seja nas redes sociais, no YouTube ou mesmo nos grupos de WhatsApp com coleguinhas.
Esse ponto de atenção voltou à tona com força esta semana, com o depoimento ao Senado americano de Frances Haugen, ex-gerente de produtos do Facebook, companhia que também controla o Instagram e o WhatsApp. Segundo ela, a empresa prioriza o lucro ao invés de pessoas, esconde informações e tem consciência de que as redes sociais podem ser perigosas para crianças. “Instagram pode levar crianças de assuntos muito inócuos, como receitas saudáveis, a conteúdo anoréxico em um curto período de tempo. O Facebook sabe que está levando os jovens usuários ao conteúdo de anorexia”, cravou ela.
A fala de Haugen não chega a ser exatamente uma surpresa para quem está atento às armadilhas dos algoritmos, mas ganha ainda mais relevância e peso por vir de uma pessoa de dentro da indústria, que até outro dia fazia parte dessa engenharia. Transtornos como ansiedade, depressão e anorexia são cada vez mais comuns em jovens, induzidos pela dinâmica e pelo (falso) estilo de vida propagado nas redes sociais. De acordo com um estudo indiano, realizada por médicos do Hospital JK Lone, em Jaipur, cerca de 65% das crianças estão viciadas em dispositivos e são incapazes de manter distância deles mesmo que por 30 minutos.
Como se não bastassem todas as questões de saúde mental, oftalmologistas destacam que as crianças estão cada vez mais míopes, e com menos idade. Pesquisas recentes de diferentes universidades da China, Canadá e América Latina apontam neste sentido. Um estudo publicado na revista JAMA Ophthalmology mostrou que os casos de miopia entre crianças de 6 a 13 anos quase triplicaram no último ano. Segundo os pesquisadores, a falta de atividades ao ar livre em decorrência da pandemia e o maior tempo em frente às telas contribuíram para esse crescimento.
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda até uma hora por dia de exposição às telas para crianças com idade entre 2 e 5 anos, e duas horas, como o limite máximo, para crianças com idade entre 6 e 10 anos. Já para os adolescentes, com idades entre 11 e 18 anos, a indicação é de, no máximo, 3 horas por dia, incluindo o uso de videogames. É papel dos pais estarem atentos ao número de horas e ao conteúdo que os filhos acessam pelo bem da saúde mental deles.
Fabio Barbirato é psiquiatra pela ABP/CFM e responsável pelo Setor de Psiquiatria Infantil do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na pós-graduação em Medicina e Psicologia da PUC-Rio. É autor dos livros “A mente do seu filho” e “O menino que nunca sorriu & outras histórias”. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).