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Fábio Barbirato

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Psiquiatra infantil

Dia do Autismo: 9 verdades e mentiras sobre o transtorno

Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo, em 02 de abril, é ótima oportunidade para esclarecer o que se sabe sobre o transtorno

Por Fabio Barbirato
26 mar 2025, 10h34
Criança brinca com brinquedo em formato de dinossauro nas cores do autismo.
Autismo: transtorno não é transmitido por vacinas ou alimentação. (Freepik/Reprodução)
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Existe um aumento exponencial de casos de autismo no mundo? Quais medicações podem ser usadas no tratamento do transtorno? Autismo tem cura? Aproveitando o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, respondemos as principais dúvidas de pais e responsáveis sobre o transtorno.

1) O que é Autismo?

A palavra autismo, tem como significado Isolamento Social. Ela foi utilizada pela primeira vez por Bleur, no início do século XX, para descrever esquizofrenia. Em 1943, Léo Kanner descreve um grupo de crianças com características de inflexibilidade, sem fala e isoladas. Na mesma década, Hans Asperger descreve um outro grupo de crianças com inflexibilidade e prejuízo na área social, mas sem comprometimento na linguagem.

Hoje chamamos de Transtorno Global do Desenvolvimento (pois ainda utilizamos o CID 10, já que o Ministério da Saúde adiou a vinda do CID 11 para o Brasil para 2027. Nem devemos utilizar o DSM 5, pois é um instrumento Americano, sem qualquer indicação para uso no Brasil ou outros países).

Existem várias hipóteses para a causa do transtorno. Os sintomas então do Transtorno do Desenvolvimento, temos atraso na fala (plena ou parcialmente), desenvolvimento social com atraso (ausente ou com pouca habilidade de se manter) e comportamento inflexível com ou sem estereotipais.

2) É verdade que há um aumento exponencial de casos de autismo no mundo?

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Em artigos recentes, há críticas importantes ao aumento relatado pelo CDC Americano, que sai de 1 caso em 10.000, nos anos 1990, para de 1 caso em 36, em 2024. Mas também é possível que o aumento de casos ocorra em função do maior conhecimento do autismo por pediatras (o primeiro médico das crianças) e com isto o diagnóstico é feito de forma precoce.

3) Como é feito o diagnóstico de Autismo?

O diagnóstico é totalmente clínico, com uma boa investigação com os pais sobre o desenvolvimento, observação e avaliação da criança. Testes com psicólogas ou fonoaudiólogas são complementares, mas não obrigatórios. A avaliação do desenvolvimento da criança é o principal passo.

4) Quais são as terapias eficazes para o tratamento do Autismo?

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Segundo a Sociedade Brasileira de Neuropediatria (2021) e Associação Brasileira de Psiquiatria (2024), as terapias eficazes são baseadas na abordagem Cognitiva Comportamental (Treinamento de Habilidades Sociais ou ABA), medicação para controle do impulso (agressividade); agitação psicomotora, inflexibilidade ou possíveis comorbidades. Além disso, é recomendado Fonoaudiologia, Terapia Ocupacional e Psicopedagogia. Não há nenhuma evidência científica quanto a dietas, endocanabinoides, musicoterapia, equoterapia entre outros.

5) O Autismo pode se apresentar combinado com outros transtornos, como ansiedade, depressão ou TDAH?

Sim, pacientes com Síndrome de Asperger (denominação ainda em uso no Brasil, de acordo com o CID 10), tem maior prevalência a desenvolver ansiedade e/ou depressão na adolescência ou juventude, comparado ao grupo de pacientes sem autismo. Quanto ao TDAH, de acordo com o CID 10, ele não é diagnosticado em autistas. No entanto, esta posição está sendo revista nas novas regras do CID 11, que entrará em vigor em 2027.

É importante ressaltar que este não é um diagnóstico fácil, já que crianças autistas, também podem apresentar agitação, assim como o TDAH (no autismo, ela seria psicomotora, já no TDAH seria motora). Trata-se de uma questão sútil, mas essencial para um diagnóstico preciso.

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6) Quais medicações podem ser usada no autismo?

No Brasil somente há liberação para o uso da risperidona.Mas pela FDA (órgão regulador americano) e o EMA (órgão regulador da Comunidade Europeia), já há liberação de medicações para agitação psicomotora e agressividade (aripripazol, lorazidona, entre outros), para inflexibilidade (a fluoxetina), para insônia (melatonina, quetiapina e risperidona). Além de medicações nas comorbidades TDAH (o metilfenidato e lisodextroanfetamina; a atomoxetina tem resultados baixos neste grupo).

7) Quais são os maiores mitos no autismo?

Infelizmente, circulam uma serie de mentiras e mitos sobre o autismo, que gera desinformação e condutas equivocadas. Dentre os mais graves, estão a afirmativa falsa de que o autismo pode ser causado por vacinas, que pode ser curado com dietas (como abstenção de lactose, glúten ou outras), que vitaminas podem “resolver” o quadro.

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O mito mais recente (e que é claramente criticado pelos grandes pesquisadores mundo afora, inclusive por nomes de referência, como Adi Aran, Sara Sheffer, entre outros) se refere aos endocanabinoides, seja CDB ou THC. Trata-se de uma verdadeira “indústria de mentiras” em torno ao autismo, prometendo mundos e fundos sem qualquer base científica. Não tenha dúvida: sempre que houver uma nova comprovação com base na ciência, os profissionais de saúde sérios serão os primeiros a adotá-los e divulga-los.

8) Autismo tem cura?

Não, assim como a maioria das enfermidades médicas: hipertensão, diabetes, miopia dentre tantas outras. No entanto, com diagnóstico precoce e acompanhamento correto, é possível ter melhoras significativas na qualidade de vida.

9) Afinal, pessoas com autismo podem ter uma vida “normal”?

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Um portador da Síndrome de Asperger, por exemplo, tem condições de conseguir terminar a escola e entrar na faculdade. Naturalmente, terá dificuldades na habilidade social, como é característico do transtorno, mesmo com uma excelente terapia desde cedo. Então, nosso objetivo é sempre dar autonomia aos pacientes, encima de suas dificuldades e possibilidades. Sem criar falsas esperanças para eles e familiares. Sinceridade é tudo na relação médico e paciente – e seus familiares.

Fabio Barbirato é psiquiatra pela ABP/CFM e responsável pelo Setor de Psiquiatria Infantil do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na pós-graduação em Medicina e Psicologia da PUC-Rio. É autor dos livros “A mente do seu filho” e “O menino que nunca sorriu & outras histórias”. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).

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