O mundo pop tomou um susto esta semana com a internação por overdose da cantora americana Demi Lovato, em Los Angeles, de apenas 25 anos. Depois de seis anos sóbria, a cantora teve uma recaída e foi levada ao hospital por abuso de heroína.
Quem trabalha com jovens, como eu, conhece Demi Lovato há alguns anos. Infelizmente, menos por seu talento e mais pela (má) referência que ela é para jovens entre 12 e 18 anos. Algumas vezes recebi pacientes automutilados em consultório que declaravam a influência da cantora em suas atitudes.
A história de vida de Demi Lovato é uma sucessão de fatos tristes que a levaram à internação, esta semana. Em entrevistas, assumiu que quando criança era vítima recorrente de bullying na escola. Desde cedo, foi usuária de cocaína, álcool e Oxicodona. Ao vício, se somaram o dinheiro e a fama, formando uma combinação bombástica. Algumas vezes foi internada em clínicas de reabilitação, mas sempre acabava tendo recaídas.
A revista americana People publicou uma matéria repercutindo o caso. Uma fonte não identificada afirma que a mãe de Demi se sentia impotente para controlar os impulsos autodestrutivos da filha. “A mãe de Demi era como uma escrava para ela. Demi conseguia o que ela quisesse. Mesmo quando tinha 16 anos, ela falava: ‘eu estou pagando as contas desta casa, esta casa é minha’”, revelou a fonte à revista.
O caso demonstra quão trágico pode ser a inversão de valores dentro de casa, com pais “obedecendo” aos filhos. Pai que não exerce autoridade sobre o filho, na verdade, o está prejudicando. São os pais que dão os primeiros limites na vida de uma criança e seguem na adolescência como um esteio emocional. Qual a qualidade de uma relação em que uma jovem de 16 anos joga na cara da mãe que ela está pagando as contas da casa?
Pesquisas mostram que pais que participam e convivem com filhos diminuem significativamente a chance de eles se tornaram usuários de drogas. Uma simples refeição à mesa reunindo a família reduz em até 90% esse risco.
A internação de Demi Lovato relembra o papel dos pais na educação dos filhos e oferece a chance de se conversar em casa, de forma franca, sobre as consequências do uso de álcool e drogas.
Não perca a oportunidade de ouvir e trocar com seu filho, sendo amigo mas sem perder a autoridade.
Fabio Barbirato é médico psiquiatra pela UFRJ, membro da Academia Americana de Psiquiatria da Infância e Adolescência e responsável pelo setor de Psiquiatria Infantil da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na PUC-Rio. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).