Aconteceu com uma pessoa próxima, mas acredito que a cena se repita com frequência. Meu amigo foi ao assistir o campeonato de futebol do filho. Ciente do seu papel de pai, estava lá para torcer pelo garoto e dar seu apoio, mas da arquibancada, de forma respeitosa.
Eis o que meu amigo presenciou: pais (e algumas mães) comportando-se como se estivessem em final de Campeonato Brasileiro no Maracanã. Gritavam o nome dos filhos, xingavam a arbitragem, tentavam passar instruções aos filhos, aos berros, num festival de mau comportamento.
O que estarão esses pais transmitindo aos filhos, mesmo que não intencionalmente? Uma criança que está em campo ou em quadra já se sente suficientemente pressionada a dar o melhor resultado possível. E ainda é obrigada a lidar com as cobranças dos pais ou responsáveis.
Além disso, crianças aprendem o que elas vivenciam e testemunham. Se o que elas percebem dos pais, na hora de uma competição, é destempero e cobrança, automaticamente estas ideias estarão introjetadas nelas. Definitivamente, não é uma experiência saudável.
A prática esportiva é fundamental na educação de uma criança, sobretudo, porque ela ensina uma série de coisas, não apenas sobre futebol, mas sobre a vida. Perder ou ganhar é absolutamente irrelevante quando uma criança ou adolescente se preparou para competir e fez o seu melhor na hora do jogo. Além disso, a atuação da coletividade é tão ou mais importante que o desempenho de um ou outro, individualmente. Um jogo esportivo é uma infinidade de metáforas que servem para educar – pais e filhos.
Pais e mães devem ficar atentos para não projetarem nos filhos seus desejos recalcados ou frustrados, seja por vitórias ou mesmo uma dedicação ao esporte não vivida profissionalmente.
O mundo adulto já reserva uma infinidade de competições às crianças – muitas bem pouco saudáveis. Deixemos que tudo venha a seu tempo e que, por enquanto, competições esportivas tenham para os jovens apenas o sabor agradável do convívio entre amigos.
Fabio Barbirato é psiquiatra pela ABP/CFM e responsável pelo Setor de Psiquiatria Infantil do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na pós-graduação em Medicina e Psicologia da PUC-Rio. É autor dos livros “A mente do seu filho” e “O menino que nunca sorriu & outras histórias”. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).