Era para ser uma “brincadeira” entre amigos, mas um vídeo postado nos stories por uma influenciadora digital causou revolta entre pais de crianças autistas. Na postagem, a jovem fazia troça das vagas destinadas a autistas em um shopping. Ao invés de tripudiar em cima do erro, vale mais a pena transformá-lo em informação para o grande público. Afinal, por que autistas tem direito a vagas especiais em shoppings e estabelecimentos comerciais?
Pouca gente sabe, mas pessoas do espectro autismo tem um padrão de comportamento bastante específico. Coisas que passam incólumes para não-autistas podem ser significativas para esse grupo de pessoas. De modo geral, autistas tem um grau de tolerância pequeno para tudo que exige espera. Não se trata de uma escolha; é uma característica comportamental implícita à sua condição. Portanto, aguardar por uma vaga em um shopping lotado pode servir de gatilho para uma irritação descontrolada – e desnecessária se houver respeito ao seu direito de prioridade.
Outros direitos dos espectro autistas são: estudo em instituição de ensino regular, com condições de acesso, aprendizagem e participação (com direito a mediação escolar, se necessário); atendimento prioritário em instituições e serviços de atendimento ao público (assim como idosos e gestantes); possibilidade de participar do programa de aprendizagem para a pessoa com deficiência; isenção de impostos para aquisição de veículos (o autista não precisa ser o condutor); transporte gratuito em ônibus, barco e trem (em aviões, o acompanhante do autista tem desconto de 80% no valor da passagem); tratamento e acompanhamento gratuito pelo SUS, bem como proibição de qualquer restrição a participar de planos privados; um salário mínimo por mês em caso de autistas de baixa renda e preferência no recebimento da restituição do Imposto de Renda.
Nesta semana foi aprovado no Supremo Tribunal de Justiça (STJ) por seis votos o Rol Taxativo, que limita os tipos de tratamento cobertos pelos planos de saúde, dentre eles o autismo, além outras deficiências e câncer, por exemplo. Todos os direitos conquistados por autistas junto à Justiça aconteceram por conta de muita garra e determinação, especialmente de responsáveis e pais incansáveis. Em uma sociedade que valoriza cada vez mais a diversidade, seja de gênero, raça ou idade, a inclusão de autistas é mais que bem-vinda: é fundamental para a existência de um país mais múltiplo e justo.
Fabio Barbirato é psiquiatra pela ABP/CFM e responsável pelo Setor de Psiquiatria Infantil do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na Pós-Graduação em Medicina e Psicologia da PUC-Rio. É autor dos livros “A mente do seu filho” e “O menino que nunca sorriu & outras histórias”. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).