Uma das maiores dificuldades que os pais enfrentam na hora de educar os filhos é saber falar a palavrinha mágica: não. Dentre os muitos “nãos” difíceis de dizer, um dos mais recorrentes é não autorizar que os filhos durmam no quarto dos pais. Verdade seja dita: tem dias que tudo que precisamos é do carinho e do conforto da companhia do filho na hora de dormir!
Mas quando isso vira um problema? Tudo é uma questão de bom senso. Frequência e intensidade são palavras-chaves.
Na fase intensa de amamentação, é compreensível que o bebê durma no quarto dos pais, por pura praticidade. Mas no desmame é aconselhável que a criança já tenha o hábito de dormir no quarto dela.
Quando as crianças já estão um pouco maiores, pode acontecer de ela se mostrar frágil ou dengosa por uma razão específica e pedir para dormir uma noite no quarto dos pais. Não há mal nenhum nisso. Dividir a cama em viagens também pode ser muito gostoso porque é algo que foge da rotina. O que deve ser evitado é os pais cederem sempre e a criança ter a sensação que ela tem aquele “porto seguro” quando quiser.
Mas se a criança tem dificuldade de dormir sozinha? Até os seis anos de idade este é um comportamento bem normal. Tenho um filho e sei o esforço que é, mas os pais devem encarar a (dura!) missão de se revezar e ir para o quarto da criança, evitando ao máximo o movimento contrário.
Os pais não devem perder de vista que o quarto do casal é um ambiente de intimidade. E não apenas sexual: é o espaço físico que os dois tem para conversar sobre o dia, se abrir sobre algo que esteja incomodando, mostrar as fraquezas. Filhos não precisam testemunhar estes momentos. Não se trata de esconder, mas de compartilhar cada informação no seu devido tempo. Antes de serem pais, aquelas duas pessoas eram um casal e é bom que ainda se enxerguem assim.
Por isso que em casamento em crise não é raro saber que um filho está dormindo na cama do casal. A criança acaba servindo como uma espécie de álibi, uma forma de evitar o contato físico ou sexual entre os parceiros. O que vemos em consultório é que esse tipo de atitude apenas posterga o iminente divórcio.
É muito saudável que as crianças tenham um quarto, dormindo sozinhas ou com os irmãos. É importante que elas estabeleçam um vínculo afetivo com aquele espaço: ali é o quarto delas, onde podem (quase) tudo! Arrumar livros e brinquedos de maneira acessível, decorar o quarto com o que gosta e ter a liberdade de chamar os amiguinhos para brincarem ajuda a criança a entender aquele espaço como seu.
Um casal amigo foi vítima dessa dificuldade de dizer “não” aos filhos na hora certa. Resultado: as duas crianças, de 09 e 11 anos, se habituaram a dormir no quarto dos pais. Cansada com a situação, eles estabeleceram uma negociação: um dia por semana, os quatro fariam “a noite do acampamento” e dormiriam todos juntos. Deu certo. Agora, marido e mulher tem o quarto só para eles por seis noites na semana.
É isso. Ache a sua própria fórmula, garantindo boas noites de sono ao casal sem abrir mão da deliciosa companhia do seu filho. Repetindo: tudo é uma questão de bom senso com relação à frequência e intensidade.
Fabio Barbirato é médico psiquiatra pela UFRJ, membro da Academia Americana de Psiquiatria da Infância e Adolescência e responsável pelo setor de Psiquiatria Infantil da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na PUC-Rio. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).