Tem se tornado assunto recorrente em rodas de pais e mães: grupos de WhatsApp que só tem homens – amigos antigos de colégio, do futebol ou do clube, um ambiente em que contam com intimidade e sigilo – tem por hábito compartilhar memes, gifs, piadas e até vídeos com conteúdo pornográfico. A rigor, não haveria nada de grave se não fosse um ponto: cada vez mais, pais tem compartilhado o celular com os filhos para entretê-los em restaurantes, filas de espera ou até mesmo em casa.
O fato é que enquanto a criança está ocupada na tela de um joguinho ou de um desenho no Youtube… entra a notificação do tal grupo de amigos. Muitas crianças tem clicado no alerta que as leva direto para o conteúdo adulto. São frequentes os relatos de crianças que procuraram os pais para entender o que era “aquele vídeo” que começou a rodar no celular ou mesmo para entender “por que esse homem e essa mulher estrão fazendo isso?”. Além do enorme constrangimento, trata-se da antecipação precoce de um assunto que de maneira nenhuma deve ser abordado com crianças pelo viés da pornografia.
É importante esclarecer: crianças de todas as idades externam curiosidades sobre sexo e os órgãos sexuais. O problema não está no tema, mas no conteúdo e na forma de falar sobre ela, de acordo com cada idade. Se uma criança na primeira infância, até cinco anos, faz questionamentos normais para sua idade – de que forma entrou na barriga da mãe ou de onde veio – os pais devem responder de forma simples, de modo que as crianças possam entender, esclarecendo que esses assuntos fazem parte do universo dos adultos e que, na hora certa, a criança irá entender.
Já na pré-adolescência, entre 10 e 14 anos, podem aparecer dúvidas mais objetivas sobre como se faz sexo, sobre as mudanças no corpo e na voz, típicas da idade, além de masturbação, camisinha, gravidez e orgasmo. Os jovens devem contar com o acolhimento dos pais para tirarem suas dúvidas com um diálogo franco. Pai, mãe ou responsável, ao lado da escola, são um ponto de confiança para questionamentos sobre a educação sexual.
Adolescentes, tão acostumados a compartilhar momentos do dia a dia em redes sociais, devem aprender que sexo é um assunto de foro íntimo, que não deve ser filmado ou compartilhado, que só deve ser feito com consentimento e que não cause danos físicos ou emocionais ao parceiro.
Portanto, qualquer forma de contato com o que seja sexo via pornografia no celular dos pais deve ser rigorosamente evitado, visando uma educação e um amadurecimento sexual adequados e sadios. Se o seu filho usa seu celular, cuidado redobrado com o que você acessa ou compartilha.
Fabio Barbirato é psiquiatra pela ABP/CFM e responsável pelo Setor de Psiquiatria Infantil do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na Pós Graduação em Medicina e Psicologia da PUC-Rio. É autor dos livros “A mente do seu filho” e “O menino que nunca sorriu & outras histórias”. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).