Uma das séries mais comentadas atualmente entre os jovens chama-se “Sex Education” (Netflix). A trama (sem dar spoilers!) parte da história de Otis Thompson, um adolescente virgem e com dificuldades sociais. Em um mundo tão farto de informação, as séries dos canais de streaming – tão incorporadas ao cotidiano das novas gerações hoje em dia – tem sido mais uma porta de entrada para muitos jovens falarem não apenas de sexualidade, mas também sobre o comportamento típico da idade. Ou seja: é uma oportunidade de ouro para pais e filhos conversarem.
No caso de “Sex Education”, o protagonista é filho de uma terapeuta sexual e cresce cercado por conversas sobre sexo – ainda que constrangedoras. Mas e quem não tem pai ou mãe que trabalha na área – a maioria das pessoas? Afinal, como falar de sexo com os filhos? E mais: como o assunto deve ser tratado depois de quase dois anos em casa, período em que os jovens abdicaram das baladas e da paquera no recreio para terem apenas contatos virtuais?
O que já era delicado, ganhou um componente a mais. Com o isolamento social sem aviso prévio, o desenvolvimento sexual e emocional dos adolescentes precisou ser reorganizado. Nos últimos meses, muitos jovens relataram certa ansiedade em consequência da brusca nova realidade. Agora, o desafio agora é estimular a capacidade de adaptação à nova realidade e voltar a socializar, com segurança e responsabilidade.
No entanto, se alguns estão temerosos, outros estão ávidos. Estudo de pesquisadores da Universidade de Columbia apontou que há um grupo de jovens no afã de “recuperar o tempo perdido”. Especialistas em sexualidade chamam a atenção para o risco do aumento de doenças sexualmente transmissíveis ou do abandono do uso de camisinha. Contudo, estes problemas já eram realidade antes mesmo da pandemia. Segundo pesquisa da Sociedade Brasileira de Urologia, 35% dos adolescentes entre 12 e 18 anos admitiram que não utilizam ou raramente usam preservativo.
Não existe uma idade “certa” para começar a falar de sexo com os filhos. Os pais devem ficar atentos ao amadurecimento deles e sentir o momento e a forma adequadas para abordar o assunto. Cada idade requer um nível de informação diferente. Falar de sexo com os filhos não deve ser entendido pelos pais como um gesto de incentivo à prática sexual. Ao contrário. Estudos apontam que quanto mais cedo o assunto é conversado em família, mais tarde estes adolescentes iniciam a vida sexual porque a curiosidade acerca do assunto foi saciada pela conversa com os pais. Além disso, a informação proveniente da educação sexual diminui os riscos de abusos, violências sexuais, gravidez precoce e contaminação por doenças sexualmente transmissíveis.
Portanto, a abertura para o diálogo franco entre pais e filhos é fundamental para que este momento de descobertas traga novas experiências saudáveis. A sexualidade entre os jovens deve ser abordada com normalidade. Nem sempre o adolescente estará disposto a falar; respeite o tempo e a intimidade dos filhos. Posturas repressoras dos pais podem causar um grande estrago: inibir os filhos de compartilhar suas dúvidas e afastá-los. A confiança vem do gesto de naturalidade e acolhimento que os pais são capazes de gerar – e não do julgamento.
Fabio Barbirato é psiquiatra pela ABP/CFM e responsável pelo Setor de Psiquiatria Infantil do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na pós-graduação em Medicina e Psicologia da PUC-Rio. É autor dos livros “A mente do seu filho” e “O menino que nunca sorriu & outras histórias”. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).