Fabio Szwarcwald

Por Fabio Szwarcwald, colecionador de arte e gestor cultural Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
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A concentração de feiras no eixo Rio-SP estressa o mercado de arte?

Que papel têm as feiras de arte na construção de um mercado mais robusto no pós-isolamento?

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Atualizado em 7 out 2022, 15h01 - Publicado em 7 out 2022, 12h21
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  • Em 2000, havia menos de 60 feiras de arte em todo o mundo. Atualmente, são mais de 300. De acordo com o UBS Global Art Market Report, relatório divulgado no semestre passado, o mercado de arte mundial se recuperou mas está abaixo do nível pré-pandemia.

    Impulsionado principalmente pelos colecionadores mais ricos, o segmento se restabeleceu após a queda de 2020 e as vendas atingiram US$ 65,1 bilhões, um aumento de 29% em relação ao ano anterior. As vendas de altos valores (entre U$ 5 e U$ 10 milhões) subiram em 35%, enquanto as de menor valor (abaixo de U$ 250.000) cresceram apenas 6%.

    Conversei com representantes do segmento sobre a expansão do mercado de arte no Brasil. O país suporta a quantidade de feiras realizadas anualmente? Houve crescimento de público? O mercado local resistiu à pandemia? Que papel têm as feiras na construção de um mercado mais robusto? Falamos também sobre os artistas, obras e temáticas que mais se destacaram na produção apresentada nas edições 2022 da ArtRio e SP-Arte, entre outras feiras.

    Segundo a carioca Brenda Valansi, idealizadora e presidente da ArtRio e da ArtSampa, o balanço é positivo: “A ArtRio voltou à sua potência após a pandemia, com crescimento e diversidade de público. A ArtSampa também teve um saldo positivo e caminha para que se estabeleça seguindo os passos da ArtRio. Ambas revelaram novos artistas e apresentaram programas que fomentam o colecionismo”, afirma.

    Fernanda Feitosa, criadora da SP-Arte, revela que a edição 2022 recebeu mais de 25 mil pessoas, com ingressos esgotados e vendas bem sucedidas.

    “Rotas Brasileiras (nova feira da SP-Arte, com foco na produção fotográfica e artística das cinco regiões do país, realizada em agosto último) recebeu mais de 16 mil visitantes. Chegou com um conceito de feira temática, algo totalmente inédito para nós, com expositores vindos do Pará, do Maranhão e uma seleção de artistas do Vale do Jequitinhonha de altíssima qualidade. Essa primeira edição reuniu um time fantástico de jovens artistas mulheres, como Panmela Castro, Silvana Mendes, Brisa Noronha, Samara Paiva e Simone Cupello”, celebra Fernanda.

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    Ela destaca ainda o retorno da pintura, o interesse pela produção de artistas negros e a força da arte indígena, com nomes já reconhecidos internacionalmente como Jaider Esbell e outros que despontam, como Gustavo Caboco e Aislan Pankararu.

    A predominância das pautas identitárias, que revitalizam o mercado, também foi ressaltada por Brenda: “A produção artística vem acompanhando nitidamente o momento histórico que vivemos. Sendo a arte o meio de expressão e comunicação mais livre que existe, ArtRio e ArtSampa apresentaram obras que tratam de nossas urgências”.

    Sobre o papel das feiras na construção de um mercado de arte mais robusto, Feitosa considera que a realização anual da SP-Arte (desde 2005) associada à forte presença digital a partir da pandemia, vem criando fundamentos para a profissionalização e ampliação do mercado: “Somos uma cidade de 12 milhões de habitantes, o principal hub financeiro e cultural da América Latina. É preciso fazer jus a toda essa potência criativa e econômica. Ao mesmo tempo, fomentamos agentes do circuito fora do eixo Rio-São Paulo e o projeto de Rotas Brasileiras trabalha exatamente nessa direção”.

    De fato, é incontestável que as feiras têm caráter importantíssimo no desenvolvimento do mercado e no fomento ao colecionismo. Oferecem conforto e segurança aos visitantes, reúnem artistas, curadores e outros agentes do mundo da arte sendo, portanto, oportunidades de encontros e negócios. Disseminam conhecimento, promovem palestras, visitas, debates e, em parceria com outros circuitos, mobilizam a formação de novos públicos. Além de impulsionarem o turismo.

    A conclusão unânime entre meus entrevistados foi que o mercado brasileiro não só resistiu à pandemia, como soube se articular para superar rapidamente as restrições impostas, apresentando resultados surpreendentes num momento de alterações profundas nos setores produtivos e na economia global.

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    No entanto, nos últimos anos, os articuladores do setor vêm problematizando um ponto: o mercado de arte brasileiro suporta a quantidade de feiras que o segmento promove?

    Para Nei Vargas da Rosa, doutor em Artes Visuais e diretor da Aura Galeria, em São Paulo, 2022 foi marcado por um excesso: “Não é possível termos tantas feiras concentradas em um único ano. Foram quatro em São Paulo, uma em Goiânia, uma em Brasília e outra no Rio. A Fargo e a FBAC são regionais e têm grande importância por atraírem um público que não acessa as principais iniciativas do país. Mas quatro feiras em São Paulo é desproporcional”, avalia. “Impossível para a maioria das galerias participarem, não há condições financeiras e físicas. E estas escolhas de participação envolvem questões de ordem política que ultrapassam o caráter artístico. Por outro lado, torço pra que se tenha o benefício da concorrência, que pode resultar na melhoria da qualidade estrutural e no valor pago para participar, que é altíssimo”.

    Outros galeristas do Rio e de São Paulo com quem conversei, que preferiram não se identificar, reforçam os argumentos do Nei e afirmam que esse modelo é predatório.

    A artista Maria Montero, que comanda a Sé Galeria, em São Paulo, participou de quatro feiras esse ano: “Eu tenho um espaço físico pequeno e, em decorrência da pandemia, havia uma produção que precisava ser mostrada. Embora as feiras não sejam o lugar mais adequado, por serem custosas, têm como vantagem a questão da escala de visitantes. Financeiramente, como meu ticket médio é baixo, nem sempre é rentável, mas é um bom investimento a longo prazo. Além de ser uma rede incrível de contatos e aprendizado, onde se acompanha ao vivo todo um sistema atuando”, analisa Maria.

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    Mas seu balanço é desgastante: “A Sé concebe qualquer ocupação de espaço como projeto, então é muito extenuante. Sempre me pergunto como avaliar o sucesso desse tipo de evento. Os números podem ser positivos, mas fico com receio de que os colecionadores deixem de frequentar as galerias, onde investimos alto em projetos elaborados. As relações com os artistas e o ritmo de produção também são afetados e podem ficar frenéticos, o que já é uma patologia do nosso tempo. Acho que existem muitos espectros críticos a serem avaliados”, comenta. “Me parece ruim para o setor, como organismo, essa quantidade de feiras. Pode desgastar alguns aspectos vitais para a sustentabilidade da produção e das relações”.

    Fernanda Feitosa reconhece o alto risco do fairtigue, termo criado para denominar o cansaço que estressa a indústria da arte e seu público nas marchas pelos centros de convenções das grandes capitais culturais: “Mas o que incomoda ao mercado e ao público especializado, seja no Brasil ou no exterior, é o excesso de feiras sem qualidade, sem foco e sem propostas inovadoras. Isso termina por onerar as galerias expositoras, sem um retorno comercial que justifique dividir o mercado e embaralhar o calendário”, analisa.

    Brenda Valansi acredita que temos a capacidade de expandir mercado e diz estar fazendo a sua parte. Ela considera que a arte mostrou-se um investimento de médio e longo prazo resistente a crises globais.

    Sigo sendo um entusiasta das feiras por todos os fatores que já pontuei mais acima. Naturalmente, há um mecanismo de seleção que vai esvaziar as propostas inconsistentes e consolidar o que de fato soma ao sistema.

    De acordo com o relatório de arte e finanças da empresa Deloitte, divulgado no ano passado, até 2025 teremos um crescimento expressivo no investimento em artes não só no Brasil, como em todo o mundo. A ver!

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