O tema da democratização e do acesso aos bens culturais vem passando por processos de atualização sob perspectivas jurídicas, sociais, políticas e tecnológicas. É parte de um movimento mundial a preocupação em garantir o acesso a museus e o livre percorrer a seus espaços, com a fruição de exposições, a inclusão em programas educativos e o acolhimento a todos os públicos. Identificar as diferentes barreiras que excluem indivíduos ou grupos e elaborar estratégias que superem estas barreiras está no radar das instituições de cultura.
Pensar a dimensão política da acessibilidade e pensar os museus como agentes fomentadores da democratização cultural e do desenvolvimento da sociedade é ponto pacífico. No entanto, o cotidiano dessas instituições frequentemente contradiz a afirmação de que os bens culturais musealizados são públicos e estão disponíveis a todos. Sabemos que, na prática, o acesso é restrito e seletivo.
De acordo com o IBGE, no último Censo Demográfico, 45,6 milhões de brasileiros declararam ter ao menos um tipo de deficiência. Acessibilidade é um direito que garante à pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida viver de forma independente e exercer seus direitos de cidadania e de participação social. A transformação desse direito em prática social cidadã, em realidade cotidiana, exige enfrentamentos constantes.
O MAM Rio, que busca se reposicionar como uma organização consciente e preocupada com o bem-estar social, vem implementando um plano gradativo de acessibilidade que se propõe a criar processos de inclusão para pessoas com deficiência. Não só como público, mas como produtores de conhecimento no museu.
Acreditamos na necessidade de fomentar ações para um público amplo, sem deixar de percebê-lo em suas especificidades e diversidade étnicas, geracionais, físicas, sociais, culturais, territoriais e de gênero. Razão pela qual investimos no desenvolvimento de uma programação dedicada a pensar e experimentar arte buscando garantir o compromisso do MAM com a acessibilidade, a diversidade, a inclusão, o protagonismo e a formação continuada.
O programa de acessibilidade e inclusão do museu leva em conta alguns dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Entre as ações previstas, muitas já em curso, estão: oferecer visitas voltadas ao fomento da cultura surda e da Libras no MAM; promover visitas multissensoriais que abarquem a diversidade de formas de vivenciar e experimentar a arte; disponibilizar ônibus adaptados no agendamento, com vagas para classes inclusivas e/ou especiais; implementar uma residência para pessoas com deficiência, com estratégias de mediação e acolhimento de públicos pela perspectiva desses sujeitos; produzir vídeos institucionais com a divulgação da programação acessível em Libras; pesquisar e contratar artistas, educadores e demais profissionais com deficiência para o desenvolvimento de ações educativas no museu.
A democratização e a produção de códigos culturais de ampla circulação para além da territorialidade restrita de determinados grupos sociais devem ser temas transversais a toda e qualquer instituição cultural. O desenvolvimento de ações que tenham impacto político, social e econômico é fundamental. Sabemos que a acessibilidade em um museu depende não só do compromisso de sua gestão institucional, mas também de respaldo em políticas públicas. Agir propositivamente nessa direção é determinante para o combate à segregação social sistêmica.