A pandemia de Covid-19 reforçou o papel fundamental da cultura, não só como o agente constitutivo e simbólico que nos representa, mas como o vetor econômico que ganhará protagonismo no pós-pandemia.
O Brasil, que tem o patrimônio cultural como vocação, não pode afastar a cultura como pensamento estratégico, sobretudo neste momento. Ela nos inseriu no cenário internacional por ser um dos maiores valores de exportação do país. E sob uma perspectiva interna, é das ferramentas mais eficazes para conhecemos os diversos ‘Brasis’ de Norte a Sul.
A extinção do Ministério da Cultura (e a recente migração da pasta para o Turismo), as polêmicas e sucessivas nomeações para esta Secretaria, a expressiva redução do valor máximo de projetos contemplados pela Lei Rouanet, bem como a redução do orçamento do Fundo Setorial do Audiovisual são apenas algumas medidas que revelam o baixo apreço do atual governo pelas manifestações culturais. O Brasil de hoje chega a criminalizar as práticas artísticas. Mas é fundamental que o Estado não se exima de apoiar a vida cultural do país, criando políticas públicas para fomentar o setor em toda a sua amplitude. Como resgatar a relevância cultural sem investimentos?
É incontestável que as iniciativas mais afetadas serão as periféricas, que ocupam áreas tradicionalmente desfavorecidas sob diversas perspectivas. Olhar para os territórios periféricos e apoiar estruturalmente as expressões artísticas que surgem dessas localidades resultará num setor cultural mais robusto, plural e interessante, com maior amplitude temática e potencial de diálogo com o mundo contemporâneo. Além de gerar agenda positiva em áreas dominadas pela criminalidade e mapeadas pela sociedade como violentas.
Hoje, as maiores empresas do mundo estão atentas à afirmação dos conceitos de pluralidade e diversidade. Por saberem que, a partir do entendimento destes conceitos, estarão mais aptas a performar na economia do século 21. Comprometimento com estas temáticas está na ordem do dia das grandes corporações como uma diretriz estratégica primordial. É inquestionável o impacto positivo em termos de promoção de cidadania e desenvolvimento social e humano. E, consequentemente, no decréscimo dos índices de violência.
Portanto, insisto que é urgente desenvolvermos estratégias – com o apoio do governo e da iniciativa privada – que forneçam alternativas concretas para a retomada dos mecanismos e polos fomentadores de cultura no pós-pandemia. Articulação entre o setor e as diversas esferas de poder deveria ser, nesse momento, pauta prioritária e inafastável.