Fabio Szwarcwald

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Legados Vivos

MAM Rio lança projeto de valorização do patrimônio imaterial e reflete sobre o papel dos museus na divulgação e manutenção de culturas imateriais

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Atualizado em 28 jul 2021, 18h53 - Publicado em 28 jul 2021, 18h27
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  • Você já pensou em como o patrimônio cultural imaterial entra nos museus brasileiros? Os bens culturais de natureza imaterial – incluindo aí os modos de criar, fazer e viver dos grupos formadores da sociedade brasileira – além de nos fundarem, são um grande valor de exportação desse país continental. O tambor de crioula e o Bumba-meu-boi, do Maranhão; as comunidades quilombolas do Vale do Ribeira; as matrizes do samba, no Rio de Janeiro; a Festa do Divino de Pirenópolis, em Goiás; o frevo, o carimbó, o maracatu, a literatura de cordel, as rodas de capoeira, as baianas de acarajé… São todos nomeados pela Unesco como Patrimônios da Humanidade.

    O MAM Rio lançou hoje, em parceria inédita com o Instituto Cultural Vale, o projeto Legados Vivos, que se dedica a refletir sobre os processos de construção de patrimônio e cultura comum. O papel dos museus na divulgação e manutenção de culturas imateriais (sejam tradicionais, populares ou periféricas) é um dos focos atuais da instituição.

    Legados Vivos é uma importante plataforma de reflexão sobre múltiplos saberes, que contempla uma exposição, um ciclo de conversas, uma publicação e uma mostra de cinema. A apresentação conjunta de quatro acervos orienta o projeto: o Acervo da Laje, um espaço de memória artística, cultural e de pesquisa sobre o subúrbio ferroviário de Salvador, fundado em 2011; o Museu de Arte Negra e IPEAFRO, associação sem fins lucrativos com sede no Rio, responsável pela manutenção do legado do grande Abdias Nascimento; os acervos de cultura imaterial do Maranhão; e as coleções do MAM Rio.

    O ciclo de conversas on-line “Cenas da cultura imaterial” marcou a abertura do projeto nesta quarta-feira, dia 28 de julho, com falas de Mãe Celina de Xangô (yalorixá e presidente do Centro Cultural Pequena África) e Nadir Cruz (presidente do Boi da Floresta), valorizando a oralidade e os conhecimentos ancestrais que nos constituem. Em colaboração com o Centro Cultural Vale Maranhão, de São Luís, o ciclo reunirá, até outubro, pessoas ligadas a tradições de diversas regiões do Brasil e discutirá saberes relacionados a tradições e contextos regionais, racializados, populares e periféricos. Serão quatro encontros mensais (dias 28 e 29 de julho, 25 e 26 de agosto, 22 e 23 de setembro e 27 e 28 de outubro), sempre as 14h, com inscrições gratuitas através do site do museu.

    Durante sua participação na mesa inaugural do ciclo, Nadir Alves ressaltou a relevância de museus abrirem espaço para falas como a sua, que carregam uma riqueza de saberes fundamental pra conhecermos a real identidade desse país e nos apropriarmos de toda a diversidade que nos define como um povo: “Quando o MAM nos convida a trazer a história do Boi da Floresta, tenho que contar como ele é costurado intelectualmente dentro do barracão. É lá que germina o que o público vê no arraial, na dança do boi, na expressão que levamos para a rua. Mas cultura não é só que se vê, é um saber que perpassa a visão, que se faz nas relações do dia a dia e na construção simbólica dessa tradição”.

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    Mãe Celina de Xangô concorda: “Não temos que deixar nossa história engavetada. É preciso trazer o terreiro para o museu. Temos que compartilhar nosso saber e nossas vivências com toda a complexidade que envolve ser mãe de santo. Muito importante que haja mais espaço para a fala da mulher preta”, afirma.

    O diretor e coordenador artístico do Centro Cultural Vale Maranhão, Gabriel Gutierrez, comenta a importância primordial do projeto: “Quando se convida mestres da cultura popular, artistas, poetas e fazedores populares para falar neste lugar, que antes era só um privilégio de classe, a gente faz uma revisão sobre o papel da instituição na sociedade. É uma redenção perante essa falha histórica do que foi imposto como sendo cultura que, na verdade, é um conceito bem mais amplo ligado a uma vontade de existência, à experiência do cotidiano e à tomada de risco”, reflete Gutierrez.

    A partir das falas acima, fica claro que aspectos culturais, sociais, religiosos e simbólicos se entrecruzam, criando um campo semântico comum. O projeto Legados Vivos pretende justamente ampliar a ideia de cultura e discutir o papel das instituições na atualidade. É preciso rever a relação dos museus com memória e patrimônio, e pensar de que formas o MAM Rio pode contribuir nessa revisão.

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