Faro na web

Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
As NOVAS vozes da cena musical brasileira contemporânea
Continua após publicidade

A frivolidade salva (ou crônica politicamente incorreta)

Parafraseando Antônio Prata, "sou meio intelectual, meio de esquerda".

Por Fabiane Pereira
Atualizado em 11 abr 2018, 11h01 - Publicado em 10 abr 2018, 21h09
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Sou metida a intelectual, e sempre prefiro assuntos sérios aos fúteis – tanto nas redes sociais quanto nas mesas de bar –, mas cheguei ao meu limite. É bem  verdade que este limite tenha se dado pelo fato d’eu não ser tão hábil com as palavras como o Gregório Duvivier, mas caso alguém se interesse pelas minhas opiniões a respeito deste escracho nacional que envergonha a imagem do país diante do mundo e nos fez retroceder até 1968, sugiro a leitura semanal da coluna do perspicaz escritor/apresentador/ator já citado, publicada toda segunda na Folha.

    Mas voltando à minha preferência pelos assuntos sérios, sou obrigada a reconhecer que há momentos – como este que nos faltam o ar – que só a frivolidade salva.

    Embora eu só saiba viver intensamente (ariana com ascendente em capricórnio e lua em touro), ando bem cansada dos extremos. Costumo me perder no caminho do meio mas preciso resgatar em minhas entranhas, a mulher que compra na Zara sem se importar com o fato da marca usar mão de obra escrava , a mulher que vê Dirty Dancing pela centésima vez na “Sessão da Tarde” (ainda tem isso?) e chora sempre na mesma parte do filme, aquela louca que estoura o cartão comprando cremes anti celulites porque, assim como acredita que matricular-se na academia emagrece instantaneamente, também crê que ter tais cosméticos na pia do banheiro a deixa mais gostosa.

    Acho que deve fazer bem pra alma gargalhar sem culpa, tomando chope no BG, numa sexta-feira pós expediente, mesmo vivendo num país que sofreu recentemente um gravíssimo rompimento democrático e numa cidade sob intervenção militar.

    Acho que escrevo crônicas porque ela é a mais gentil dos gêneros literários. Ela é coloquial, me ajuda a rir de mim mesma e a prestar atenção aos detalhes que as mazelas das grandes cidades insistem em esconder. Acho que escrevo crônicas porque, de certa forma, ela não me impõe o crédito de escritora. Penso que seria presunçoso demais ter a mesma profissão de Saramago, Clarice e Lygia.

    Continua após a publicidade

    Gosto de me permitir entrar no cinema e por duas horas esquecer quem sou. Gosto de ler um livro e passar uma semana vivendo a vida de outra pessoa. Gosto ainda mais de ir a um show e me conectar com a música a tal ponto que meus pés deixam de tocar o chão, e passo a ser também onda sonora – aliás, recomendo a leitura da coluna sobre a aula de David Byrne -. Mas não me lembro a última vez que fiz essas três coisas por “preferir assuntos sérios aos fúteis”.

    Aos quase trinta e sete, sinto que estou chegando ao fim da primeira metade da vida, e às vezes estar no meio de alguma coisa é estar mais perto de conquistá-la. Parafraseando Antônio Prata, “sou meio intelectual, meio de esquerda” e quero cada vez mais ser meio, porque sendo meio preciso da outra metade pra ser inteira, e aí não preciso ser só séria, posso ser fútil também.

    ***

    Continua após a publicidade

    Hoje faz vinte e oito dias que “alguém” matou Marielle Franco a mando de “alguém” e “ninguém” esclarece nada.

     

    Publicidade

    Publicidade

    Essa é uma matéria fechada para assinantes.
    Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

    Semana Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    Impressa + Digital no App
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital no App

    Informação de qualidade e confiável, a apenas um clique.

    Assinando Veja você recebe mensalmente Veja Rio* e tem acesso ilimitado ao site e às edições digitais nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.
    *Para assinantes da cidade de Rio de Janeiro

    a partir de 35,60/mês

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.