Em 2015, eu lancei um livro chamado Som&Pausa – vozes da cena contemporânea carioca (ed. Guarda Chuva). A escolha do nome se deu porque a música é feita de momentos intercalados entre som e pausa. Pelo menos esta é uma das inúmeras definições de música, segundo o Aurélio. Neste projeto musical-literário, pedi a 50 nomes da atual cena contemporânea do Rio de Janeiro para falarem sobre suas lembranças e seus momentos musicais mais marcantes – àquele instante decisivo que fez com que a música deixasse de ser “apenas” uma fonte de inspiração para se transformar também em receita e, fundamentalmente, na maneira com que cada indivíduo presente no livro se comunicasse com o mundo.
Para que esta provocação pudesse ser feita à alguém legitimamente, eu precisei, antes de tudo, me provocar. Durante meses, me questionei sobre o exato momento em que me apropriei da música e passei a fomentá-la. Certamente, todas as respostas que me dei até ontem foram, no mínimo, rasas porque, após acordar ainda impactada pelo que vi, afirmo categoricamente: minha vida profissional se divide em antes e depois de assistir, presencialmente, a um show do David Byrne.
Vendo o show que o artista fez no LollaPalooza, pela televisão, já havia ficado impressionada com a execução precisa do espetáculo. Mas ao vivo é de uma subversão tão incrível que nenhuma palavra é capaz de descrever. Basicamente o show reúne ideias (muito) bem ensaiadas com marcações que se utilizam de todo o espaço (palco). Os onze músicos (entre eles, o percussionista brasileiro Mauro Refosco) e David se desmembram como uma marching band numa espécie de show opera musical teatro ballet bloco.
Além das canções de importância histórica, a luz, o cenário, coreografia, figurino (impecáveis num terno cinza e descalços), roteiro, arranjos e de todos os instrumentos serem tocados sem nenhum fio – permitindo a dança dos músicos por todo o palco.
Performático, o ex vocalista da fundamental Talking Heads changed the game again.
E já que começamos esta coluna falando sobre livro, David Byrne lançou em 2012 o How Music Works (Como funciona a música) em que celebra um tema ao qual dedicou uma vida inteira de reflexão. Abordando aspectos históricos, técnicos, culturais e mercadológicos, Byrne bebe de sua experiência pessoal ao lado do Talking Heads, de Brian Eno e de vários outros parceiros criativos – bem como em suas viagens por casas de ópera, vilarejos africanos, favelas brasileiras e basicamente qualquer outro lugar onde se faça música – para demonstrar que a criação musical não é algo exclusivo de compositores solitários trancados num estúdio, mas sim o resultado de uma série de circunstâncias naturais e sociais. Um livro de grandes ideias com uma defesa apaixonada do imenso poder da música em nossas vidas.
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Há quinze dias a pergunta é a mesma: quem matou Marielle?