Era sábado por volta das quatro da tarde. Caminhava em direção ao mercadinho São José, em Laranjeiras, porque prometi ao crush paulista que apresentaria a ele um Rio profundo – sabe-se lá o que isso quer dizer. Sempre achei o lugar, uma espécie de polo cultural do bairro imortalizado pela voz de Cássia Eller, um bom exemplo de “Rio raiz” já que nem só de nutella vive a zona sul (entendedores entenderão).
Pra não ser muito clichê, estava com uma botinha sem salto de cano curto. Embora, pra uma mulher musical como eu, seja impossível andar por Laranjeiras e não sentir imediatamente um tênis se materializar nos pés. E não é qualquer tênis. Mas um icônico All Star azul que já vem com trilha sonora. O crush não estava com um All Star preto de cano alto porque não somos um casal clichê. Nem somos um casal, ainda.
Como disse na crônica da semana passada, escrever sobre música é muito difícil e já comecei a me perder nas minhas próprias ideias. Tá certo que escrever é escavação e, espero, voltar até o fim deste texto, pro caminho que pensei percorrer quando comecei a escrevê-lo. Meudeusdocéu, qual a diferença mesmo entre escrever e stalkear? A gente começa vendo as fotos da cunhada e quando se dá conta está vidrada nas imagens da prima da vizinha da nossa amiga de infância. Putz, agora eu mudei completamente de assunto e já não sei mais como cheguei até aqui.
Ah, falava da Cássia e do meu passeio por Laranjeiras. Conversava animadamente com meu crush que, graças a Deus, também gosta de música. Disse a ele que não vi Cássia ao vivo. Por causa de uma cólica infernal, desperdicei a única oportunidade que tive, no século passado, de vê-la em cima do palco numa apresentação em Volta Redonda. Mas já entrevistei o filho da Cássia três vezes. Chico Chico é tímido mas muito simpático. Canta absurdamente bem e aqui vou ser obrigada a mandar aquela frase-clichezona: talento vem no DNA.
Conversa vai, conversa vem e o papo desencadeou pra “filhos talentosos que conquistam espaços na mesma profissão de seus pais”. Passeamos por vários exemplos, das artes cênicas (Viva Fernandona e Fernandinha!) à poesia (dá-lhe Waly e Omar Salomão!) até nos concentrarmos na música, nosso (quase) lugar de fala.
Não deve ser fácil batalhar por um lugar ao sol (!!) sendo comparado aos seus progenitores o tempo todo. Talvez nem Freud consiga minimizar este karma (eu quis dizer dano). Mas alguns (sobre)vivem um caminho próprio longe da sombra genética. Chico Chico é um deles. Outro Chico que caminha com elegância e humildade nesta estrada é o filho de Carlinhos Brown que ainda tem o “agravante” de ser neto de Deus, ops, de Chico Buarque.
E é sobre este Chico que eu queria falar desde o início desta crônica. Amanhã, o FARO, programa que apresento na rádio SulAmérica Paradiso passará a ocupar o horário nobre do dial carioca. A partir de amanhã, o FARO será transmitido toda quinta, às 20h30. Em agosto, passarei a transmiti-lo ao vivo. O programa continuará na grade também aos domingos das 22h à meia noite (em agosto, a gente começará mais cedo mas isso é papo pra outra coluna). Chico Brown estará comigo nos estúdios ao lado de seus parceiros musicais da banda Baltazar. Divertido, talentoso e gente como a gente, Chico vem construindo, tijolo a tijolo, uma bonita caminhada e certamente vai chegar lá.
https://www.youtube.com/watch?v=AMKwp-NtDFA
Chegar lá é um conceito altamente relativo – atualmente o meu “chegar lá” é dormir oito horas por dia – mas quando penso que meu trabalho e minha vida se encontram quase no mesmo lugar, numa total comunhão, eu me orgulho de estar chegando – parafraseando o português exótico das atendentes de telemarketing – lá.
No mais, conto com sua audiência!
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#dicadefilme: PARAÍSO PERDIDO. Pessoas têm instruções complexas e merecem ser lidas devagar. No filme de Mônica Gardenberg, todos os personagens são lidos delicadamente. Como se não bastasse esse carinho em tempos de leituras dinâmicas, o longa ainda tem uma trilha sonora deliciosa. Destaque pra cena em que o músico Jaloo relê a música “Amor Marginal” de Johnny Hooker. Filmaço, aço, aço.