Faro na web

Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
As NOVAS vozes da cena musical brasileira contemporânea
Continua após publicidade

Marielle, PRESENTE.

Quiseram enterrá-la mas "eles" não sabiam que ela era semente.

Por Fabiane Pereira
Atualizado em 16 mar 2018, 20h38 - Publicado em 16 mar 2018, 19h07
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Estou atrasada. Eu sei. Não consegui entregar a coluna da semana passada porque fui “atropelada” pelo Festival FARO e a desta semana deveria ter sido publicada quarta e, hoje já é sexta. Mas mais atrasado do que eu está meu país. Enquanto boa parte do mundo está em 2018, o Brasil caminha a passos largos para 1968. Sou parte de uma geração mimada pela percepção histórica de que o retrocesso fazia parte de um passado distante e que o mundo rumaria para um futuro próspero e afetuoso.

    Antes que algum leitor desatento comece a se/me questionar sobre a temática desta coluna, ratifico que este é um espaço (nobre) para se promover a nova música brasileira. Mas pergunto sinceramente: alguém está conseguindo escrever, pensar ou falar de qualquer outro assunto que não seja a execução sumária da quinta vereadora  mais votada na cidade do Rio de Janeiro nas últimas eleições??

    Não cabe a mim lembrar você, caro leitor, de nada. Já temos muitas coisas pra lembrar e tantas outras pra esquecer. Mas num momento em que a memória coletiva parece sofrer do mais alto grau de Alzheimer, preciso lembrar que quem faz arte, faz política. Por isso, uso este espaço para expressar toda minha indignação pela falência completa do Estado do Rio de Janeiro.

    Marielle Franco, mulher, negra, nascida e criada na Maré, socióloga, mestre em administração pública, defensora dos direitos humanos, foi eleita tendo como bandeiras o feminismo, o combate ao racismo e a violência policial. Ela representava diretamente 46.502 pessoas (eu entre elas). Fora outras milhares indiretamente que, infelizmente, nem se davam conta. Em fevereiro havia sido nomeada relatora da Comissão da Câmara de Vereadores do Rio criada para acompanhar a intervenção federal – que nos foi imposta – na segurança pública do Estado. Desde que assumiu seu cargo na Câmara, ela denunciava abusos de policiais do batalhão que mais letal do Estado do Rio. Na última quarta, ela foi silenciada pra sempre.

    Ato contra assassinato da vereadora Marielle Franco na Cinelândia
    (Saulo Guimarães/Veja Rio)
    Continua após a publicidade

    Com seu brutal assassinato, a realidade se impõe com a certeza de que nada será como antes. Ontem, milhares de pessoas (mais uma vez, eu entre elas) ocuparam as ruas das principais capitais do país para se despedir de Marielle e para mostrar que a época do horror já passou e nada irá nos calar. Quiseram enterrar Marielle mas “eles” não sabiam que ela era semente.

    Como escreveu a economista e professora da USP, Laura Carvalho, em suas redes sociais: “não é possível viver em um lugar em que não se pode nem ter a esperança de renovação dessa política podre pela via institucional sem que ela seja literalmente assassinada. É a bárbarie“.  Replico aqui a última pergunta de Marielle num post em sua conta do twitter: “Quantos mais vão precisar morrer para que essa guerra acabe?”

    Por fim, pra não me acusarem de desviar a temática desta coluna semanal, faço meus os versos de Caetano Veloso em “Podres Poderes”:

    Continua após a publicidade

    Será que nunca faremos senão confirmar / A incompetência da América católica / Que sempre precisará de ridículos tiranos? / Será, será que será que será que será / Será que essa minha estúpida retórica / Terá que soar, terá que se ouvir / Por mais zil anos?

     

    Publicidade
    Publicidade

    Essa é uma matéria fechada para assinantes.
    Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

    Semana Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    Impressa + Digital no App
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital no App

    Informação de qualidade e confiável, a apenas um clique.

    Assinando Veja você recebe mensalmente Veja Rio* e tem acesso ilimitado ao site e às edições digitais nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.
    *Para assinantes da cidade de Rio de Janeiro

    a partir de 35,60/mês

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.