Como centenas de mães à cata de um programa com os filhos pequenos, comprei ingressos antecipados para visitar o novo aquário do Rio de Janeiro.
Apesar dos conluios espúrios que parecem ter se armado para realizar as obras no Centro, sinto prazer quando caminho pela nova Zona Portuária, olho a Gamboa livre do horror da perimetral e cruzo a Praça Mauá em direção aos antigos armazéns.
O AquaRio, no entanto, revela um caráter novo-rico que me desagrada nessa reforma. Não precisava. Ainda mais depois da notícia de que o zoológico da Quinta está à míngua. Que resposta daria o velho elefante à estrela-do-mar, se ela lhe perguntasse que futuro a espera?
Eu me lembro das visitas que costumava fazer ao Planetário da Gávea, quando meu filho mais velho ainda era pequeno. Hoje, ele tem 17 anos, mas aprendeu tudo o que sabe sobre o movimento das marés, as fases da lua, o sistema solar, o solstício e o equinócio ali, no museu interativo da entrada. Não consegui repetir a experiência com o mais novo. Bastaram oito anos para o equipamento sem manutenção virar sucata.
Mas o que é uma traquitana emperrada, se comparada a um animal esquecido? Com a crise que afeta os setores público e privado, eu me pergunto se será possível manter o custeio, a longo prazo, de um aquário complexo como aquele. Temo pelo tubarão, por arraias, moreias e baiacus.
Entre o anúncio de que o Rio sediaria a Olimpíada e a realização dos Jogos, a cidade foi agraciada com uma lista de novos museus. O da Imagem e do Som não ficou pronto a tempo de gozar o período das vacas gordas. O Museu do Amanhã, se tudo falhar, vinga como espaço aberto. Se seguir o exemplo costumeiro, as chances são poucas de conservar intacto seu arsenal de pixels. Assim como a do MAR, a agenda do Amanhã é de responsabilidade de uma fundação privada. Rezo para que ela tenha fôlego para geri-los em meio à tormenta.
Mas e esse aquário? Terá o mesmo destino do Planetário, da Cidade das Artes, da árvore de natal da Lagoa e do teleférico do Alemão? Um brinquedo caro que, depois de passada a euforia das filas que dobram o quarteirão, conhecerá o ostracismo até fechar as portas?
As crianças gostam, os adultos também, mas, me perdoem a sinceridade, existe algo de trágico no aquário do Rio. Ele foi projetado para uma realidade que não aconteceu
Ainda prefiro um bom banho de mar, apesar das praias tão poluídas. Outro dia fui até o Posto 6, na Barra, que sempre foi limpo, mas desisti. A água exibia o mesmo tom marrom-cocô da do Flamengo. Eu trocaria dez tanques do AquaRio por uma estação de tratamento de esgoto na Baía de Guanabara. As tartarugas estão lá, assim como os golfinhos, que ainda resistem, e os cardumes de peixe, à espera de salvação.
Vale a pena a visita, não escrevo aqui para gorar o prazer de ninguém. Durante a semana, pretendo voltar para fazer a visita guiada, com biólogos que instruem e permitem à criançada tocar nos peixes. Está tudo benfeito e tinindo de novo.
Mas que esse aquário é estapafúrdio, isso ele é.