Megahair
Esse é um assunto indigno de começar o ano, eu sei. A virada de janeiro merece mais, me perdoem, mas abro 2012 com um tema besta, besta, besta: megahair. Costumo cruzar com inúmeras cabeleiras cabeludas descabeladas durante as festas de réveillon. Nada mais exuberante do que balançar bela crina, sinal de hormônios, beleza e fertilidade. […]
Esse é um assunto indigno de começar o ano, eu sei. A virada de janeiro merece mais, me perdoem, mas abro 2012 com um tema besta, besta, besta: megahair.
Costumo cruzar com inúmeras cabeleiras cabeludas descabeladas durante as festas de réveillon. Nada mais exuberante do que balançar bela crina, sinal de hormônios, beleza e fertilidade. Mas a quantidade de cachos alheios pendurados no cocuruto da mulherada me desconcerta a visão.
Se reparo na incompatibilidade entre o número de fios e o tamanho do crânio, paro de prestar atenção na conversa e dirijo o olhar para os ombros. Lá, invariavelmente, encontro as melenas tratadas descoladas do resto do corpo.
Como em um desenho engana olho, uma vez constatada a fraude é impossível retornar à impressão original do conjunto. As madeixas, antes tão atraentes, ganham um estranho aspecto de cachecol de pelos preso à nuca.
“Como será essa mulher sem o implante de Lady Godiva?”, costumo pensar. E quem será a dona do excedente capilar?
Suspension of disbelief é uma expressão em inglês usada para definir a sensação de se deixar levar por uma obra de ficção. Um megahair medíocre destrói a suspensão da descrença.
A atriz pode, com o perdão do trocadilho, se descabelar pela perda do pai, pela morte do avô e pela calúnia do primo, mas, se percebo a falsidade dos caracóis de seus cabelos, me torno indiferente às lágrimas. Dali para a frente, todo ato soa a vaidade.
Eu adoro perucas, extensões e bigodes. São artifícios extraordinários, capazes de convencer o próprio ator de que nasceu para o papel. Klaus Maria Brandauer impõe seu maquiador por contrato. Martín Macías Trujillo é um mexicano residente no Brasil que tem o dom da caracterização sutil. Tê-lo ao lado é uma vantagem inaudita.
Mas os megahairs da atualidade nada têm a ver com o trabalho do Martín nem com as ambições de Brandauer. Eles existem em série, padronizados, cascatas enroladas no babyliss a cair pelos braços de matronas e virgens, pobres e ricas, gordas e magras.
Um aplique exagerado me afasta da interlocutora tanto quanto uma testa imexível, uma boca que não lhe pertence e um par de sobrancelhas arqueadas à Carequinha.
Envelhecer não é fácil.
Eu, já, já, entro na zona do agrião dos 50. Meu cabelo anda caindo, passo creme dia e noite e já não posso ser fotografada sem uma boa luz de frente.
Para as mais corajosas, a cirurgia é opção; mas faça e saia do país por um ano, até a pele assentar. O preenchimento dos vincos, a julgar pela profusão de bocas infladas, é um vício perigoso, difícil de largar. O Botox, outro. A meia peruca não é nada se comparada às intervenções cutâneas, mas ela faz parte da mesma fôrma da garota de 20, almejada por fêmeas de 0 a 80.
Bizarras Barbies.
Não quero julgar ninguém, eu mesma não sei que escolhas farei. Tendo a seguir minha mãe, que aguentou firme com bons resultados.
As Panteras não tinham peito. Hoje, seria inconcebível uma tábua como Farrah Fawcett ser escalada para o papel de felina-mor. A cabelama é tão sedutora quanto um peitão de silicone, e não é preciso bisturi para implantá-la. Virou obrigação.
Deus me ajude a lidar com tantas próteses.