Fui ao ato de apoio ao Theatro Municipal, que aconteceu na Cinelândia, no último dia 9. A orquestra brindou os presentes com a Nona, de Beethoven; Aleluia, de Händel; e Cidade Maravilhosa, de André Filho. Ana Botafogo falou em nome do quadro de funcionários, chamando atenção para a situação calamitosa em que se encontra o teatro.
Foi de chorar.
Deixei meu quilo de alimento não perecível, recolhido para ajudar no sustento dos que trabalham na casa, e, na hora de sair, ainda na escadaria, fui abordada por um grupo de servidoras da Secretaria de Saúde, que pediu ideias para realizar um ato semelhante, em desagravo ao abandono dos hospitais públicos do município.
Indignadas, elas repetiam que ambos os Sérgios, Cabral e Côrtes, deveriam ser responsabilizados pelas mortes e aleijamentos que provocaram.
Não dei dois passos, um servidor do setor de Cultura do município veio conversar sobre a situação da Biblioteca Nacional, detentora de um arquivo inestimável da memória brasileira, que apodrece, neste momento, em salas sem ar condicionado.
Parecia o Muro das Lamentações. Terra arrasada pela política do desvio e do desgoverno.
Apesar do dia lindo de maio, o sentimento geral era de perplexidade e revolta. Gritos de “Fora Temer” e “Fora Pezão” explodiam sem partido e sem comando, em meio à multidão que se amontoou na Cinelândia.
Longe dali, naquela mesma manhã, moradores da Vila Cruzeiro receberam ordem para não deixar sua casa. Ricardo, que secretaria minha produtora de teatro, ligou para avisar que um tiroteio comia solto do lado de fora de sua casa, mas que ele ainda tinha esperança de que a situação se normalizasse a tempo de ele ir trabalhar.
Triste rotina.
O Rio de Janeiro é a Geni do Brasil. Políticos e juristas usam a cidade como exemplo para o que pode vir a acontecer em outros estados. É verdade: faz tempo, elegemos corsários para nos roubar. Mas a Guanabara não difere do resto da República. Ela é a vitrine, o mostruário macabro, do que se faz por aí.
É impossível não sentir ódio de Sérgio Cabral. Sempre ouvi falar do viés corrupto do ex-governador, mas, depois de quase uma década de Anthony Garotinho, achei que a mudança seria proveitosa. Ledo engano.
Anos atrás, compareci a um encontro entre artistas e Marcelo Freixo, que se candidatava à prefeitura da cidade. Naquela noite, o deputado mencionou o desmonte das instituições públicas e o perigo das políticas público-privadas sem licitação, como as OSs, que facilitavam as falcatruas.
Havia representantes de OSs sérias no encontro, que se manifestaram em favor do modelo. Depois de perecer nas mãos do populismo tacanho, eu acreditava que a iniciativa privada pudesse ajudar o Rio a se mover. Hoje, entendo o que Freixo estava falando.
O problema é que não importa se é público ou privado, a ladroagem sempre acha uma brecha.
Enquanto essa canalha sua para perpetuar as put…ias, para citar Sérgio Côrtes, a morte leva Belchior, Antônio Cândido e Nelson Xavier. Me explica, Deus, por que só parte quem presta?