Fernanda Torres

Por Blog Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Blog da atriz Fernanda Torres
Continua após publicidade

QI

Leia na crônica de Fernanda Torres

Por Fernanda Torres
Atualizado em 25 fev 2017, 17h13 - Publicado em 23 fev 2017, 21h17
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Uma amiga postou o teste de QI dela no Facebook, esfregando na cara do resto da humanidade a nota pra lá de cento e muitos que havia tirado. Mordi a isca e resolvi arriscar. Estava nos últimos dias de férias, com tempo para perder tempo.

    Eram mais de sessenta charadas abstratas, com triângulos, quadrados, linhas e cinco opções de resposta, de A a E. Na vigésima, eu já estava fundindo os miolos. Desisti no meio, mas fui dormir com aquilo atravessado na goela. Dois dias depois, esperando dar a hora de ir para o aeroporto, selecionei um outro, de Harvard, ao qual procurei me dedicar com afinco.

    Esse, mais concreto, se concentrava em perguntas lógicas do tipo: se nem todo beltrano é igual a fulano e todo fulano é igual a sicrano, pode-se dizer que nem todo beltrano é igual a sicrano, que todo sicrano é igual a beltrano, que fulano e sicrano são iguais a beltrano? E por aí vai. Outras envolviam cálculos matemáticos, como o da desgraça de um poste dividido em três partes, em que a primeira parte é igual ao quarto da segunda menos a terça parte da terceira. Tirei vexaminosos 107. Mosquei nas pegadinhas e só me saí bem nas poucas questões de letras embaralhadas, acertando com rapidez que EIBBZMAW é o nome de um país, ou coisa que o valha. Nessas, fui melhor do que 99,9% dos que se submeteram ao teste. Grande coisa…

    Na abertura do site, Barack Obama, Sharon Stone, Quentin Tarantino e outros exemplos bem-sucedidos humilhavam com pontuações acima de 135, 140, enquanto eu desculpava minha pífia marca com o fato de ter feito o teste numa língua estrangeira.

    Vil consolo.

    Continua após a publicidade

    A verdade é que não disponho de raciocínio lógico, admito. Jamais cheguei a compreender deveras a matemática, a física, e devo muito à decoreba. Sou limitada. Meu filho mais velho nasceu com o dom para números e entende aquelas questões cabeludas de aritmética, álgebra e geometria com um pé nas costas. Já minha mãe não acerta nem a direção de casa. O gene dele, é certo, não veio de mim.

    Ando com ganas de repetir o teste — outro, porque não se pode refazer o mesmo. Deve-se aceitar o mau rendimento com a resignação de um condenado, mas o orgulho ferido insiste em me tentar, freado pelo receio de comprovar a burrice. Ser ou não ser tapado, eis a questão.

    Pode ser que eu me saia melhor no teste de QI emocional, mas os arroubos de impaciência, a falta de altruísmo, a preguiça e a irritação talvez confirmem a mesma inaptidão que demonstrei no de raciocínio. E agora, José? Meto a viola no saco e dou por encerrado o assunto? Tomo todas e me perco no Carnaval carioca, mandando esses cientistas para o raio que os parta? Ou não?

    Continua após a publicidade

    Não. Repeti a arguição em português, não resisti. Tirei 136. Jogarei os humilhantes 107 na lata de lixo da história.

    O ser humano não tem nenhum caráter.

    Publicidade

    Publicidade

    Essa é uma matéria fechada para assinantes.
    Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

    Semana Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    Impressa + Digital no App
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital no App

    Informação de qualidade e confiável, a apenas um clique.

    Assinando Veja você recebe mensalmente Veja Rio* e tem acesso ilimitado ao site e às edições digitais nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.
    *Para assinantes da cidade de Rio de Janeiro

    a partir de 35,60/mês

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.