A MedRio Check Up está comemorando 30 anos de funcionamento. Para marcar efeméride tão importante, criamos uma agenda de “Encontros Científicos com a Prevenção”, que acontecem uma vez por mês, abordando diferentes especialidades médicas. Neste mês de maio, o convidado foi o psiquiatra Ricardo Braga.
Boa leitura! – Gilberto Ururahy
Saúde mental em tempos de pandemia
Depois de quase 15 meses, a pandemia já ultrapassou todos os tempos de resistência ao estresse. A afirmação é do psiquiatra Ricardo Braga. Graduado e Pós-Graduado pela UFRJ, com especialização em Psicoterapia individual, casal e família e especializado em Psiquiatria do Estresse, Braga ressalta que vivemos uma universalidade do transtorno mental na atualidade. “O normal hoje é estar transtornado”, afirma.
Conversamos com Ricardo Braga sobre este e outros assuntos:
O que é o estresse?
O estresse é o conjunto de respostas físicas e mentais causadas por determinados estímulos (estressores) que permitem ao indivíduo superar determinadas exigências do meio ambiente. O estresse faz parte da vida do ser humano em todas as suas etapas. No nascimento há o estresse de se separar da mãe. Na juventude, os desafios escolares. Na fase adulta, as questões de trabalho e de vida amorosa.
E o que é a Psiquiatria do Estresse?
É uma abordagem que entende a doença como uma reação a um estilo de vida. O mal radical não está nem do lado de fora nem do lado de dentro e sim nos desencontros ou mal encontros.
Quando é que o estresse causa adoecimento?
O estresse causa sofrimento físico ou psíquico dependendo da duração, da intensidade da ameaça e da resposta do indivíduo ao problema. A pandemia justamente desafia esses três pontos: a duração é longa, a intensidade é máxima e não há respostas individuais. Tudo isso leva ao adoecimento que se chama Transtorno do Estresse Agudo, com consequências físicas como hipertensão, sedentarismo, obesidade, problemas de pele, diabetes, entre outros, todos problemas de saúde causados pelo estresse de longo prazo.
E como a mente reage?
Há a fase da resistência e a fase da exaustão, em consequência da falta de adaptação e da falta de resiliência. A pandemia, para todas as subjetividades, já ultrapassou todos os tempos de resistência ao estresse. O que acaba acontecendo é que o sujeito sofre das hiperexcitabilidades. Transtorno traumático, transtorno de estresse e estresse pós-traumático são semelhantes nos sinais e sintomas, com a diferença que no pós-traumático continua se vivendo o susto do inesperado mesmo na ausência do susto inicial. O fator de estresse continua. O medo, ainda hoje, reverbera nas pessoas vacinadas. Os sustos continuam e continuarão. O normal hoje é estar transtornado.
Quais são os principais sinais da hiperexcitabilidade?
Os principais são ansiedade, medo, raiva, impulsividade, dificuldade de atenção e alterações de sono. São reações que podem ser consideradas normais em situações em que o ser humano se vê em perigo, mas que diante de uma pandemia se transformam em transtornos mentais.
Quais, por exemplo?
Transtorno de ansiedade, de pânico, depressivo, bipolar, de fobia social, de controle de impulsos, psicóticos ou transtorno de uso de substâncias. O fato é que as pessoas estão tendo dificuldades em resolverem seus problemas. Além da pandemia, tem desemprego, crise familiar ou no casamento, na escola ou na faculdade. Não podemos desconsiderar que as pessoas já encontravam dificuldades anteriores à pandemia, ela agravou e potencializou situações de tensão na vida de todos.
Qual o perigo de ciclo?
A consequência é que as pessoas se automedicam e abusam de tranquilizantes, de bebidas alcoólicas e drogas. São substâncias que lançam dopamina no sistema de recompensa cerebral e passam a ser percebidas como prazer. O sujeito aprende que aquela substância psicoativa dá prazer e quanto mais ele usa, mais o cérebro faz uma sensibilização do circuito de modo que os neurônios se tornam mais sensíveis àquele estímulo, causando euforia. Com o passar do tempo, aquela quantidade de substância não atende mais e dispara os mesmos gatilhos do estresse. Cria-se um ciclo nocivo na vida do paciente, levando-o à dependência.
Como evitar isso?
As melhores ferramentas são diagnóstico precoce, evitar a automedicação, procurar um especialista, fazer uma psicoterapia adequada ao problema que cada pessoa tenha (focal, cognitivo-comportamental, breve, de família, de casal, psicanálise, são muitas opções), check-up médico (para saber se tem problema de tireoide ou outros problemas que simulam depressão).